Poder da propaganda enganosa
Pedro
J. Bondaczuk
A atual repressão movida pelas autoridades chinesas contra
os participantes do movimento pró-democracia, dissolvido a poder de balas e
tanques no início do corrente mês, demonstra ser algo maquiavelicamente
planejado. Utiliza, sobretudo, um dos instrumentos prediletos dos tiranos e das
tiranias: a propaganda enganosa.
Cada passo, objetivando
neutralizar a simpatia despertada pelos estudantes na população – numa das
manifestações realizadas no mês passado na Praça da Paz Celestial houve o
comparecimento de um milhão de pessoas – vem sendo metódica e cuidadosamente
estudado. E cruelmente executado.
Por exemplo, as 27 execuções
levadas a efeito até aqui no país não envolveram um único líder universitário.
Dos que foram mortos com tiro na nuca – cujas famílias ainda receberam a conta
a pagar da bala gasta para tirar a vida de seus entes queridos – nove eram
operários, dos quais um estava desempregado.
Os outros 18 não passavam de
criminosos comuns. Mas as autoridades apresentaram-nos perante a população como
dirigentes das manifestações para justificar perante a opinião pública (senão
externa, pelo menos interna), a selvajaria da repressão.
Desde o dia do massacre da Praça
da Paz Celestial os dirigentes do PC chinês vêm insistindo que mataram somente
os “rufiões, desordeiros e bandidos comuns” e não civis desarmados, como as
imagens mostraram para o mundo todo que eles de fato fizeram.
Por outro lado, nenhum estudante
até aqui foi condenado à morte. E isto não é uma manifestação de confiança dos
repressores na sua “recuperação”. O que o cérebro diabólico que vem comandando
a repressão não quis foi “fabricar” mártires. Afinal, estes sempre servem como
bandeiras de luta às grandes causas.
Na maioria das vezes, são muito
mais úteis para o sucesso de qualquer movimento mortos do que vivos. Peritas em
propaganda, como são tais autoridades, elas não deixariam de levar este fato em
conta. Como não estão deixando.
Com uma campanha propagandística
em massa, aliada a uma repressão persistente e tenaz, os líderes de linha dura
estão quebrando as resistências, solapando as esperanças de quem ainda
acreditava ser possível a conquista de liberdade agora, ou mesmo a médio prazo.
Embora, como todo mundo,
simpatizemos com os estudantes e principalmente com a sua causa, não podemos
deixar de observar que eles cometeram erros estratégicos palmares. Aliás, em
comentários feitos logo no início das manifestações, destacamos isso. Tais
equívocos custaram (e vão custar ainda) muito caro. Talvez venham a tornar
impossível o sonho de democracia na China para toda uma geração.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 23
de junho de 1989).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment