O
que falta são ações
Pedro J. Bondaczuk
Os líderes das superpotências, em discursos
separados, feitos em Washington e Moscou, ontem, apresentaram suas visões
pessoais de mundo e dos problemas que atormentam a humanidade, que não são
poucos e que tendem a crescer enquanto não forem encarados com franqueza e
atacados com decisão.
O presidente Ronald Reagan, falando aos europeus
pelo sistema de televisão Worldnet, da Agência de Informações dos Estados
Unidos, não escondeu um certo otimismo ao avaliar a atual situação política
internacional, assegurando que o acordo que vai assinar com o dirigente
soviético Mikhail Gorbachev, em 7 de dezembro próximo, seria o “início de uma
era de grandes mudanças”. E fez um raro reconhecimento à abertura empreendida
por seu colega do Leste europeu, na URSS, embora colocando os reparos óbvios a
essa ação.
O secretário-geral do PC soviético, por seu turno,
manifestou algo que os terceiromundistas sabem muito bem que é verdadeiro (por
sentirem isso na própria carne). Disse que os governos ocidentais, no afã de
ganharem apoio popular para o militarismo, usam a desculpa permanente e
indefectível de um hipotético “perigo vermelho” para impor regimes de força em
determinados países-chaves que lhes interesse.
Falou, ainda, das trocas desiguais entre os Estados
ricos e pobres, fato que todos estão cansados de saber, mas poucos têm a
coragem de denunciar. Como se vê, na essência, as noções de realidade de cada
um dos dois líderes mais poderosos do mundo é absolutamente correta.
É claro que tanto um, quanto o outro, procuraram
enfatizar os próprios méritos e insinuaram os deméritos do oponente. Daí, não é
muito difícil de se concluir (exatamente por essa segunda parte) que ambos são
os responsáveis diretos pelo estado deplorável em que se encontra esta nossa
nave cósmica natural, ameaçada de todos os lados de não chegar a destino algum,
a menos que todos os seus “tripulantes” passem a agir em bases cooperativas e
não através do expediente da selva: mediante a lei do mais forte.
Reagan assinalou isso, ao dizer: “Nós, todos os
povos do planeta, podemos moldar o mundo em que vivemos e determinar o futuro”.
Gorbachev, por seu turno, alertou para as peculiaridades da Era Nuclear, que
colocou “em primeiro plano a questão da própria sobrevivência humana”.
Resta, pois, que ambos deixem, afinal, o terreno
movediço das palavras e passem para a etapa concreta: a das ações. Nas mãos
deles está empenhado todo o nosso futuro e a nossa própria possibilidade de
sobreviver.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 5 de novembro de 1987)
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