Prato
cheio para a oposição
Pedro J. Bondaczuk
A guerra fria, ou seja, o estado de beligerância
entre as superpotências, caracterizado por acusações e ataques mútuos e um
estado de má vontade recíproca, está atingindo o seu auge, desde os tempos em
que John Forster Dulles era o secretário de Estado norte-americano e Nikita
Kruschev o líder soviético, na década de 50.
De um lado o Pravda, órgão oficial do PC russo,
dirige sua bateria de críticas às recém-findas Olimpíadas de Los Angeles,
procurando denegrir um acontecimento esportivo que, se não foi perfeito, pelo
menos não teve qualquer incidente, nem quanto à segurança e muito menos sobre o
seu resultado, a deslustra-lo.
Por outro lado, no “relax” de suas férias, em Santa
Bárbara, na Califórnia, às vésperas de iniciar a dura maratona da sua campanha
eleitoral, o presidente norte-americano, Ronald Reagan, cometeu uma gafe
incrível, ao fazer uma brincadeira inoportuna, durante os testes de uma
aparelhagem de som, antes da transmissão de um discurso a estudantes
universitários envolvendo os soviéticos.
É claro que suas palavras não passaram de mera
pilhéria, que deveria ficar restrita, somente, a um pequeno círculo de
colaboradores, mas que acabou vazando e causando mal-estar desnecessário em
diversas áreas governamentais e diplomáticas.
A piadinha de Reagan, afirmando que acabara de
assinar decreto para que a União Soviética fosse destruída, revela, no mínimo,
uma subconsciente intenção de cometer esse ato, cuja recíproca, sem dúvida, é
compartilhada pelo Cremlin.
Neste período pré-eleitoral, com os democratas em
plena campanha sucessória (os republicanos realizam a sua convenção apenas no
dia 23 deste mês), a descuidada brincadeira será, sem dúvida, explorada
hábil.mente por Walter Mondale. O próprio fato da pilhéria não ter ficado
restrito aos círculos governamentais, revela que muita gente ao redor do atual
presidente gostaria de ver Reagan fora da Casa Branca.
O lamentável, nos dois episódios que mencionamos, é
que caminhamos muitos passos para trás quanto a uma sonhada, e cada vez mais
distante, distensão. Dos ataques verbais, a represálias (através de prepostos,
é lógico) em alguma região explosiva da África, Ásia, Oriente Médio ou América
Latina, é só um passo.
Dessa maneira, povos inocentes, que vivem problemas
institucionais internos, acabam servindo de instrumentos úteis para que as
superpotências troquem as suas pirraças, façam suas más-criações e se
hostilizem, mesmo que tais briguinhas redundem em mortes, destruição e
sofrimento para quem não tem nada a ver com isso.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 14 de agosto de 1984)
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