Manobra
para desviar atenção
Pedro J. Bondaczuk
A população norte-americana, que desde quinta-feira
tem saído às ruas de várias cidades do país para protestar contra o envio de
tropas para Honduras, bem como os políticos que se opõem à medida e ponderável
parte da opinião pública, argumentam, para fundamentar sua atitude, com a
possibilidade de ser criado um novo Vietnã na América Central, bem no quintal
dos Estados Unidos.
Exageros a parte, ficou claro, no entanto, que o
presidente Ronald Reagan usou, mais uma vez, os sandinistas para desviar as
atenções gerais de algo que ele não quer que adquira repercussão em demasia. É
que o escândalo “Irã-contras” ganha, a partir desta semana, foros de
dramaticidade, com o julgamento, por parte de um grande júri federal, de suas
principais personagens.
Desta feita, não tenham dúvidas, o tenente-coronel
Oliver North não vai poder usar seus dotes de ator e, em arroubos de demagogia,
conquistar a opinião pública, posando de herói nacional, como fez em julho do
ano passado, quando prestou depoimentos perante as comissões mistas do
Congresso que investigavam o caso.
Agora ele, o ex-chefe do Conselho de Segurança
Nacional, John Poindexter; o general reformado da Força Aérea, Richard Secord e
o comerciante de armas, Albert Hakim, vão responder a processo criminal, com
possibilidades de pegarem longas penas de prisão em caso de serem
condenados.
É claro que seus respectivos advogados de defesa os
orientaram para que livrassem a própria pele e não protegessem ninguém. O presidente
Reagan permanecerá a salvo, mais uma vez, já que os réus disseram, sob
juramento, durante o inquérito, que o mandatário não tinha nada a ver com os
delitos.
Se mudarem agora o que afirmaram anteriormente,
estarão cometendo novo crime: o de perjúrio. E, com certeza, não irão se
atrever a se arriscar tanto. Todavia, uma outra figura muito importante no
momento, por ter chances reais de vir a ser o novo ocupante da Casa Branca a
partir do próximo ano, o vice-presidente George Bush, vai estar na berlinda.
Toda a bateria de acusações estará voltada contra
ele. Os democratas, por outro lado, que não conseguem se definir sobre um
candidato para as eleições de novembro próximo, vão fazer o possível e o
impossível para envolver o nome mais em evidência, no momento, dos
republicanos, no escândalo.
Irão mover céus e terra para encontrar o mínimo
deslize do oponente, para mostrar à opinião pública porque ele não deve ser
eleito. Reagan, portanto, tinha que criar uma nova manchete nos órgãos de
comunicação do mundo todo. E nada melhor para isso do que a surrada crise
centro-americana. Só que desta vez, com o presidente em final de mandato, o
tiro pode sair pela culatra. É aguardar para ver.
(Artigo publicado na página 20, Internacional, do
Correio Popular, em 20 de março de 1988)
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