Quando
o “inimigo” está em casa
Pedro J.
Bondaczuk
A Polícia Federal dos Estados Unidos (FBI) constatou
que, naquele país, a cada 18 segundos, uma mulher é espancada por um homem. A
situação é tão grave, que levou o então presidente norte-americano, Bill
Clinton, em 20 de janeiro de 1995, a citar esse escandaloso dado, e apelar, por
conseqüência, à população, para que pusesse fim a esse tipo criminoso de
conduta. Ressaltou que se tratava de uma vergonha nacional. E mencionou a questão não em algum pronunciamento
informal qualquer, mas no discurso sobre o "Estado da União".
Trata-se de um balanço anual, na abertura dos
trabalhos do Congresso, em todos os anos, feito tradicionalmente pelos
presidentes norte-americanos, abordando as conquistas e os problemas a resolver
desse país. Mas os Estados Unidos não são os únicos a conviver com esse grave
desrespeito aos direitos humanos.
Dados da União Européia, por exemplo, dão conta de
que a violência doméstica afeta a pelo menos 4 milhões de mulheres na Europa
Ocidental. E esses números podem ser, tranqüilamente, multiplicados por dez, já
que, por medo ou por vergonha, apenas cerca de 10% das vítimas denunciam as
agressões que sofrem.
No Leste europeu, a situação não é muito diferente.
Pelo contrário, tende a ser até mais grave. Na Rússia, para se ter uma idéia,
dados oficiais, divulgados pelo governo, registraram, apenas em 1994, 15 mil
mortes de mulheres, vítimas de maus tratos dos maridos. Quantas foram as
feridas? Nada foi divulgado a respeito. Quantas sofreram lesões leves, simples
escoriações, que machucam mais a alma e o amor próprio do que o corpo? Podem
ser calculados, sem muito esforço, aos milhões.
Países da África e da Ásia sequer admitem esse tipo
de delito, de tão corriqueiros e "normais" (para eles) que são. Não
há, por conseguinte, estatísticas a respeito, embora existam sucessivas
denúncias de entidades de defesa dos direitos humanos, como a Anistia
Internacional.
Na América Latina, são raros os países que têm
estatísticas sobre casos de espancamentos de mulheres em suas casas. E as que
existem não são confiáveis, por subestimarem a gravidade e a quantidade desses
delitos. Ainda assim, todas as delegações, de todos os países
latino-americanos, apresentaram, na IV Conferência Mundial sobre a Mulher em
Pequim, a violência doméstica e a pobreza como os maiores problemas existentes
na região, o que comprova que o problema é muito mais grave do que os seus
respectivos governos ousam admitir.
(Do livro “Guerra dos Sexos –
Pedro J. Bondaczuk – 1999 – Inédito)
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