Sunday, October 12, 2014

Reformas em ritmo trepidante


Pedro J. Bondaczuk


As reformas que ocorrem na Alemanha Oriental e que culminaram com a abertura não somente do Muro de Berlim, mas de todas as suas fronteiras com o Ocidente, surpreendem não tanto pelo seu teor, mas por sua velocidade.

Que esse país teria que mudar, todos já estavam cansados de saber. Antes mesmo que esta atual avalanche de medidas, anunciadas nas últimas horas, se desencadeasse, já havíamos abordado a inevitabilidade da alteração de rumos desse fechadíssimo Estado marxista.

O que ninguém, certamente, esperava, nem mesmo o mais otimista e bem informado dos observadores, é que tudo acontecesse tão depressa. Providências exigidas por anos a fio pelos seus cidadãos estão sendo tomadas todas de uma só vez, desconcertando, e até atemorizando, as lideranças mais equilibradas e progressistas da Europa.

Recordamo-nos que quando o presidente soviético, Mikhail Gorbachev, esteve em visita oficial à Alemanha Oriental – ocasião em que foi recepcionado como um autêntico herói pela população local – indagado acerca do Muro de Berlim, ele afirmou que tal questão não era da competência de Moscou.

Na oportunidade, analistas interpretaram tal resposta como sendo mais um despistamento, uma desculpa, um chavão diplomático, do que algo para ser levado em consideração com seriedade. Alguns chegaram mesmo a dizer que gostariam de uma oportunidade para conferir a sinceridade do mentor da “glasnost”.

Pois bem, ela aí está. A barreira, considerada por quase três décadas como um símbolo dos mais concretos do divisionismo europeu do pós-guerra, está ruindo, pedaço a pedaço, sem que o Cremlin tenha levantado um só dedo para impedir. Pelo contrário, até elogiou a atitude do novo homem-forte alemão oriental, Egon Krenz, tido e havido como político de linha-dura, na mais estrita tradição de Walter Ulbricht e que, por uma dessas ironias históricas, vem sendo o condutor exatamente da maior abertura já vista em seu Estado.

É uma mudança de envergadura até mesmo superior à exigida pelos mais sonhadores dirigentes oposicionistas. Mas os acontecimentos têm se precipitado com tamanha velocidade, que até levaram o próprio prefeito de Berlim Ocidental (que no primeiro instante de abertura do muro expressou enorme euforia pelo fato), a pedir um pouco mais de calma. A insinuar que a barreira deve ser mantida, embora aberta, e a população alemã oriental incentivada a permanecer em seu próprio país. Reformado, é claro!

E devidamente adequado às aspirações de seus sofridos e sacrificados 16 milhões de habitantes. Quanto à reunificação das duas Alemanhas... Bem, o assunto não desperta grandes entusiasmos na Europa Ocidental, isso não dá para ser escondido, embora todos os seus líderes, publicamente, busquem evitar de dizer que se opõem ao processo.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 14 de novembro de 1989).


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