Wednesday, May 18, 2016

Prato cheio para a oposição



Pedro J. Bondaczuk


A guerra fria, ou seja, o estado de beligerância entre as superpotências, caracterizado por acusações e ataques mútuos e um estado de má vontade recíproca, está atingindo o seu auge, desde os tempos em que John Forster Dulles era o secretário de Estado norte-americano e Nikita Kruschev o líder soviético, na década de 50.

De um lado o Pravda, órgão oficial do PC russo, dirige sua bateria de críticas às recém-findas Olimpíadas de Los Angeles, procurando denegrir um acontecimento esportivo que, se não foi perfeito, pelo menos não teve qualquer incidente, nem quanto à segurança e muito menos sobre o seu resultado, a deslustra-lo.

Por outro lado, no “relax” de suas férias, em Santa Bárbara, na Califórnia, às vésperas de iniciar a dura maratona da sua campanha eleitoral, o presidente norte-americano, Ronald Reagan, cometeu uma gafe incrível, ao fazer uma brincadeira inoportuna, durante os testes de uma aparelhagem de som, antes da transmissão de um discurso a estudantes universitários envolvendo os soviéticos.

É claro que suas palavras não passaram de mera pilhéria, que deveria ficar restrita, somente, a um pequeno círculo de colaboradores, mas que acabou vazando e causando mal-estar desnecessário em diversas áreas governamentais e diplomáticas.

A piadinha de Reagan, afirmando que acabara de assinar decreto para que a União Soviética fosse destruída, revela, no mínimo, uma subconsciente intenção de cometer esse ato, cuja recíproca, sem dúvida, é compartilhada pelo Cremlin.

Neste período pré-eleitoral, com os democratas em plena campanha sucessória (os republicanos realizam a sua convenção apenas no dia 23 deste mês), a descuidada brincadeira será, sem dúvida, explorada hábil.mente por Walter Mondale. O próprio fato da pilhéria não ter ficado restrito aos círculos governamentais, revela que muita gente ao redor do atual presidente gostaria de ver Reagan fora da Casa Branca.

O lamentável, nos dois episódios que mencionamos, é que caminhamos muitos passos para trás quanto a uma sonhada, e cada vez mais distante, distensão. Dos ataques verbais, a represálias (através de prepostos, é lógico) em alguma região explosiva da África, Ásia, Oriente Médio ou América Latina, é só um passo.

Dessa maneira, povos inocentes, que vivem problemas institucionais internos, acabam servindo de instrumentos úteis para que as superpotências troquem as suas pirraças, façam suas más-criações e se hostilizem, mesmo que tais briguinhas redundem em mortes, destruição e sofrimento para quem não tem nada a ver com isso.    

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 14 de agosto de 1984)


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