Monday, July 28, 2014

Operário está mais perto do poder


Pedro J. Bondaczuk


O polonês Lech Walesa, mais uma vez, está em vias de fazer a história em seu país, caso as pesquisas de opinião para as eleições presidenciais de hoje se confirmem e os mais de 27 milhões de eleitores o consagrem definitivamente. Se ele for eleito, será a primeira vez que um operário, que há dez anos era simplesmente um humilde eletricista nos Estaleiros Lenin, da cidade portuária de Gdansk, no Báltico --- a mesma Danzing alemã, que em 1939 foi um dos pretextos para a invasão nazista ao território da Polônia --- chega ao poder.

Trata-se de um homem nascido sob o signo do sucesso. Um líder com facilidade de expressão, que prima pela franqueza em seus pronunciamentos e que por isso nem sempre é bem interpretado. Mas é, sobretudo, um indivíduo de coragem.

Quando em agosto de 1980 Walesa começou sua luta solitária para a criação do primeiro sindicato livre no Leste europeu, o empenho foi noticiado no mundo todo não porque alguém acreditasse no seu êxito, mas pelo insólito da situação. Muitos apostavam que não demoraria muito para a polícia secreta comunista dar sumiço nele. Outros achavam que o sindicalista não passava de um Dom Quixote, a combater com os moinhos de vento do dogmatismo ideológico.

Um ano depois de haver deflagrado o movimento, que empolgou o operariado polonês e se espalhou com tanta velocidade quanto o fogo se espalha num capinzal seco, o ousado eletricista de Gdansk experimentou na própria carne a reação, dura, feroz, implacável, inflexível de um sistema cujos dirigentes diziam que era "infalível". De uma ideologia que, a despeito de apregoar se tratar da "ditadura do proletariado", era na verdade "sobre" ele.

Numa sexta-feira 13, do mês de dezembro de 1981, o Solidariedade foi posto na ilegalidade pelo general Wojciech Jaruzelski, mediante o expediente da Lei Marcial. Sua liderança em peso foi para a prisão. Inclusive Walesa, logicamente, o cabeça do movimento.

O tempo passou. A persistência do líder sindical prevaleceu. Sua luta solitária e pacífica valeu-lhe um Prêmio Nobel da Paz de 1983. Redundou, no ano passado, num histórico acordo que minou as monolíticas bases do comunismo, a rigor já carcomidas por péssimas administrações, pela corrupção e pela incompetência. Resultou no primeiro gabinete de governo realmente democrático do Leste europeu. E com certeza terá o magnífico "happy end" de uma história repleta de lutas, de pertinácia, de fé e coragem, com a histórica eleição de Walesa.

Será uma inédita trajetória de um homem da oficina de trabalho rumo ao palácio presidencial. Será o proletariado, de fato, no poder, não através de uma ditadura, mas por consagração da vontade popular dos poloneses.

(Artigo publicado na página 26, Internacional, do Correio Popular, em 25 de novembro de 1990).


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