Monday, May 09, 2016

O que falta são ações



Pedro J. Bondaczuk


Os líderes das superpotências, em discursos separados, feitos em Washington e Moscou, ontem, apresentaram suas visões pessoais de mundo e dos problemas que atormentam a humanidade, que não são poucos e que tendem a crescer enquanto não forem encarados com franqueza e atacados com decisão.

O presidente Ronald Reagan, falando aos europeus pelo sistema de televisão Worldnet, da Agência de Informações dos Estados Unidos, não escondeu um certo otimismo ao avaliar a atual situação política internacional, assegurando que o acordo que vai assinar com o dirigente soviético Mikhail Gorbachev, em 7 de dezembro próximo, seria o “início de uma era de grandes mudanças”. E fez um raro reconhecimento à abertura empreendida por seu colega do Leste europeu, na URSS, embora colocando os reparos óbvios a essa ação.

O secretário-geral do PC soviético, por seu turno, manifestou algo que os terceiromundistas sabem muito bem que é verdadeiro (por sentirem isso na própria carne). Disse que os governos ocidentais, no afã de ganharem apoio popular para o militarismo, usam a desculpa permanente e indefectível de um hipotético “perigo vermelho” para impor regimes de força em determinados países-chaves que lhes interesse.

Falou, ainda, das trocas desiguais entre os Estados ricos e pobres, fato que todos estão cansados de saber, mas poucos têm a coragem de denunciar. Como se vê, na essência, as noções de realidade de cada um dos dois líderes mais poderosos do mundo é absolutamente correta.

É claro que tanto um, quanto o outro, procuraram enfatizar os próprios méritos e insinuaram os deméritos do oponente. Daí, não é muito difícil de se concluir (exatamente por essa segunda parte) que ambos são os responsáveis diretos pelo estado deplorável em que se encontra esta nossa nave cósmica natural, ameaçada de todos os lados de não chegar a destino algum, a menos que todos os seus “tripulantes” passem a agir em bases cooperativas e não através do expediente da selva: mediante a lei do mais forte.

Reagan assinalou isso, ao dizer: “Nós, todos os povos do planeta, podemos moldar o mundo em que vivemos e determinar o futuro”. Gorbachev, por seu turno, alertou para as peculiaridades da Era Nuclear, que colocou “em primeiro plano a questão da própria sobrevivência humana”.

Resta, pois, que ambos deixem, afinal, o terreno movediço das palavras e passem para a etapa concreta: a das ações. Nas mãos deles está empenhado todo o nosso futuro e a nossa própria possibilidade de sobreviver.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 5 de novembro de 1987)


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk       

No comments: