Wednesday, May 11, 2016

As maiores inimigas do homem 


Pedro J. Bondaczuk

As várias epidemias que assolaram os povos, desde tempos imemoriais que remontam aos homens das cavernas, sempre foram e continuam sendo as maiores inimigas da espécie humana. Já foram responsáveis pelas mortes de mais pessoas, ao longo de milênios (em pelo menos doze mil anos), do que todas as guerras, todos os homicídios, todos os acidentes e todas as catástrofes naturais (terremotos, tsunamis, vulcões etc.etc.etc.) somados. É impossível de estimar, sequer com ínfimo grau de aproximação, quantas foram essas vítimas. Certamente, porém, ascendem (e sem nenhum exagero) a alguns bilhões. Foram inúmeras as ocasiões em que nossa espécie esteve a pique de ser extinta, de desaparecer de vez, em decorrência de alguma epidemia: de peste bubônica, de cólera, de lepra, de varíola, de febre amarela, de tifo e vai por aí afora.

Mesmo neste século XXI, com todos os avanços da Medicina e das demais ciências biológicas, a humanidade não está a salvo dessa ameaça, tanto das velhas doenças, praticamente sob controle (algumas até erradicadas ou em vias de erradicação, mas que podem, por algum motivo, ressurgir) quanto das novas, como a Aids, o ebola, o hantavírus, as gripes aviária e suína e vai por aí afora. E das que eventualmente possam ainda aparecer. Pode-se afirmar, sem riscos de exagero, que a espécie humana só não foi eliminada por completo do Planeta por puro acaso (ou, como crêem os religiosos, por providencial intervenção divina, mas não entro nessa seara, deixando tal conclusão por conta exclusiva das convicções pessoais de cada um). O fato é que essa possibilidade sempre existiu (e ainda existe).

No passado, pelo menos até meados do século XIX, houve esse risco pelo fato de ninguém sequer desconfiar do que causava essas doenças epidêmicas, já que até tempo relativamente recente, não se tinha noção nem mesmo da existência de vírus e de bactérias. Atualmente, o perigo está no fato do aparecimento (ou da manifestação) de agentes patogênicos se não novos pelo menos até não muito desconhecidos, muitos dos quais já eram do conhecimento dos cientistas, mas que estavam restritos às florestas que, com sua devastação, estão migrando para zonas urbanas e volta e meia surpreendendo os infectologistas.

Reitero que minha proposta, como informei em textos anteriores, não é a de empreender estudo científico sobre causas e conseqüências dessas epidemias, pois, embora me interesse obviamente pelo assunto (caso contrário não escreveria sobre ele), não sou especializado nessa área. A tarefa a que me impus, e por sugestão de leitores, é a de “comentar” como alguns escritores trataram essa questão. Claro que, por razões que até prescindem de explicações, muitos serão omitidos. Afinal, foram tantos os que escreveram sobre as diversas epidemias que, por mais rica que fosse minha biblioteca, e por maior que fosse minha disponibilidade de tempo para leitura e para a análise dos tantos livros que há a respeito (cuja quantidade ascende aos milhares), eu certamente precisaria de uma vida no mínimo dez vezes mais extensa do que a tida e havida hoje como “normal” para tratar de considerável parcela dessas ocorrências.

Muitos observaram que até aqui tratei somente da peste bubônica. E cobram-me para que comente livros que abordem outras epidemias, como o cólera, a varíola, a febre amarela, a Aids e vai por aí afora. Calma, pessoal! Na medida do possível, e a seu devido tempo, tratarei (ou tentarei tratar) dessas outras doenças. Ou, mais especificamente, de como os vários escritores, de diversas épocas e países, abordaram, literariamente, tais flagelos. Antes, tenho que localizar esses livros (muitos dos quais, embora famosos, estão, há muito, esgotados e são raríssimos). O passo seguinte é lê-los, mas não de forma apressada, em leitura dinâmica, mas com toda atenção que eles requerem, anotando os principais tópicos, de sorte a formar opinião a respeito. Não posso comentar aquilo sobre o que não tenha opinião formada, não é mesmo? E isso requer muito estudo e reflexão. Só depois disso tudo, vem a fase (não menos complicada, por sinal), ou seja, a de redação. E esta tem que ser clara, objetiva, simples e, sobretudo, didática, para que os textos que vier a redigir sejam de algum proveito para os que me honrarem com sua leitura. Como se vê, é um desafio digno dos doze trabalhos de Hércules.

O filósofo, historiador das idéias, teórico social, filólogo e crítico literário Michel Foulcoult escreveu, em determinado trecho do seu informativo livro “O nascimento da clínica”: "(...) A epidemia tem uma espécie de individualidade histórica. Daí a necessidade de usar com ela um método complexo de observação. Fenômeno coletivo, ela exige um olhar múltiplo; processo único,é preciso descrevê-la no que tem de singular, acidental e imprevisto (...)". Por isso, antes de voltar a comentar um outro livro qualquer tratando desses flagelos, julgo indispensável apresentar um resumo sobre a evolução da compreensão das causas das epidemias, dos que se propunham a eliminá-las ou mesmo preveni-las, o que me proponho a fazer na sequência.


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