As maiores inimigas do
homem
Pedro
J. Bondaczuk
As várias epidemias que
assolaram os povos, desde tempos imemoriais que remontam aos homens das
cavernas, sempre foram e continuam sendo as maiores inimigas da espécie humana.
Já foram responsáveis pelas mortes de mais pessoas, ao longo de milênios (em
pelo menos doze mil anos), do que todas as guerras, todos os homicídios, todos
os acidentes e todas as catástrofes naturais (terremotos, tsunamis, vulcões
etc.etc.etc.) somados. É impossível de estimar, sequer com ínfimo grau de
aproximação, quantas foram essas vítimas. Certamente, porém, ascendem (e sem
nenhum exagero) a alguns bilhões. Foram inúmeras as ocasiões em que nossa
espécie esteve a pique de ser extinta, de desaparecer de vez, em decorrência de
alguma epidemia: de peste bubônica, de cólera, de lepra, de varíola, de febre
amarela, de tifo e vai por aí afora.
Mesmo neste século XXI,
com todos os avanços da Medicina e das demais ciências biológicas, a humanidade
não está a salvo dessa ameaça, tanto das velhas doenças, praticamente sob
controle (algumas até erradicadas ou em vias de erradicação, mas que podem, por
algum motivo, ressurgir) quanto das novas, como a Aids, o ebola, o hantavírus,
as gripes aviária e suína e vai por aí afora. E das que eventualmente possam
ainda aparecer. Pode-se afirmar, sem riscos de exagero, que a espécie humana só
não foi eliminada por completo do Planeta por puro acaso (ou, como crêem os
religiosos, por providencial intervenção divina, mas não entro nessa seara,
deixando tal conclusão por conta exclusiva das convicções pessoais de cada um).
O fato é que essa possibilidade sempre existiu (e ainda existe).
No passado, pelo menos
até meados do século XIX, houve esse risco pelo fato de ninguém sequer
desconfiar do que causava essas doenças epidêmicas, já que até tempo
relativamente recente, não se tinha noção nem mesmo da existência de vírus e de
bactérias. Atualmente, o perigo está no fato do aparecimento (ou da
manifestação) de agentes patogênicos se não novos pelo menos até não muito
desconhecidos, muitos dos quais já eram do conhecimento dos cientistas, mas que
estavam restritos às florestas que, com sua devastação, estão migrando para
zonas urbanas e volta e meia surpreendendo os infectologistas.
Reitero que minha
proposta, como informei em textos anteriores, não é a de empreender estudo
científico sobre causas e conseqüências dessas epidemias, pois, embora me
interesse obviamente pelo assunto (caso contrário não escreveria sobre ele),
não sou especializado nessa área. A tarefa a que me impus, e por sugestão de
leitores, é a de “comentar” como alguns escritores trataram essa questão. Claro
que, por razões que até prescindem de explicações, muitos serão omitidos.
Afinal, foram tantos os que escreveram sobre as diversas epidemias que, por
mais rica que fosse minha biblioteca, e por maior que fosse minha
disponibilidade de tempo para leitura e para a análise dos tantos livros que há
a respeito (cuja quantidade ascende aos milhares), eu certamente precisaria de
uma vida no mínimo dez vezes mais extensa do que a tida e havida hoje como
“normal” para tratar de considerável parcela dessas ocorrências.
Muitos observaram que
até aqui tratei somente da peste bubônica. E cobram-me para que comente livros
que abordem outras epidemias, como o cólera, a varíola, a febre amarela, a Aids
e vai por aí afora. Calma, pessoal! Na medida do possível, e a seu devido
tempo, tratarei (ou tentarei tratar) dessas outras doenças. Ou, mais
especificamente, de como os vários escritores, de diversas épocas e países,
abordaram, literariamente, tais flagelos. Antes, tenho que localizar esses
livros (muitos dos quais, embora famosos, estão, há muito, esgotados e são
raríssimos). O passo seguinte é lê-los, mas não de forma apressada, em leitura
dinâmica, mas com toda atenção que eles requerem, anotando os principais
tópicos, de sorte a formar opinião a respeito. Não posso comentar aquilo sobre
o que não tenha opinião formada, não é mesmo? E isso requer muito estudo e
reflexão. Só depois disso tudo, vem a fase (não menos complicada, por sinal),
ou seja, a de redação. E esta tem que ser clara, objetiva, simples e,
sobretudo, didática, para que os textos que vier a redigir sejam de algum
proveito para os que me honrarem com sua leitura. Como se vê, é um desafio digno
dos doze trabalhos de Hércules.
O filósofo, historiador
das idéias, teórico social, filólogo e crítico literário Michel Foulcoult
escreveu, em determinado trecho do seu informativo livro “O nascimento da
clínica”: "(...) A epidemia tem uma espécie de individualidade histórica.
Daí a necessidade de usar com ela um método complexo de observação. Fenômeno
coletivo, ela exige um olhar múltiplo; processo único,é preciso descrevê-la no
que tem de singular, acidental e imprevisto (...)". Por isso, antes de voltar
a comentar um outro livro qualquer tratando desses flagelos, julgo
indispensável apresentar um resumo sobre a evolução da compreensão das causas
das epidemias, dos que se propunham a eliminá-las ou mesmo preveni-las, o que
me proponho a fazer na sequência.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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