Castigo à ineficiência
Pedro J. Bondaczuk
A
inflação continua, mais do que nunca, sendo tema da ordem do dia, com a
admissão, por parte da ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, de que a
taxa do corrente mês será maior do que os 12,76% de setembro. Como o presidente
Fernando Collor reiterou, e em duas oportunidades diferentes, anteontem, o
combate a esse mal econômico continua sendo a prioridade número um do seu
governo.
É
de se prever, portanto, muita dificuldade para todos neste fim de ano e
princípios de 1991. Atualmente, está se verificando uma onda de falências e
concordatas pelo País afora, atingindo até mesmo empresas tidas e havidas como
absolutamente sólidas.
Isto,
todavia, não sensibilizou o Planalto, no sentido de afrouxar o arrocho monetário.
E nem poderia. Seria uma enorme incoerência --- que se verificou nos planos
anteriores, Cruzados I e II e Verão --- se após tantos sacrifícios, o Brasil
desse a batalha por perdida.
Afinal,
esta guerra não é somente do presidente, da ministra Zélia ou de meia dúzia de
economistas. É da competência geral. As autoridades, inclusive, anunciaram que
ela vai prosseguir até que a inflação esteja extinta. Collor disse, com toda a
clareza, que se o preço para vencer o monstro inflacionário for a quebra de
algumas empresas "ineficientes e mal administradas", ele está
disposto a pagar esse custo.
Ainda
há determinados homens de negócio que não entenderam que, principalmente em
épocas de crise, é preferível, prudente, sensato e até mesmo questão de
sobrevivência, vender mais por menos do que efetuar raríssimas e cada vez mais
escassas transações cobrando uma exorbitância.
Bom
seria se os representantes dos diferentes setores que estão participando de
conversações para a obtenção de um "entendimento nacional" deixassem
de lado questiúnculas meramente formais e partissem para os temas de
substância; parassem de discutir o "sexo dos anjos" e entendessem que
o pacto que se procura é o da divisão equitativa de perdas e não de lucros.
Precisam,
e depressa, cair na realidade. As coisas ficariam muito mais fáceis se a
cultura inflacionária, alimentada ao longo de três décadas, fosse substituída o
quanto antes pela sadia mentalidade da livre concorrência, da predominância do
mais competente, mais sagaz, mais organizado.
O
presidente da White Martins, Felix de Bulhões, definiu bem o processo atual ao
dizer: "As falências e concordatas vão purificar o sistema, pois são uma
conseqüência natural das distorções causadas por empresas sem mercado e sem
produtividade". E alertou: "A recessão apenas está começando e
continuará se agravando até a metade de 1991".
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 31 de outubro de 1990).
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