Camaradagem entre superpotências
O clima de distensão entre
as superpotências, erigido laboriosamente em três reuniões de cúpula entre o
presidente norte-americano, Ronald Reagan, e o líder soviético, Mikhail
Gorbachev, vem se mantendo intacto, e até se ampliando, a despeito das
desavenças existentes nas negociações de Genebra, sobre um acordo para a
redução em 50% dos mísseis ofensivos de longa distância dos Estados Unidos e da
URSS.
Isto
ficou bastante evidenciado, ontem, no encerramento da visita do secretário de
Estado, George Shultz, a Moscou. O encontro desse funcionário com o dirigente
do Cremlin foi marcado por amabilidades e até por algumas brincadeiras, como
que a refletir uma certa “camaradagem” desenvolvida entre ambos, impossível de
se prever há ainda pouco tempo.
O
chefe da diplomacia norte-americana, por outro lado, saiu de vários encontros
que manteve com as autoridades russas mais convencido do que nunca de que a
retirada do Afeganistão é algo iminente. Se ela de fato acontecer, com certeza
a confiança mútua entre os líderes das superpotências tende a crescer bastante,
facilitando, destarte, a solução de inúmeros outros problemas pendentes no
mundo, como as guerras civis de Angola, do Camboja, da América Central, da Etiópia
e de tantos outros recantos miseráveis, onde povos sofredores pagam um preço
muito alto pelo conflito ideológico entre Leste e Oeste.
Em
raras ocasiões foi possível sentir tamanho otimismo nas declarações de algum
secretário de Estado dos Estados Unidos, de regresso de Moscou, como o
expressado por Shultz, em sua entrevista coletiva de ontem. Esse clima
favorável, com toda certeza, deverá se refletir em todas as partes onde os dois
gigantes mundiais têm interesses.
Ou
seja, virtualmente, em todo o Planeta. Os “refuseniks” soviéticos, por exemplo,
serão os beneficiários mais imediatos, recebendo maior quantidade de vistos
para irem para Israel. A própria população da URSS vai se beneficiar, mediante
um respeito maior às suas liberdades individuais e aos seus direitos humanos
por parte das autoridades.
Oxalá
nenhum incidente banal, desses que costumam acontecer ao acaso ou ser
provocados pelos que vêem apenas no confronto o único caminho para as
superpotências, não venha a arruinar um laborioso trabalho diplomático,
desenvolvido nos últimos três anos. Que a pequenina abertura para a paz
existente agora seja ampliada, até se tornar uma estrada ampla, por onde toda a
humanidade possa trafegar.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 23 de fevereiro
de 1988).
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