Crime
organizado movimenta bilhões no mundo
Pedro J. Bondaczuk
O crime organizado movimenta, com suas atividades
ilícitas – tráfico de drogas, extorsão, seqüestros, venda de proteção,
exploração do lenocínio, etc – bilhões de dólares por ano. Tem ramificações por
toda a parte e se as várias organizações criminosas mundiais fossem unificadas
e agissem sob um único comando, constituiriam a quarta maior economia do mundo.
Essa super-entidade ficaria abaixo apenas dos
Estados Unidos, Japão e Alemanha em termos de movimentação de recursos. Tais
dados são das Nações Unidas, revelados no ano passado, em uma conferência
realizada em Nápoles exatamente para debater este problema.
Entre os grupos mais antigos e que resistem a todas
as investidas das autoridades, está a Máfia siciliana, ou "Cosa
Nostra", como é conhecida na ilha. Movimenta fortunas em uma das regiões
mais miseráveis, não somente da Itália, mas de toda a Europa.
Até muito recentemente, a organização criminosa
tinha como norma rígida a "omertá", a implacável lei do silêncio. Seu
rompimento, por qualquer razão, implicava na morte certa de quem se atrevesse a
se tornar delator. E ainda implica, embora haja, atualmente, por volta de 1.200
mafiosos que colaboram com a justiça italiana, em troca de proteção. São os
denominados "penititi", ou "arrependidos".
Entre estes, está uma figura muito conhecida dos
brasileiros, por haver morado no Brasil em duas ocasiões, e ter sido preso, e
extraditado, em duas oportunidades, para a Itália. Trata-se de Tomaso Buscheta,
que é casado com uma brasileira.
Aliás, o Brasil e outros países da América do Sul
constituem-se em refúgio, em verdadeiro "santuário", não somente para
membros da Máfia procurados pela polícia italiana, mas de gangsteres de todos
os tipos e procedências. Em parte, isto se deve às dimensões do território
brasileiro. Daí a dificuldade para manter sob estrita vigilância nossas vastas
e desprotegidas fronteiras.
Buschetta foi detido pela primeira vez em 31 de
outubro de 1972. Passados onze anos, ei-lo de novo no Brasil. Em um outro
outubro, desta vez no dia 22, do ano de 1983, foi outra vez preso. Após
arrastado processo, decidiu-se enviá-lo mais uma vez para o seu país de origem.
Lá, aceitou colaborar com as autoridades, em troca
da mudança de identidade e dizem que até do próprio rosto. A quebra da
"omertá", no entanto, não ficou impune. Valeu-lhe a perda de vários
membros da família, entre os quais dois irmãos.
O pitoresco é que a Máfia siciliana foi criada como
uma espécie de polícia. Sua origem está nas chamadas "compagni
d'armi", milícias particulares, instituídas por volta de 1800, com a
finalidade de garantir a segurança pública contra bandoleiros. Mas o poder
sempre sobe à cabeça das pessoas. Não tardou para que, de protetora, se transformasse
no terrível flagelo que é hoje, que a Itália e a Sicília tentam, em vão,
erradicar.
(Artigo publicado na editoria Internacional, do
Correio Popular, em 1 de junho de 1995).
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