Reagan
assume responsabilidade por escândalo
Pedro J. Bondaczuk
O presidente norte-americano Ronald Reagan, no
discurso que pronunciou ontem, no Salão Oval da Casa Branca, em que abordou o
escândalo Irã-contras, tentou passar uma borracha nesse lamentável episódio, se
dizendo o único responsável pelos eventuais erros de seus subordinados, perante
a população do país. Deu a entender que tanto os congressistas, quanto a
opinião pública, devem esquecer casos passados, mesmo os que, como este,
comprometeram a segurança nacional, para voltarem as vistas somente para o
futuro. Ou seja, para os 17 meses que ainda restam da sua administração.
O presidente fez um “mea culpa” bastante político,
atribuindo a sua omissão dobre venda de armas ao Irã e a transferência dos
fundos assim obtidos para os “contras” da Nicarágua (quando essa ajuda estava
expressamente proibida por lei) ao excesso de zelo dos seus auxiliares.
Certamente, Reagan não convenceu ninguém com o
pronunciamento. É bem possível que o escândalo, dentro de mais alguns dias,
passe, de fato, para o esquecimento, superado que será, com certeza, por novos
acontecimentos e de maior relevância. Mas a mancha em sua gestão permanecerá.
Ficará, sempre, a dúvida sobre se o presidente disse ou não a verdade (ou, pelo
menos, toda ela) sobre esse episódio.
Dentro de cinco meses, Reagan passará a ser figura
secundária na política norte-americana. Não porque sua administração não tenha
sido das melhores (e nem se afirma que foi), mas por causa do início da corrida
sucessória, da qual não irá participar, de forma direta, pois não pode se
reeleger para um terceiro mandato, o que a Constituição lhe veda.
O que os partidários do presidente temem é que as
circunstâncias e a sua atuação no chamado “Irangate” venham a desgastar o
Partido Republicano e prejudicar o candidato que este escolher, qualquer que
seja o seu perfil ideológico ou o seu programa, para concorrer à sua sucessão.
O eleitor costuma, via de regra, fazer esse tipo de
associação. Agiu assim, por exemplo, em relação a Gerald Ford, prejudicado, na
sua competição com Jimmy Carter, em 1976, pelo escândalo Watergate,
protagonizado pelo republicano Richard Nixon. Repetiu a dose com Walter
Mondale, estigmatizado pela péssima administração do último presidente democrata.
A menos que Reagan tenha algum eventual coelho para
tirar da cartola, é bem provável que venha a afetar, negativamente, o Partido
Republicano, que corre o risco de ter que amargar o ostracismo temporário de,
no mínimo, quatro anos.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 13 de agosto de 1987)
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