Operário está mais perto do
poder
Pedro J. Bondaczuk
O
polonês Lech Walesa, mais uma vez, está em vias de fazer a história em seu
país, caso as pesquisas de opinião para as eleições presidenciais de hoje se
confirmem e os mais de 27 milhões de eleitores o consagrem definitivamente. Se
ele for eleito, será a primeira vez que um operário, que há dez anos era
simplesmente um humilde eletricista nos Estaleiros Lenin, da cidade portuária
de Gdansk, no Báltico --- a mesma Danzing alemã, que em 1939 foi um dos
pretextos para a invasão nazista ao território da Polônia --- chega ao poder.
Trata-se
de um homem nascido sob o signo do sucesso. Um líder com facilidade de
expressão, que prima pela franqueza em seus pronunciamentos e que por isso nem
sempre é bem interpretado. Mas é, sobretudo, um indivíduo de coragem.
Quando
em agosto de 1980 Walesa começou sua luta solitária para a criação do primeiro
sindicato livre no Leste europeu, o empenho foi noticiado no mundo todo não
porque alguém acreditasse no seu êxito, mas pelo insólito da situação. Muitos
apostavam que não demoraria muito para a polícia secreta comunista dar sumiço
nele. Outros achavam que o sindicalista não passava de um Dom Quixote, a
combater com os moinhos de vento do dogmatismo ideológico.
Um
ano depois de haver deflagrado o movimento, que empolgou o operariado polonês e
se espalhou com tanta velocidade quanto o fogo se espalha num capinzal seco, o
ousado eletricista de Gdansk experimentou na própria carne a reação, dura,
feroz, implacável, inflexível de um sistema cujos dirigentes diziam que era
"infalível". De uma ideologia que, a despeito de apregoar se tratar
da "ditadura do proletariado", era na verdade "sobre" ele.
Numa
sexta-feira 13, do mês de dezembro de 1981, o Solidariedade foi posto na ilegalidade
pelo general Wojciech Jaruzelski, mediante o expediente da Lei Marcial. Sua
liderança em peso foi para a prisão. Inclusive Walesa, logicamente, o cabeça do
movimento.
O
tempo passou. A persistência do líder sindical prevaleceu. Sua luta solitária e
pacífica valeu-lhe um Prêmio Nobel da Paz de 1983. Redundou, no ano passado,
num histórico acordo que minou as monolíticas bases do comunismo, a rigor já
carcomidas por péssimas administrações, pela corrupção e pela incompetência.
Resultou no primeiro gabinete de governo realmente democrático do Leste
europeu. E com certeza terá o magnífico "happy end" de uma história
repleta de lutas, de pertinácia, de fé e coragem, com a histórica eleição de
Walesa.
Será
uma inédita trajetória de um homem da oficina de trabalho rumo ao palácio
presidencial. Será o proletariado, de fato, no poder, não através de uma
ditadura, mas por consagração da vontade popular dos poloneses.
(Artigo
publicado na página 26, Internacional, do Correio Popular, em 25 de novembro de
1990).
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