Prostituição: infantil e
adulta
Pedro J.
Bondaczuk
A prostituição é uma das práticas mais antigas e
difundidas no mundo. Nem o risco de contágio pelo vírus da Aids --- o grande
flagelo de meados do século XX e início do XXI --- nem a liberação dos costumes, com a
desmistificação do sexo, que pôs fim à repressão e facilitou e difundiu
relações sexuais seguras (e precoces), em especial após o advento dos
anticoncepcionais, acabou, ou sequer reduziu, essa que é tida como "a mais
antiga das profissões".
Trata-se, a rigor, de uma das formas mais perversas,
disseminadas e consentidas de escravidão de mulheres, vendidas como
"mercadorias", mantidas em cárceres privados, humilhadas, exploradas,
agredidas, ameaçadas e forçadas a servir
insensíveis "senhores" (gigolôs), que as tratam com menos
consideração e humanidade do que a qualquer animal.
Inúmeros países, entre os quais a Grã-Bretanha,
consideram, é verdade, a exploração da prostituição como crime, punido até com
a prisão. Outros, como os Estados Unidos, encaram-na como contravenção penal.
Mas a existência de leis severas não garante, por si só, a eliminação dos
crimes a que se propõem a coibir. É o que acontece com a prostituição.
Basta lembrar, a título de exemplo, que as cabines
de telefones públicos de Londres, e das grandes cidades britânicas, estão
abarrotadas de anúncios de prostitutas, oferecendo "prazeres"
inolvidáveis, capazes de satisfazer todos os gostos, as mais incríveis
fantasias e as mais exóticas e baixas taras sexuais, sem que sejam sequer
molestadas. E mulheres "importadas" de várias partes do mundo para
fins de prostituição chegam, diariamente, e cada vez em maior número, às
grandes metrópoles européias, tornando o "comércio" do sexo atividade
altamente rentável e lucrativa (para os que a exploram), e por isso bastante
próspera.
O que é sumamente preocupante, a exigir enérgica,
urgente e permanente intervenção das autoridades, é o crescente e avassalador
número de crianças (muitas de apenas oito ou dez anos de idade), prostituídas
pelo mundo afora. O chamado "turismo sexual" já até virou moda.
Atingiu tamanhas proporções, que chega a ser divulgado, aberta e
descaradamente, em prospectos de viagem de grandes e conceituadas agências
turísticas do Primeiro Mundo, como se fosse o mais inocente e normal dos
programas. E a procura por esses "pacotes" é imensa.
De acordo com dados da Organização das Nações Unidas
para a Infância (Unicef), em 1996 havia: 650 mil meninas prostituídas nas
Filipinas; 400 mil na Índia; 300 mil nos Estados Unidos; 200 mil na China; 800
mil na Tailândia e 8 mil na França, entre outros.
A imprensa internacional divulgou, recentemente,
fotos de bordéis sórdidos em Bangkok, a capital tailandesa, onde garotinhas de
10, 12 anos, trazidas de países vizinhos, vivendo engaioladas e sem nenhuma
espécie de cuidado, "apodrecem", em meio à corrupção, à falta de
higiene e ao vício, sem que ninguém faça alguma coisa para as livrar da escravidão.
A exploração sexual de menores está disseminada por
toda a parte. Viceja tanto no chamado Primeiro Mundo, quanto, e principalmente,
nos países mais pobres e atrasados do Planeta. E a tendência é de vertiginoso
crescimento desse hediondo crime, a despeito de campanhas feitas por várias
organizações particulares e por governos, para reprimir os que o praticam e
coibir a sua expansão. Em vão.
A Unicef calculou, por exemplo, que pelo menos 1
milhão de meninas caem, anualmente, na prostituição, em todo o mundo, muitas (se não a maioria) induzidas pelos
próprios pais, que vêem no "comércio do sexo" uma forma de driblar a
miséria e ignorância a que são submetidos e de garantir a própria
sobrevivência.
Cerca de 300 mil meninas são prostituídas nos
Estados Unidos, conforme estimativa da ONU. No Japão e em outros países
industrializados, muitas estudantes secundárias, de famílias de classe média,
"vendem" os seus corpos, apenas para ganhar o dinheiro necessário à
compra das roupas da moda. Por outro lado, não são raras as universitárias
(inclusive no Brasil), que se prostituem a pretexto de custear seus estudos.
Há famílias em Gana, na África Ocidental, que
oferecem suas filhas para "acalmar os deuses". E as meninas são
usadas, então, como "concubinas" pelos sacerdotes. Práticas
similares, na Índia, perderam todo significado religioso através dos anos.
Agora, as garotinhas são oferecidas como prostitutas, simplesmente, sem
pretextos e sem disfarces. Sorala Gopalan, diretora do Departamento Federal de
Mulheres e Desenvolvimento Infantil da Índia, calcula que há pelo menos 100 mil
crianças prostituídas no país. Organismos particulares garantem que esse número
é pelo menos dez vezes maior.
Ativistas de direitos humanos estimam que mais de um
milhão de prostitutas atuam na Tailândia e que 80% delas são menores de idade.
Pelo menos 4.500 meninas são "escravas religiosas" em Gana. Grupos
humanitários locais, no entanto, estimam que elas sejam entre 10 mil e 12 mil.
Cuba, antes da Revolução, era conhecida como "Bordel
do Caribe". Conforme estimativas da época, havia, no país, 100 mil
prostitutas, numa população de seis milhões de pessoas. Hoje, a prostituição é,
oficialmente, reprimida pelo governo do presidente Fidel Castro. E o número de
mulheres que recorrem à prática é considerado como dos mais baixos do
hemisfério. Isso comprova que é possível, senão eliminar, pelo menos coibir com
sucesso a prostituição, desde que sejam oferecidas alternativas às potenciais
prostitutas.
Dados esparsos, ainda assim reveladores, mostram, no
entanto, que o "comércio do sexo" está de vento em popa pelo mundo
afora, envolvendo, cada vez mais, crianças e adolescentes. A Confederação dos
Sindicatos Livres da Grã-Bretanha, por exemplo, denunciou a existência de uma
ampla rede de prostituição infantil no país.
Em 1995, o número de vítimas do tráfico de mulheres
do Leste europeu, para "abastecer" os bordéis, duplicou na Bélgica e
triplicou na Holanda (mais de 1 mil, conforme dados oficiais) desde 1990,
conforme estudo da Organização Internacional da Migração. Cerca de 500 jovens
polonesas foram enviadas para prostíbulos da Alemanha somente em 1995.
Na Finlândia, a polícia também indicou, em 1994, que
houve sensível aumento de entrada de prostitutas no país, procedentes da Rússia
e dos Estados bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia). Helsinque dispunha, na
ocasião, de 13 clubes sexuais, contra apenas dois um ano antes.
De acordo com estudo da Fundação Holandesa contra o
Tráfico de Mulheres (Organização Não Governamental), realizado em 1994, sobre
155 casos de migrantes, em sua maioria procedentes da República Checa, Polônia,
Rússia e Ucrânia, três quartas partes dessas mulheres tinham menos de 25 anos e
muitas eram adolescentes entre 15 e 18
anos.
Estimativas de organizações brasileiras e
internacionais dão conta de que no Brasil há entre 500 mil e dois milhões de
prostitutas entre 10 e 15 anos. Estudo realizado pela Organização Mundial da
Saúde, em 1995, com 13 mil adolescentes de onze países africanos, apurou que
25% das moças se entregaram à prostituição, depois de rejeitadas por suas
famílias.
Na Ásia, cerca de um milhão de crianças são
forçadas, pelos pais, a se prostituir.
Como ilustração, basta citar que pelo menos 20 mil mulheres e meninas
birmanesas trabalham em hotéis tailandeses, com a incumbência exclusiva de
prestar "favores sexuais" aos clientes.
Há casos extremamente escabrosos de exploração e de
desrespeito à mulher, e que se tornam cada vez mais comuns. Alguns poucos
chegam ao conhecimento público, através da imprensa, mas a grande maioria
permanece no mais absoluto sigilo. Por exemplo, o jornal Folha de S. Paulo, na
edição de 3 de agosto de 2001, publicou notícia dando conta de um pai viciado
em drogas, que vinha cedendo, com freqüência, a filha de 13 anos a um traficante,
para que este mantivesse relações sexuais com a menina, em troca somente de
crack!
Cerca de 75 mil brasileiras se prostituem,
atualmente, nos países da União Européia, conforme dados de organismos que
combatem o tráfico de mulheres. O número representa 15% do volume mundial. O perfil dessas aliciadas para a prostituição
em países da Europa é o seguinte: morena, idade entre 18 e 27 anos, primeiro
grau incompleto; desempregada, cozinheira ou empregada doméstica; solteira;
renda média mensal de menos de três salários mínimos; que morem com a família e
que não tenham se prostituído antes.
Do livro “Guerra dos Sexos”,
Pedro J. Bondaczuk, 1999 – Inédito
No comments:
Post a Comment