Saturday, October 18, 2014

Tradição marca festas da Semana Santa na região


Pedro J. Bondaczuk

As comemorações da Semana Santa atraem, todos os anos, milhares de pessoas de várias partes do Estado para a região de Campinas. Muitos são os atraídos por eventos já tradicionais, como os casos da famosa malhação do Judas de Itu, ou das encenações da Paixão de Cristo em várias cidades, como Piracicaba, Vinhedo, Louveira, Sumaré, Hortolândia, Arthur Nogueira, Salto e Vinhedo, entre outras.

A maioria das representações desse drama que se desenrolou na Judéia, há quase dois mil anos, é promovida pelas respectivas paróquias. Há, no entanto, algumas iniciativas particulares. Os “atores” são membros da comunidade, que se esmeram em decorar papéis, elaborar figurinos, realizar exaustivos ensaios (em geral à noite, após um dia de trabalho), para que tudo saia a contento no dia da apresentação. E em geral sai.

Claro que há um ou outro “escorregão”, algum esquecimento da fala, alguma inesperada gaguejada ditada pelo nervosismo, ou algum tropeção no palco improvisado. Ninguém dá importância a esses deslizes. O que conta é o congraçamento e a lembrança do sacrifício do Deus que se fez homem.

Trata-se de uma tradição, de algo que vem dos primórdios da fundação das várias cidades da região, pelos bandeirantes, que nem o propalado progresso e nem as mudanças de comportamento, características deste fim de milênio, conseguiram acabar.

A vinda de imigrantes de várias partes do mundo acrescentou um ou outro novo ingrediente às comemorações. Mas tais acréscimos logo foram incorporados aos costumes regionais, enriquecendo-os.

Tradicionais, também, são as malhações de Judas, no Sábado de Aleluia. Em geral, são programadas. Cada comunidade organiza, espontaneamente, a sua. Grupos de crianças e de adolescentes reúnem-se, na maioria das vezes na sexta-feira, elaboram bonecos, com roupas velhas que enchem de palha e capim e, no dia seguinte, penduram-nos em postes, para que sejam devidamente espancados.

Alguns, são muito criativos. Revelam o espírito crítico do brasileiro e mostram a quantas anda o descontentamento popular com os homens públicos. Muitos desses bonecos ganham cartazes com nomes de políticos que tenham desagradado a população. Essas festividades são um campo riquíssimo de estudos do folclore, dos usos e costumes deste país tão peculiar, e com um povo tão religioso e criativo.   


(Artigo publicado na página 2, do caderno Metropolitano, do Correio Popular, em 13 de abril de 1995)

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