Monday, May 23, 2016

Castigo à ineficiência


Pedro J. Bondaczuk


A inflação continua, mais do que nunca, sendo tema da ordem do dia, com a admissão, por parte da ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, de que a taxa do corrente mês será maior do que os 12,76% de setembro. Como o presidente Fernando Collor reiterou, e em duas oportunidades diferentes, anteontem, o combate a esse mal econômico continua sendo a prioridade número um do seu governo.

É de se prever, portanto, muita dificuldade para todos neste fim de ano e princípios de 1991. Atualmente, está se verificando uma onda de falências e concordatas pelo País afora, atingindo até mesmo empresas tidas e havidas como absolutamente sólidas.

Isto, todavia, não sensibilizou o Planalto, no sentido de afrouxar o arrocho monetário. E nem poderia. Seria uma enorme incoerência --- que se verificou nos planos anteriores, Cruzados I e II e Verão --- se após tantos sacrifícios, o Brasil desse a batalha por perdida.

Afinal, esta guerra não é somente do presidente, da ministra Zélia ou de meia dúzia de economistas. É da competência geral. As autoridades, inclusive, anunciaram que ela vai prosseguir até que a inflação esteja extinta. Collor disse, com toda a clareza, que se o preço para vencer o monstro inflacionário for a quebra de algumas empresas "ineficientes e mal administradas", ele está disposto a pagar esse custo.

Ainda há determinados homens de negócio que não entenderam que, principalmente em épocas de crise, é preferível, prudente, sensato e até mesmo questão de sobrevivência, vender mais por menos do que efetuar raríssimas e cada vez mais escassas transações cobrando uma exorbitância.

Bom seria se os representantes dos diferentes setores que estão participando de conversações para a obtenção de um "entendimento nacional" deixassem de lado questiúnculas meramente formais e partissem para os temas de substância; parassem de discutir o "sexo dos anjos" e entendessem que o pacto que se procura é o da divisão equitativa de perdas e não de lucros.

Precisam, e depressa, cair na realidade. As coisas ficariam muito mais fáceis se a cultura inflacionária, alimentada ao longo de três décadas, fosse substituída o quanto antes pela sadia mentalidade da livre concorrência, da predominância do mais competente, mais sagaz, mais organizado.

O presidente da White Martins, Felix de Bulhões, definiu bem o processo atual ao dizer: "As falências e concordatas vão purificar o sistema, pois são uma conseqüência natural das distorções causadas por empresas sem mercado e sem produtividade". E alertou: "A recessão apenas está começando e continuará se agravando até a metade de 1991".

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 31 de outubro de 1990).


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