Vitória sobre inflação faz esquecer
escândalos
Pedro J. Bondaczuk
O presidente argentino, Carlos Menem, é protótipo do
populista peronista, bem na linha do criador do justicialismo, Juan Domingo
Perón, embora sem ostentar aquela postura de "pai dos pobres" do
falecido caudilho. Pelo contrário, busca passar a imagem do "bom
vivant", do esportista, do amante de festas, de música e de belas
mulheres.
Isto, embora descontente os eternos guardiões da
moral pública, impressiona bem o cidadão comum, que gostaria, evidentemente, de
estar em seu lugar. Escândalos, neste ano, envolvendo a figura do presidente e
as pessoas que o cercam, não faltaram. Como o do suposto suborno de seu
cunhado, Emir Yoma, a uma subsidiária de uma empresa norte-americana. Como o
caso da Ferrari presenteada a Menem por empresários italianos. E,
principalmente, como o suposto envolvimento de sua cunhada, Amira Yoma, na
lavagem de dinheiro do narcotráfico, para citar somente os de maior evidência.
Mesmo assim, embora a popularidade pessoal do
presidente tenha oscilado no período, seu partido chega às eleições provinciais
novamente em posição de favorito. Seu grande trunfo é o ex-chanceler e atual
ministro de Economia, Domingos Cavallo, e principalmente o êxito de sua
estratégia econômica.
Para um governo que assumiu antecipadamente o poder,
com o país atravessando um clima de convulsão social por causa da
hiperinflação, caracterizado por saques a estabelecimentos comerciais e ameaça
de guerra civil, obter uma taxa inflacionária como a do mês passado, de 1,3%,
característica de países europeus de Primeiro Mundo, é lícito festejar. O
argumento é irresistível. O êxito chega a beirar o milagre.
Os argentinos estão pouco se importando com o
diz-que-diz-que que cerca seu presidente. É verdade que a vitória sobre a
inflação teve um custo social que só com o tempo poderá ser avaliado. Mas o
clima na Argentina já é de esperança, chegando mesmo à euforia em alguns
círculos, o que o recente "boom" da bolsa de valores comprova.
Menem vem conseguindo reunir o carisma de Perón ao
charme dos boêmios portenhos, decantados em verso e prosa em tangos que se
tornaram legendários. Com escândalos ou sem eles, o fato é que sempre está em
evidência. Como bom populista, sabe dar o passo certo na hora adequada. Mostrou
isso quando resolveu mandar dois navios argentinos para o Golfo Pérsico durante
a guerra contra Saddam Hussein, quando seus vizinhos ficaram "em cima do
muro". E quando se tornou necessário, não teve escrúpulos até de lançar
mão de teses típicas da direita, como a sua proposta de instituir a pena de
morte.
(Artigo publicado na página 24, Internacional, do
Correio Popular, em 8 de setembro de 1991).
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