Briga
em loja de porcelana
Pedro J. Bondaczuk
A crise do Golfo Pérsico, provocada pela invasão e
anexação do Kuwait, por parte do Iraque, caminha rapidamente para se
transformar de uma guerra de palavras, que a vem caracterizando até agora, numa
confrontação militar, de conseqüências imprevisíveis.
Seria até covardia comparar os aparatos bélicos
norte-americano e iraquiano, tamanha é a desproporção. Ocorre que o perigo
maior reside no palco de mais este drama que afeta a região. Afinal, dali sai a
maior parte do petróleo que abastece o mundo na atualidade. É, pois, como se
alguém programasse uma luta entre dois touros enfurecidos numa loja de
porcelana. Nem é preciso ser qualquer gênio para prever os resultados.
Diante dessas circunstâncias, e da atitude do
governo do Iraque, fica a cada dia mais claro que os 350 funcionários
brasileiros da empresa Mendes Junior e os cerca de 20 técnicos que trabalham em
projetos bélicos desse país, são, de fato, reféns, não importa a argumentação
que se use para justificar a sua retenção. Afinal, qual expressão melhor do que
essa para caracterizar a atual situação desses nossos conterrâneos?
Bagdá argumenta que há contratos de trabalho a serem
cumpridos e dá a entender que antes que estes se expirem, nenhum desses trabalhadores
sairá dali. O Itamaraty, todavia, não está propondo uma ruptura contratual.
Deseja, diante das circunstâncias, uma simples suspensão temporária dos
compromissos, até que a tensão seja contornada e tudo volte ao normal, se é que
isto ainda é possível nas atuais circunstâncias. Os 350 brasileiros correm
reais riscos de vida, não há como negar.
A tomada de reféns com finalidades políticas não é
uma coisa nova, uma característica dos nossos tempos, como muitos podem pensar.
Trata-se de uma das práticas mais antigas que se conhecem. Em princípios do
milênio passado, quando a Europa enviou ao Oriente Médio, em três ocasiões,
forças multinacionais como as que estão seguindo agora para o Golfo (guardadas
as devidas proporções), denominadas de “Cruzadas”, que tinham o objetivo de
retomar Jerusalém das mãos islâmicas, tal procedimento era bastante comum.
A história registra isso e o fato serviu, até mesmo,
para romances famosos sobre os feitos dos cavaleiros medievais. Desde essa
época, não se descobriu forma melhor de resgatar os cativos que não fosse pelos
caminhos da negociação, da barganha, da troca de prisioneiros.
As vias das ameaças e das ações armadas foram
ineficazes há mil anos. Não há razão plausível para se supor, portanto, que
venham a funcionar agora. Tomara somente que os nossos diplomatas, tidos e
havidos como entre os melhores negociadores do mundo, sensibilizem os
iraquianos e consigam trazer a salvo todos os brasileiros que estão no Iraque e
no Kuwait ocupado.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 25 de agosto de 1990)
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