Tuesday, October 07, 2014

Quando o “inimigo” está em casa

Pedro J. Bondaczuk

A Polícia Federal dos Estados Unidos (FBI) constatou que, naquele país, a cada 18 segundos, uma mulher é espancada por um homem. A situação é tão grave, que levou o então presidente norte-americano, Bill Clinton, em 20 de janeiro de 1995, a citar esse escandaloso dado, e apelar, por conseqüência, à população, para que pusesse fim a esse tipo criminoso de conduta. Ressaltou que se tratava de uma vergonha nacional.  E mencionou a questão não em algum pronunciamento informal qualquer, mas no discurso sobre o "Estado da União".

Trata-se de um balanço anual, na abertura dos trabalhos do Congresso, em todos os anos, feito tradicionalmente pelos presidentes norte-americanos, abordando as conquistas e os problemas a resolver desse país. Mas os Estados Unidos não são os únicos a conviver com esse grave desrespeito aos direitos humanos. 

Dados da União Européia, por exemplo, dão conta de que a violência doméstica afeta a pelo menos 4 milhões de mulheres na Europa Ocidental. E esses números podem ser, tranqüilamente, multiplicados por dez, já que, por medo ou por vergonha, apenas cerca de 10% das vítimas denunciam as agressões que sofrem.

No Leste europeu, a situação não é muito diferente. Pelo contrário, tende a ser até mais grave. Na Rússia, para se ter uma idéia, dados oficiais, divulgados pelo governo, registraram, apenas em 1994, 15 mil mortes de mulheres, vítimas de maus tratos dos maridos. Quantas foram as feridas? Nada foi divulgado a respeito. Quantas sofreram lesões leves, simples escoriações, que machucam mais a alma e o amor próprio do que o corpo? Podem ser calculados, sem muito esforço, aos milhões.

Países da África e da Ásia sequer admitem esse tipo de delito, de tão corriqueiros e "normais" (para eles) que são. Não há, por conseguinte, estatísticas a respeito, embora existam sucessivas denúncias de entidades de defesa dos direitos humanos, como a Anistia Internacional. 

Na América Latina, são raros os países que têm estatísticas sobre casos de espancamentos de mulheres em suas casas. E as que existem não são confiáveis, por subestimarem a gravidade e a quantidade desses delitos. Ainda assim, todas as delegações, de todos os países latino-americanos, apresentaram, na IV Conferência Mundial sobre a Mulher em Pequim, a violência doméstica e a pobreza como os maiores problemas existentes na região, o que comprova que o problema é muito mais grave do que os seus respectivos governos ousam admitir.


(Do livro “Guerra dos Sexos – Pedro J. Bondaczuk – 1999 – Inédito)


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