Igualdade perante a lei
Pedro J.
Bondaczuk
O noticiário dos jornais, rádio e televisão, sobre a
Comissão Parlamentar de Inquérito que apura as denúncias contra o empresário
Paulo César Farias tem dado, nos últimos dias, com grande destaque, a questão das
famosas “contas fantasmas”, ou seja, aquelas “frias”, abertas em nome de
pessoas que provavelmente sequer existem.
Ao que se sabe, foi movimentado,
nos últimos dois anos, nelas, algo estimado em US$ 300 milhões (Cr$ 1,551
trilhão no câmbio paralelo de sexta-feira). Uma importância, portanto, maior do
que o orçamento anual da maioria dos Estados brasileiros.
Na outra ponta do noticiário, com
destaque muito menor, tem se falado acerca do novo salário mínimo, a vigorar a
partir de 1º de setembro e cujo primeiro pagamento será efetuado em outubro,
estimado em Cr$ 510 mil. Quando for efetivamente desembolsado, todavia, estará
valendo 40% a menos, corroído pela inflação, que, a despeito da feroz recessão,
resiste e se sustenta no perigoso patamar dos 22%. Ou seja, cada trabalhador
que recebe esta remuneração – por volta de 34,8 milhões, ou seja, 58% da
População Economicamente Ativa, que gira ao redor de 60 milhões de pessoas –
irá pegar em mãos o equivalente a Cr$ 306 mil em valores reais para prover a
todas as suas despesas.
Essa é a massa dos
“descamisados”, para os quais o candidato Fernando Collor fez promessas
mirabolantes e que, eleito presidente, com o seu voto, vem lançando nos limites
da miséria. O novo salário mínimo, supondo que seja mesmo de Cr$ 510 mil (nunca
se sabe), se fosse pago hoje daria para custear somente 1.700 calorias na
alimentação de quem o recebe. Ou seja, os trabalhadores com essa remuneração
estariam no nível de “extrema pobreza”, de acordo com a classificação das
Nações Unidas. Em outubro, esse contingente de esfomeados vai estar situado
entre os grandes miseráveis da Terra.
A pergunta que se faz é como se
sente essa gente marginalizada, que ainda tem de agradecer pelo fato de
trabalhar por tão pouco – somente na Grande São Paulo há em torno de 1,5 milhão
de desempregados – quando ouve falar dos milionários depósitos nas contas dos
“Gasparzinhos” tão comentados ultimamente?
É em respeito a esses
brasileiros, que tendo tudo para descrer do seu futuro pessoal e do seu País,
alimentam grandes esperanças de que a CPI do caso PC deve ir às últimas
conseqüências. Não se trata de colocar em risco as instituições e a própria
democracia. Muito pelo contrário. É para resgatar sua credibilidade que os
culpados, sejam quais forem, devem pagar por seus delitos, caso devidamente
comprovados.
Há um visível clima de confronto
no ar. As coisas, porém, precisam ser feitas racionalmente, legalmente,
constitucionalmente, sem arroubos de passionalismo. É hora de fazer valer o
preceito constitucional que diz que “todo brasileiro é igual perante a lei”. Se
o “descamisado” que delinqüe é punido, por que não dar o mesmo tratamento aos
delinqüentes ricos, aos traficantes de influência?
(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 16 de agosto
de 1992)
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