Na corda-bamba
Pedro J. Bondaczuk
A
constatação de que a situação interna do presidente soviético, Mikhail
Gorbachev, não é das melhores, se torna mais nítida quando até a agência
estatal de notícias do seu país, a "Novosti", critica sua gestão. Seu
apoio junto à população está em nível baixíssimo e isto ficou fartamente
demonstrado no dia 1 passado, durante a parada tradicional dos trabalhadores,
na Praça Vermelha, em Moscou, quanto o mentor da "perestroika" sofreu
uma estrepitosa vaia. Na ocasião em que ele convenceu o Soviete Supremo a lhe
outorgar seus atuais superpoderes, nós destacamos que isto era uma "arma
de dois gumes". Aumentando seu campo de ação, aumentariam,
conseqüentemente, as cobranças que lhe seriam feitas por soluções rápidas de
problemas que se arrastam por décadas, como são os desafios dos nacionalistas
bálticos e transcaucasianos.
Não
seria nenhum exagero afirmar que Gorbachev pode perder o seu cargo a qualquer
momento. Ou mediante um "golpe branco", ou através do afastamento
tradicional, por decisão dos seus partidários na importantíssima Conferência do
Partido Comunista do próximo mês ou até mesmo por uma renúncia. Pressões o
presidente está recebendo de todos os lados e por motivos opostos. De um lado,
os reformistas radicais, achando que se pode mudar a mentalidade de um povo,
desacostumado a pensar por quase 73 anos de falta de liberdade, da noite para o
dia, querem mudanças rápidas e dramáticas. De outro, estão os burocratas
empedernidos, os "falcões", os linhas-duras da Velha Guarda, que
sonham com o retorno aos tempos de Leonid Brezhnev.
O
líder do Cremlin está no meio dos dois, tendo que se equilibrar precariamente
entre uma posição e outra, pelo menos para ganhar tempo, até que o processo de
sua atuação externa melhore sua imagem internamente. Há líderes ocidentais que
já estão temendo que isso não seja mais possível. Outros, no entanto, como o
presidente norte-americano George Bush, acreditam que com uma
"mãozinha", Gorbachev, tido e havido como uma espécie de
"mágico", pode sair desta e modernizar o seu país, que é o seu
principal desejo. Geralmente, em relação a qualquer problema, quem está de fora
dele tem condições de vê-lo com maior clareza. Quanto aos enfrentados pelo
líder do Cremlin, a melhor e mais clara definição do que ele terá que superar
foi feita ontem, pelo ex-presidente Ronald Reagan, num discurso de formatura
numa universidade de Louisiana, em Baton Rouge, quando constatou:
"Gorbachev
está tendo de enfrentar históricas e amargas tensões étnicas. Ele está esmagado
por uma economia tão derrotada que os alimentos apodrecem nos lados dos campos
porque não há transporte para o mercado. Enfrenta uma burocracia que durante 70
anos abafou toda centelha de inovação ou iniciativa". Até ele, portanto,
diante de tanta coisa ruim, precisará ser verdadeiramente um "mágico"
para sair desta.
(Artigo
publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 19 de maio de
1990)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment