Papel da opinião pública
O fato de o plano de
estabilização econômica, anunciado nesta semana pelo ministro da Fazenda,
Fernando Henrique Cardoso, ser consistente, realista e tecnicamente correto,
não é nenhuma garantia de que venha a Ter o sucesso esperado. O conjunto de
medidas tem uma série de condicionantes, até maior do que as proposições de
Eliseu Resende, dadas a público em 24 de abril passado.
Ambos
os programas se complementam. Os dois dependem da boa vontade de um Congresso
que nunca mostrou disposição de colaborar com o governo. Em ambos, houve a
decisiva interferência de Fernando Henrique Cardoso (tido como um forte
presidenciável).
Um
dos grandes defeitos desses planos, e de tantos outros já apresentados, ou a
apresentar, está na expectativa que sempre é criada na sociedade em relação ao
seu teor. Esse fato dá margens para que muita gente aproveite o alarido criado
em torno das medidas para fazer reajustes preventivos de preços, mesmo que o
conteúdo seja adiantado com grande antecedência pela imprensa e que seja
evidente a inexistência de choques ou congelamentos. Foi o que ocorreu mais uma
vez agora.
A
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP (Fipe) detectou novamente
esta prática. E nem seria necessária essa prova. O consumidor sentiu os efeitos
das remarcações em seu bolso. Como parte considerável da inflação brasileira
tem a ver com a expectativa inflacionária, o novo programa, elaborado
exatamente para atacar essa disfunção econômica em sua raiz, vai contribuir
para mais uma evolução dos índices neste mês, por causa do mistério que se
criou, por duas longas semanas, em torno de seu anúncio.
Quanto
ao sucesso ou não das medidas anunciadas, tudo vai depender do grau de
mobilização da opinião pública. Convém ressaltar que a campanha sucessória – e
desta vez não somente para a Presidência, mas para os governos estaduais, para
o Congresso Nacional e para as Assembléias Legislativas – já está rolando nas
ruas com uma antecipação inusitada de mais de um ano.
Nestas
circunstâncias, governadores, prefeitos e congressistas (que sofrem influência
direta desses chefes de Executivo) certamente não se mostrarão dispostos a
colaborar espontaneamente com o governo federal.
É
uma ilusão achar que políticos formados na “escola” do carreirismo, da
demagogia institucionalizada e do populismo (que dão resultados num país tão
despolitizado) irão se mostrar dispostos a colocar os interesses nacionais
acima de suas ambições pessoais.
Daí
o ceticismo de alguns setores em relação ao plano de estabilização, que na
verdade não é um pacote fechado, mas o início de um projeto que tende a ser
muito mais amplo, se os oportunistas, os que jogam no time daqueles que
pretendem “levar vantagem em tudo”, permitirem.
Está
na hora de o brasileiro ser mais participativo, mais atuante e muito mais
crítico em assuntos que dizem respeito à sua vida. É preciso estar atento,
discutir as medidas, fazer pressão, cobrar, exigir serviços dos representantes
que o cidadão elege.
Cada
falcatrua ou negociata que algum deputado ou senador faz tem como cúmplice quem
o elegeu. Afinal, tais parlamentares agem em seu nome, tendo como procuração o
voto recebido nas urnas. É mais do que justo, portanto, sendo inclusive uma
questão de prudência, cobrar por atos e omissões dos que atuam em nosso nome.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de junho de 1993).
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