Saturday, October 11, 2014

As leis da física, que mentes brilhantes e inquisitivas descobriram (pois sempre existiram, criadas que foram por uma mente muito maior) e sistematizaram, deixam-me cada vez mais pasmo, à medida que as aprendo e analiso. Elas apenas aumentam as dimensões do grande mistério, que é esse universo, com número inconcebível (à parca e tão limitada inteligência humana) de quantificar de mundos. Matéria e energia são dois fatores fascinantes e incríveis e agem como miragens. Parecem uma coisa e na verdade são outras. O que nos parece absolutamente sólido, como a madeira da escrivaninha que utilizo para escrever estas reflexões, por exemplo, na verdade, quando analisado ao microscópio, se revela oco, com mais espaços vazios do que matérias concretas (no caso, os átomos). Quanto mais aumentasse o poder das lentes e penetrasse mais e mais no âmago desse objeto (aparentemente inteiriço) menos rígido, certamente, ele se apresentaria. Jorge Luiz Borges induz os leitores a esta instigante reflexão, neste trecho do seu livro “História da Eternidade”: “No terceiro livro da Eneida, lemos que a matéria é irreal: uma simples e oca passividade que recebe as formas universais como um espelho as receberia: estas a agitam e povoam sem alterá-la. Sua plenitude é precisamente a de um espelho, que aparenta estar cheio e está vazio; é um fantasma que nem sequer desaparece, porque não tem nem ao menos a capacidade de cessar. O fundamental são as formas”. Tudo é questão de ponto de vista.

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Um exemplo da imperfeição imperceptível é o que ocorre com uma pintura de algum grande mestre (Ticiano, Rafael, Rembrandt ou Leonardo da Vinci, por exemplo). Se observarmos um determinado quadro, a uma boa distância, este se revelará íntegro e perfeito, sem nenhum hiato ou falha no espalhar das tintas. Ao nos aproximarmos bastante da tela, todavia, observaremos os rastros do pincel, que antes não podiam ser vistos. Poderemos, se formos especializados na matéria, determinar até o estilo de pincelada de cada artista, que é diferente um do outro. Veremos, sobretudo, que a tinta não está espalhada com tanta uniformidade assim como antes parecia. Se submetermos a pintura a análise microscópica, descobriremos outras tantas imperfeições que jamais nos passariam pela cabeça que houvesse. Faltou talento ao artista? Muito pelo contrário! Há excesso dele, por saber criar a “ilusão” de perfeição quando observamos a tela na distância ideal. O mesmo, guardadas as devidas proporções, ocorre com a matéria. Vista bem de pertinho, ela se torna tão irreal ao ponto de, como Borges ressalta, se constituir num “fantasma que nem sequer desaparece, porque não tem ao menos a capacidade de cessar”. Portanto, na física (e na pintura), como assegura o escritor argentino, “o fundamental são as formas”.

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“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
“Um dia como outro qualquer” – Fernando Yanmar Narciso.  

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