Sunday, May 15, 2016

Como tratar o capital externo


Pedro J. Bondaczuk


A economia internacional está, hoje, tão entrelaçada, que se torna muito difícil de se dizer o quê é de quem. Tempos atrás, quando se falava em empresas multinacionais, ou “transnacionais”, imediatamente vinha à mente algum conglomerado norte-americano. Atualmente, companhias de grande porte, autênticos gigantes mundiais, mesmo com sede nos Estados Unidos, têm no seu controle japoneses, sauditas e alemães ocidentais.

Tio Sam perdeu, dessa forma, a hegemonia para o Japão como a maior potência econômica do Planeta. Se isso é um bem ou um mal, os norte-americanos estão agora debatendo acaloradamente. Para o público leigo, os investimentos estrangeiros maciços no país são negativos. Uma pesquisa do Instituto Gallup, a tal respeito, divulgada ontem, mostra que 75% dos entrevistados vêem perigo nisso, inclusive para a segurança nacional.

O cidadão comum, aquele das ruas, educado dentro daquele conceito tradicional de pátria, está, portanto, preocupado com a possibilidade dos capitalistas vindos de fora virem a “comprar” os Estados Unidos. Já os políticos e empresários riem disso. Acham que tais temores são completamente infundados e até ingênuos e que esse suporte de capitais procedentes de fora é sumamente saudável.

Se eles têm razão ou não só o tempo poderá dizer. O fato é que nunca os norte-americanos conheceram tamanha prosperidade quanto agora. Como se vê, os receios populares nesse país não são nada diferentes dos que existem por aqui. A diferença está no pensamento da classe política.

Enquanto a dos Estados Unidos não dá a mínima importância a esse dato e chega a considerar o processo bastante saudável, abrindo espaços até para que ele se amplie, a do Brasil “quebra a cabeça” para inventar expedientes protecionistas, como se fosse possível haver um capitalismo sem capitais.

Essa atitude xenófoba, imprópria para os tempos em que vivemos, atrapalha bastante o nosso desenvolvimento, impedindo que sejam gerados 2 milhões de novos empregos anuais que necessitamos vitalmente para a nossa sobrevivência.

O Planeta que já “encolheu” com o avanço nas comunicações, caso não dê uma pane na cabeça dos líderes das superpotências e eles não deflagrem o tão temível holocausto nuclear, tende para o internacionalismo. Para a abolição de fronteiras, se não no terreno político e cultural, pelo menos no campo econômico.

Aliás, esta seria uma forma do chamado Primeiro Mundo socorrer o paupérrimo Terceiro, sem paternalismos e sem doações. De uma maneira digna, transferindo capitais e repartindo um pouco as benesses das riquezas que obteve, em boa parte, convenhamos, às custas dos terceiromundistas. Essa é, portanto, uma questão que deverá ser, cada vez mais, objeto de debates. Cada um que tire suas próprias conclusões.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 10 de março de 1989).


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