Estupros
e abusos sexuais
Pedro J. Bondaczuk
Um dos crimes mais covardes, e no entanto mais
comuns, cometidos contra as mulheres nas mais variadas partes do mundo, é o de
estupro. Ou seja, a relação sexual forçada, não desejada e nem consentida,
realizada por força, ameaça de ferir, ou incapacidade mental ou física de dar o
consentimento (incluindo intoxicação, mediante álcool ou drogas). Ainda assim é
largamente praticado, tanto por pessoas que a vítima não conhece, quanto por
seus conhecidos: homens com quem marcaram encontros, que conheceram em festas,
em bares, em ofícios religiosos, nas vizinhanças da sua casa, ou amigos,
colegas de universidade, companheiros de trabalho, etc.
Trata-se, todavia, de delito que conta com tamanho
repúdio social, que ao serem presos, os estupradores geralmente têm que ficar
separados dos demais detentos, para preservar sua integridade física e até a
sua vida. Quando isso não ocorre, acabam sendo espancados, estuprados pelos
companheiros de cela e não raro assassinados por estes.
Alguns exemplos, no entanto, revelam o quanto essa
atitude ainda é comum. Estudo divulgado em 27 de maio de 1996, pela Direção
Municipal da Mulher da Argentina, revelou que são cometidos, anualmente, 15 mil
estupros, somente na Província de Buenos Aires, a maior do país, numa média de
dois casos por hora.
Os autores da pesquisa dizem que as cifras seriam
muito maiores caso todas as vítimas notificassem as agressões que sofreram às
autoridades. A maioria não o faz por vergonha, por medo ou por temer má
interpretação por parte de maridos, namorados, noivos ou companheiros, que poderiam
achar que a relação sexual foi de fato consentida e que a vítima, para se
eximir de culpa, "inventa" que foi agredida. Esse comportamento
masculino, aliás, é bastante comum.
De acordo com o Conselho Nacional da Mulher, da
Argentina, 70% das vítimas de estupro conheciam seus atacantes e 66% das
agressões ocorreram em suas próprias casas. É o que ocorre, também, em vários
outros países, cujos dados são disponíveis, como os Estados Unidos, o Brasil e
a Grã-Bretanha.
O perigo maior não está, portanto, nas ruas, na ação
de tarados, de maníacos sexuais, à espreita de incautas, para levarem a cabo
suas sortidas criminosas. Em geral está no recesso do próprio lar, nas pessoas
das relações e da confiança da vítima. O jornal argentino "La Nación"
destacou que nos últimos dez anos, os delitos contra a mulher na Argentina,
como violações, estupros e outros tipos de abusos sexuais, aumentaram em 32%,
conforme o Registro Nacional de Reincidências.
A relutância de muitas das agredidas em denunciar os
casos de que são vítimas se deve ao fato de temerem ser maltratadas nas
dependências policiais, conforme explicou Cristina Kershner, investigadora de
um grupo privado argentino. Reitere-se, no entanto, que a maioria dos crimes
sexuais, principalmente estupros, é cometida por pessoas conhecidas da pessoa
agredida, conforme estudos feitos no Chile, na Malásia, no México, no Panamá e
nos Estados Unidos.
Por exemplo, um levantamento, feito no Peru, revelou
que 90% das mães peruanas com menos de 16 anos tinham sido estupradas pelo pai
ou por um parente. Pesquisas feitas no Canadá, Grã-Bretanha, Nova Zelândia e
Estados Unidos constataram que, de cada seis mulheres, pelo menos uma é
estuprada. Cerca de 11.600 sofreram estupro na Índia, em 1994. Por se tratar de
um delito tão freqüente e ainda mal compreendido tanto pelos que o praticam,
quanto pelos responsáveis por sua coibição e punição, é um caso que merece
estudo mais detido.
Do livro “Guerra dos Sexos”,
Pedro J. Bondaczuk, 1999, inédito.
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