Bandidos
são perdedores
Pedro J.
Bondaczuk
O que ocorreu em 10 de dezembro passado, no enterro
do assaltante e seqüestrador Leonardo Pareja, assassinado um dia antes por um
grupo de presos do Centro Penitenciário Agroindustrial de Goiás (Cepaigo), se
repetiu, anteontem, em Campinas, no velório de Jonas Arthur Gomes, o
"Capeta" (guardadas as devidas proporções).
Até bandeira brasileira sobre o caixão foi colocada,
como se o morto fosse um herói. Não era, evidentemente. As famílias das vítimas
que fez que o digam. Há quem atribua à imprensa esse fenômeno de transformar
bandido em herói. Os órgãos de comunicação, todavia, limitam-se a informar
sobre os crimes praticados por essas pessoas.
Nenhum jornal, revista, rádio ou televisão (por mais
sensacionalistas que sejam), comete a irresponsabilidade de exaltar os
"feitos" de homicidas, assaltantes ou seqüestradores. Pelo contrário.
O que há é uma freqüente campanha pela segurança e uma exigência para que essa
gente perigosa seja tirada das ruas.
A mitificação de bandidos tem outras causas,
psicológicas e sociais. No velório do "Capeta", por exemplo, pôde-se
observar que a maioria dos que o "louvavam" era constituída por
adolescentes, contestadores pela própria natureza, que invertem valores como
uma forma de rebeldia em relação aos adultos.
A transformação de marginais em heróis não é um
fenômeno novo ou restrito a Campinas --- que mitificou, entre outros, Luís
Carlos do Vale e Hidemax Rita. Em São Paulo, figuras como Sete Dedos,
Meneghetti e o Bandido da Luz Vermelha dominaram a fantasia de muita gente.
No Rio, Cara de Cavalo, Tião Medonho, Lúcio Flávio e mais
recentemente Escadinha e Uê, foram (ou estão para ser) inclusive personagens de
filmes. No Exterior, podem ser mencionados desde o lendário Robin Hood a Jesse
James, Bonnie e Clyde, Calamity Jones, Al Capone e Caryll Chessman, o
"Bandido da Luz Vermelha" original, executado em 1959, após
permanecer por quase 11 anos no "corredor da morte" de uma prisão
norte-americana.
As pessoas sem muita estrutura psicológica e
inadaptadas socialmente precisam de ídolos, numa época carente de merecedores
de idolatria. Ninguém idolatra políticos, salvo raras exceções. Jogadores de
futebol, mitificados num passado recente, têm desencantado admiradores, pelo
seu "mercantilismo" ou pela conduta às vezes irresponsável fora ou
dentro dos gramados. Hoje são raros os que demonstram amor a uma determinada
camisa.
Falta, por exemplo, um Pelé, que no Brasil jogou
somente no Santos. Ou um Zico, cuja trajetória está toda ligada ao Flamengo.
Não dá mais tempo para o torcedor transformar algum "craque" em
ídolo. Quando menos espera, ele passa a jogar pelo time que é o maior
adversário do seu.
O risco em transformar bandidos em heróis é o da
imitação. Muito adolescente tem ultrapassado os limites da mera rebeldia,
descambando para a marginalidade, apenas por se espelhar em exemplos de
criminosos. E enveredam num caminho sem retorno. Exemplo? Leonardo Pareja e
Capeta.
(Artigo publicado no caderno Cidades do Correio
Popular em 20 de março de 1997)
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