“A Voz de Paris”
conquista Nobel de Literatura
Pedro
J. Bondaczuk
O “panteão” de notáveis
– que é como o Prêmio Nobel de Literatura é considerado no mundo das letras –
acaba de ganhar seu 111º integrante desde 1901, quando foi instituído, com a
concessão dessa midiática honraria a Patrick Modiano, de 69 anos. Trata-se do escritor que é
considerado o principal da França, na atualidade e que, embora não tão
conhecido fora de seu país, é popularíssimo em sua terra natal. Há críticos que
o comparam ao seu conterrâneo Marcel Proust, pela temática adotada e pela
profundidade de suas reflexões. Ele é tão popular, entre os franceses, que até
uma canção, em que é o tema central, foi composta em sua homenagem, em 2008,
por Vincent Delerm, intitulada “Le Baiser Modiano”. A letra revela como um
casal cruzou com o escritor em uma rua de Paris.
Aliás, o novo premiado
com o Nobel destaca-se em várias outras artes, sendo conhecido compositor
(autor de um número de razoável de canções). Teve, ainda, atuações esporádicas
como ator, atuando em filmes como “Genealogias de um crime”, de 1977, dirigido
por Raoul Ruiz, entre outros. Escreveu, ainda, livros infantis e roteiros de
cinema. Mas é como romancista que se destaca e que fez jus ao Prêmio Nobel de
Literatura de 2014. Sem nenhum exagero,
Modiano pode, perfeitamente, ser chamado de “A Voz de Paris”, cenário central
de praticamente todos os seus romances em que enfatiza, como temas recorrentes,
a memória, o esquecimento, a identidade e a culpa.
De acordo com os
críticos, esse escritor está para a “Cidade Luz” (onde nasceu), como o cineasta
Woody Allen está para Nova York. Em seus livros, reflete, com profundidade (e
indisfarçável paixão), sobre ruas, pessoas, monumentos, mitos e tradições
etc.etc.etc. da apaixonante capital francesa. Seu primeiro romance, “La place
de l’etoile”, foi publicado em 1968. O mais recente, que acaba de ser lançado
na França (e que, com a conquista do Prêmio Nobel tem tudo para se transformar
em best-seller) é “Pour que tu ne te perdes pás dans le quartier”. Não tenho
certeza se algum dos seus romances já foi lançado no Brasil. Mas sei que, em
Portugal, foram publicados os seguintes livros traduzidos para o português: “O
Horizonte” (Porto Editora, 2011), “No Café da Juventude Perdida” (Asa, 2009),
“Dora Bruder” (Asa, 1998), “Um Circo Que Passa” (Dom Quixote, 1994), “Domingos
de Agosto” (Dom Quixote, 1988) e “A Rua das Lojas Escuras” (Relógio d'Água,
1988).
Patrick Modiano nasceu
em um subúrbio do Oeste de Paris, o Boulogne-Billancourt, em 30 de julho de
1945, dois meses após o término da Segunda Guerra Mundial na Europa. Completou,
portanto, recentemente, 69 anos de idade. É a minha geração, finalmente,
chegando ao estrelato literário.
Trata-se do 15º francês (considerando os quatro que adotaram essa
naturalidade) a conquistar o prêmio de Literatura mais prestigioso e cobiçado
de todos os que há por aí. O último dos seus conterrâneos a ser contemplado
havia sido Jean-Marie Gustave Le Clézio, em 2008; Modiano não estava entre os
favoritos das casas de aposta da Europa, cujos apostadores apostam em
praticamente tudo, não importa de que área.
Os mais apostados eram, pela ordem: o queniano Ngugi wa Thiong'o, o
japonês Haruki Murakami e a bielorrussa Svetlana Aleksijevitj.
Os indicados, neste
ano, para a premiação, eram 210 escritores, das mais diversas partes do mundo.
Destes, 36 postulavam-na pela primeira vez. Daí o fato de Patrick Modiano ser o
galardoado haver surpreendido os principais círculos literários, a despeito da
qualidade da sua obra e da reverência que os franceses lhe devotam. Sem desmerecer o Prêmio Nobel, sobretudo o de
Literatura, tenho certo pé atrás em relação a essa premiação. Afinal, ate hoje,
nenhum brasileiro chegou a ser, sequer remotamente, ao menos favorito a ele.
Ora, ora, ora... Não tivemos, nos 113 anos de existência desse prêmio, nenhum escritor
tupiniquim que merecesse ser premiado?!!! Pelos meus critérios literários,
tivemos vários, pelo menos uma centena deles, sem exagero. Daí minha prevenção
em relação ao Nobel de Literatura.
E não foram, apenas,
brasileiros os preteridos. Cá para nós, o checo Milan Kundera, o albanês Ismail
Kadaré, o israelense Amos Oz e os norte-americanos Philip Roth e Richard Ford
(para citar, apenas, os que me lembro sem precisar pensar muito) não
mereciam?!! Ou Aldous Huxley, H. G. Wells e Isaac Asimov?! Se raciocinar só um
pouquinho, me lembrarei de, no mínimo, duas a três centenas de escritores que
mereciam ser premiados e nunca chegaram, sequer, a ser cogitados. Não quero,
com isso, desmerecer a conquista de Patrick Modiano. Pelo pouco que expus da
sua carreira, não dá para negar que ele mereceu ser premiado. Mas os escritores
que citei acima (e os que não mencionei, principalmente os brasileiros) também
fizeram jus de integrar o ainda assim seletíssimo “panteão” dos notáveis das
letras.
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