Vitória sem
comemorações
Pedro
J. Bondaczuk
A torcida brasileira
tem motivos, óbvios, para comemoração. Afinal, a seleção pentacampeã do mundo
galgou mais um degrau da escada metafórica que conduz a outro título, o sexto
da história das copas. Agora só faltam mais dois. São íngremes e dificílimos, é
verdade. Mas estão, teoricamente, ao alcance. Todavia... vejo poucas e
discretas comemorações. Isso não se deve a eventual má performance dos
comandados de Felipão, que aliás fizeram um Primeiro Tempo brilhante na vitória
por 2 a 1 contra a Colômbia, na tórrida Fortaleza. É certo que a principal
estrela da companhia, Neymar, não luziu. Provavelmente sentiu ainda os efeitos
das várias pancadas que recebeu no jogo contra o Chile. Nem foi preciso que
“tirasse algum coelho da cartola”, que protagonizasse algum dos lances mágicos
com que costuma encantar a torcida e superar a vigilância das defesas
adversárias.
A zaga brasileira
resolveu a parada. Foi eficiente na sua função específica, a de evitar o
sucesso do oponente. Mas foi além. Os dois gols que garantiram a vitória
brasileira foram de nossos competentes zagueiros: Thiago Silva e David Luiz.
Há, como se vê, motivos concretos para comemorações. Todavia... não estamos
comemorando. Não com a euforia e a intensidade que a façanha merece. O clima,
na torcida e no grupo da seleção, é de velório, ou quase. Afinal, o maior
craque dessa equipe inexperiente e visceral, que chora e que ri. foi absurda e
covardemente agredido por um defensor adversário, pelo ala colombiano Zuniga,
e... está fora da Copa. Isso mesmo, Neymar sofreu fratura em uma vértebra e
está fora do Mundial.
Que o futebol, de uns
tempos para cá, se tornou mais físico, mais viril e ríspido e menos técnico, é
público e notório. Porém, não se pode confundir virilidade com violência. Os
defensores europeus, por exemplo, são intensos em seu empenho para pararem os
principais e mais hábeis atacantes do mundo, mas, salvo uma ou outra exceção,
raramente os alijam de alguma partida e muito menos de determinada competição.
Todavia, na América do Sul ainda impera o malfadado “espírito de Libertadores”.
Conforme essa (estúpida) mentalidade, vale tudo para se obter a vitória, não
importa se o expediente adotado é lícito ou não, se é aético ou desonesto.
Neymar foi vítima dessa excrescência, que não tem nada a ver com esporte e,
portanto, com o futebol.
Eu tinha a intuição que
isso poderia acontecer. O jovem e talentoso astro brasileiro vinha sendo caçado
em campo há tempos, sob olhares complacentes de árbitros incompetentes e
preguiçosos. Torcedores estúpidos, que não abrem mão de paixões clubísticas nem
quando o assunto é seleção, pespegaram-lhe o rótulo de “cai cai” (que os
argentinos caracterizam com o termo, em espanhol, “piscinero”). Ou seja, de
contumaz simulador de faltas, para ludibriar a arbitragem. Quem assiste, porém,
suas atuações com isenção de ânimo, sem considerar Neymar como “inimigo” só
porque ele nunca vestiu a camisa do seu time de coração, sabe que noventa e
nove por cento das pancadas que parece levar leva de fato. Caso eventualmente
simule alguma falta, nenhuma dessas simulações é em quantidade e intensidade
maiores do que qualquer outro atleta.
Confiando nessa
(injusta e despropositada) fama, muitos e muitos defensores, sobretudo
sul-americanos, sentem-se liberados para caçar o menino de vinte e dois anos,
distribuindo-lhe pancadas, como se algo justificasse essa deslealdade e tamanha
violência. Contam, para isso, com a complacência de árbitros preguiçosos,
lenientes, ruins e despreparados, que fazem vistas grosas ao que lhes cabe
coibir. Até água mole em pedra dura de tanto que bate em algum momento a fura.
Pois é... Bateram, bateram e bateram tanto em Neymar, e não de agora, até que
alguém conseguiu o que vários tentaram em vão: tirar o craque de atividade... E
da Copa. E olhem que ele teve sorte em não ter que encerrar prematuramente uma
carreira que tinha (e tem) tudo para ser brilhante.
E o que vai acontecer
com o agressor? Nada?! Não é possível!. As imagens são claríssimas. Zuniga
entrou na maldade sobre Neymar. Não foi, como tenta argumentar, lance de jogo.
Foi nítida agressão. E mais, feita pelas costas, o que não deu à vítima a mais
remota possibilidade de defesa. Não se tratou de acidente de trabalho, como
muitos argumentam. Quem acha que foi, ou não assistiu as imagens e, portanto, é
desonesto em opinar sobre o que não viu. Ou é sumamente maldoso e mal
intencionado. Se a mordida de Luís Suarez no zagueiro Chielini lhe valeu nove
jogos e quatro meses de suspensão, além de multa, utilizando idêntico critério,
qual a punição que Zuniga merece?
A esse propósito,
concordo com um jornalista uruguaio, em entrevista que deu aos canais de TV a
cabo Fox Esportes, cujo nome não consegui memorizar. Ele comparou as duas
infrações. Disse: “Suarez mordeu, é verdade, o zagueiro italiano, que não
precisou, sequer, de atendimento médico. Prosseguiu no jogo, sem nenhuma
seqüela. Neymar, todavia, não somente teve que sair de campo para ir direto
para um hospital. Foi tirado da Copa”.
Suarez errou, óbvio, e
foi severamente punido. Mesmo sem deixar seqüela alguma em Chielini. E Zuniga?
Ficará impune? Afinal, seu ato covarde e despropositado, trouxe prejuízos, não
apenas técnicos, e não só para o Brasil. Lesou a própria Fifa, promotora do
Mundial. Tirou da Copa do Mundo uma de suas principais atrações. Ou estou
errado? Por isso, a torcida não está comemorando, não com a euforia que o feito
da Seleção merece: a classificação brasileira para as semifinais. Esse ato
violento e absurdo pode distorcer – possibilidade sumamente real – o próprio
resultado final da competição. E daí?!
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