Mortalidade infantil
Pedro J. Bondaczuk
O
setor de saúde, ao lado da educação, deve ser prioritário em qualquer país que
se preze e seja razoavelmente administrado. Todavia, estas duas áreas, no
Brasil, são as que enfrentam maiores dificuldades, quer na destinação de
recursos, quer na eficiência de sua aplicação.
As
conseqüências, todos estamos vendo e sentindo, inclusive em nossas vidas. O
ensino público de base sofreu dramática deterioração, forçando a maioria dos
pais, aqueles que podem, naturalmente, a gastar fortunas em escolas
particulares. E o que falar da saúde?
O
representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no Brasil,
Ogap Kayayan, constatou que as verbas para o setor caíram à metade do que se
aplicava em 1987, que já não era o ideal. Por essa razão, embora seja
lamentável, não é para se estranhar o dramático aumento da mortalidade
infantil, especialmente no Nordeste.
Doenças
praticamente banidas em todo o mundo, como a hanseníase, por exemplo,
proliferam no País. E o serviço prestado pela rede pública à população --- e
quem se vale dele são os brasileiros carentes, sem renda ou que a têm
baixíssima --- chega, em alguns lugares, a ser catastrófico.
Kayayan
destacou que o atendimento preventivo à saúde melhorou bastante nos últimos
sete anos. "Se isto não estivesse acontecendo, teria sido um
desastre", explicou. Se governar é, como dizem, definir prioridades, o
Brasil há muito não tem governo.
O
que esperar, em termos de futuro, de um povo fraco, doentio e mal educado? Os
brasileiros têm operado verdadeiros milagres diante dessas circunstâncias
negativas. Isso atesta se tratar de um dos melhores e mais criativos povos do
mundo. Como sempre se faz por aqui, agora que a porta está arrombada, vai ser
posta uma tranca nela.
O governo
decidiu liberar, em caráter emergencial, R$ 160 milhões para o combate à
mortalidade infantil no Nordeste. Espera-se que as verbas cheguem, de fato, aos
verdadeiros destinatários e não sejam desviadas para usos menos nobres, quando
não para o bolso de determinados "espertalhões".
Compartilhamos
da opinião do representante da Unicef quando afirma que "é uma vergonha
para um país como o Brasil apresentar índices de mortalidade que no Nordeste,
em média, chegam a 70 por mil crianças até um ano de idade". Até porque,
temos todas as condições para reverter esse quadro. Basta que haja vontade
política. E sobretudo honestidade.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de julho de 1994).
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