Crescimento e justiça social
Pedro J. Bondaczuk
Os dados preliminares
referentes ao primeiro semestre de 1993, divulgados nos últimos dias pela
imprensa, confirmam o crescimento das atividades econômicas em importantes
setores do País, como a indústria automobilística e a construção civil, entre
outros.
Para
uns, trata-se da retomada do crescimento e do fim da longa crise que nos assola
há mais de uma década. Para outros, não passa de um fenômeno transitório, que
deverá ser neutralizado pela escalada da inflação. O ex-presidente do Banco
Central, Affonso Celso Pastore, garante que “nós estamos saindo rigorosamente
da profunda depressão”.
De
qualquer forma, com euforia ou sem ela, é inegável que a situação em 1993 é
muito mais favorável do que a dos dois últimos anos, em especial, a de 1992,
quando o País atingiu, de fato, “o fundo do poço”. A despeito das altas taxas
inflacionárias, os dados disponíveis sobre vendas, investimentos, emprego e
lucro são, senão entusiasmantes, pelo menos positivos.
Cabe,
agora – à sociedade e ao governo – recorrer à virtude da perseverança. Ao Poder
Público compete cumprir o programa apresentado pelo ministro da Fazenda,
Fernando Henrique Cardoso, de saneamento das contas governamentais, tendo como
palavra chave a “austeridade” nos gastos e a “racionalidade” administrativa.
Aos
agentes econômicos, por seu turno, resta a tarefa de confiar, de trabalhar e de
cumprir com suas obrigações fiscais. Os dois pólos não podem perder de vista o
caos social existente no País, agravado pela passagem do “furacão Collor” pelo
poder.
O
País não pode reincidir no erro do período do regime militar, quando se dizia
que antes de se dividir o bolo, seria necessário esperar que ele crescesse.
Ele, de fato, cresceu, mas a divisão foi leonina para setores minoritários
privilegiados, em detrimento da maioria.
Hoje,
para usar uma comparação tão a gosto do ex-presidente do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) e atualmente assessor do ministro Fernando
Henrique Cardoso, Edmar Bacha, convivem, num mesmo território, uma próspera
Bélgica e uma miserável Índia.
O
País requer um novo pacto social, já consagrado na atual Constituição, mas
jamais posto em prática, que tenha por pressuposto básico a justiça social.
Para isso, é preciso, além de vontade política, perseverança por parte das
elites pensantes e dos que detêm o poder de decisão.
Aliás,
a esse propósito, o escritor francês Víctor Hugo, que também foi político
(chegando a ser senador), tem uma citação modelar: “Todo o segredo dos grandes
corações está nesta palavra: ‘perseverar’. A constância diz que espécie de
homem há dentro de nós, qual é a nossa personalidade, a dimensão da nossa
coragem. Os constantes são sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem
é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma
virtude; o tenaz, porém, tem a grandeza”.
É
inconcebível que um país com o potencial do Brasil, a décima economia do mundo
conforme dados recentes do Fundo Monetário Internacional, tenha 34,2 milhões de
indigentes e mais de 500 mil meninas entre 10 e 14 anos prostituídas, na
maioria das vezes vendidas por suas famílias, em decorrência da terrível
miséria que se abate sobre a esmagadora maioria dos brasileiros e que leva de
roldão, entre outras coisas, a dignidade dessas pessoas.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de junho de 1993).
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