Reformas em ritmo trepidante
Pedro J.
Bondaczuk
As reformas que ocorrem na Alemanha Oriental e que
culminaram com a abertura não somente do Muro de Berlim, mas de todas as suas
fronteiras com o Ocidente, surpreendem não tanto pelo seu teor, mas por sua
velocidade.
Que esse país teria que mudar,
todos já estavam cansados de saber. Antes mesmo que esta atual avalanche de
medidas, anunciadas nas últimas horas, se desencadeasse, já havíamos abordado a
inevitabilidade da alteração de rumos desse fechadíssimo Estado marxista.
O que ninguém, certamente,
esperava, nem mesmo o mais otimista e bem informado dos observadores, é que
tudo acontecesse tão depressa. Providências exigidas por anos a fio pelos seus
cidadãos estão sendo tomadas todas de uma só vez, desconcertando, e até
atemorizando, as lideranças mais equilibradas e progressistas da Europa.
Recordamo-nos que quando o
presidente soviético, Mikhail Gorbachev, esteve em visita oficial à Alemanha
Oriental – ocasião em que foi recepcionado como um autêntico herói pela
população local – indagado acerca do Muro de Berlim, ele afirmou que tal
questão não era da competência de Moscou.
Na oportunidade, analistas
interpretaram tal resposta como sendo mais um despistamento, uma desculpa, um
chavão diplomático, do que algo para ser levado em consideração com seriedade.
Alguns chegaram mesmo a dizer que gostariam de uma oportunidade para conferir a
sinceridade do mentor da “glasnost”.
Pois bem, ela aí está. A barreira, considerada por quase
três décadas como um símbolo dos mais concretos do divisionismo europeu do
pós-guerra, está ruindo, pedaço a pedaço, sem que o Cremlin tenha levantado um
só dedo para impedir. Pelo contrário, até elogiou a atitude do novo homem-forte
alemão oriental, Egon Krenz, tido e havido como político de linha-dura, na mais
estrita tradição de Walter Ulbricht e que, por uma dessas ironias históricas,
vem sendo o condutor exatamente da maior abertura já vista em seu Estado.
É uma mudança de envergadura até
mesmo superior à exigida pelos mais sonhadores dirigentes oposicionistas. Mas
os acontecimentos têm se precipitado com tamanha velocidade, que até levaram o
próprio prefeito de Berlim Ocidental (que no primeiro instante de abertura do
muro expressou enorme euforia pelo fato), a pedir um pouco mais de calma. A
insinuar que a barreira deve ser mantida, embora aberta, e a população alemã
oriental incentivada a permanecer em seu próprio país. Reformado, é claro!
E devidamente adequado às
aspirações de seus sofridos e sacrificados 16 milhões de habitantes. Quanto à
reunificação das duas Alemanhas... Bem, o assunto não desperta grandes
entusiasmos na Europa Ocidental, isso não dá para ser escondido, embora todos
os seus líderes, publicamente, busquem evitar de dizer que se opõem ao
processo.
(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 14
de novembro de 1989).
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