Em maio será para negociar
Pedro J. Bondaczuk
O líder nacionalista negro sul-africano, Nelson
Mandela, recebeu, ontem, a sua primeira homenagem pública internacional à qual
pôde estar presente, que lhe foi tributada pela fibra e determinação que demonstrou
durante os 27 anos em que esteve em cativeiro. Num estádio de Wembley, em
Londres, superlotado, grandes astros de rock fizeram uma apresentação, de cinco
horas de duração, em que demonstraram um pouco do carinho e da admiração que
todos nós gostaríamos de mostrar a esse homem corajoso, que ousou enfrentar uma
das maiores máquinas repressivas da história, somente com a convicção de suas
idéias. Todavia, em sua breve passagem pela Grã-Bretanha, o vice-presidente do
Congresso Nacional Africano, CNA, não se encontrou com uma personalidade
controvertida, peça importante no drama vivido por ele e principalmente pela
África do Sul. Referimo-nos à primeira-ministra Margaret Thatcher.
A premier britânica, com a popularidade descendo
ladeira abaixo na atualidade, por causa de uma nova lei de impostos, sempre se
opôs à aplicação de sanções econômicas ao regime segregacionista sul-africano,
contribuindo para que o "apartheid" continuasse inabalável por tanto
tempo. Aliás, as posições políticas (nacionais e internacionais) da dirigente
conservadora, têm primado pela polêmica. Ainda recentemente, opinando sobre a
reunificação das duas Alemanhas, Thatcher manifestou que o processo não pode
seguir uma dinâmica independente, carecendo de aprovação prévia de várias outras
partes interessadas em toda a Europa.
Isto valeu uma reação irritada dos alemães
ocidentais. O jornal "Bild", num editorial de 12 de fevereiro
passado, chegou a ridicularizar a proposta da primeira-ministra, de realização
de uma ampla consulta sobre a união dos dois Estados germânicos. Num
determinado trecho, o articulista escreveu: "Se a idéia de Thatcher for
aceita, o sindicato dos motoristas de táxi de Londres, a Associação dos
Criadores de Pombos do Soho, o 'lobby' do uísque escocês e até o Clube dos Observadores
do Monstro de Loch Ness terão que opinar sobre a reunificação. O mundo se
alegra diante da possibilidade de reunificação, enquanto Maggie continua a
resmungar".
Mas a "dama-de-ferro" é uma política
determinada também. Costuma sair de situações sumamente desvantajosas para o
sucesso. Foi, aliás, o que ocorreu quando da última eleição geral em seu país.
Até a véspera do pleito, estava abaixo dos trabalhistas em quase todas as
pesquisas de opinião. Subitamente, reverteu a situação e obteve uma consagradora
vitória. Mandela, certamente, sabe da sua importância e peso. Tem ciência da
influência e da liderança da primeira-ministra. Daí ter pautado uma reunião com
Thatcher para o mês que vem, quando for a Londres não mais para receber
homenagens, mas para tratar do que interessa de fato à maioria negra
sul-africana: do sepultamento definitivo da intolerável política do
"apartheid".
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do
Correio Popular, em 17 de abril de 1990)
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