Aumentam
casos de tortura
Pedro J. Bondaczuk
O relatório divulgado
ontem, em Londres, pela Anistia Internacional, a respeito de direitos humanos,
traz dados estarrecedores sobre a estupidez das pessoas no trato com seus
semelhantes. Mostra que em 1983, mais do que nunca, se matou, se espancou, se
torturou, se amputou, se prendeu ilegalmente em todo o mundo. E tudo isso na
maior das impunidades.
Pelo
documento da entidade humanitária, chega-se à conclusão de que a “Declaração
Universal dos Direitos Humanos” não passa de mera ficção, simples arremedo de
civilidade encenado por todas as nações com assento na ONU.
Os
direitos fundamentais dos indivíduos, à vida, liberdade e expressão do
pensamento, foram vergonhosamente violados em 117 países, das mais variadas
colorações ideológicas, de diversos e pelos mais cínicos motivos.
Se
não há respeito nas sociedades nacionais para com seus próprios integrantes, os
indivíduos que se auto-atribuem poderes até divinos, humilham, massacram,
matam, furtam e privam a liberdade de seus semelhantes, o que esperar de um
relacionamento internacional?
Como
acreditar que um sujeito que aterroriza, digamos, sua própria mulher e filhos
em seu lar, possa ser gentil, piedoso e íntegro no relacionamento com
estranhos? É muito difícil, senão impossível, que isso ocorra, não é mesmo? “O
lobo perde o pêlo mas não perde o vício”.
O
poderoso que é violento em relação a seus irmãos de nacionalidade, será um
tarado homicida quando tratar com alguém de outra comunidade, que não a sua.
Com
isso, os mesmos erros que conduziram civilizações inteiras à extinção, se
repetem, agora em maiores proporções, por afetarem muito mais pessoas. Os
mesmos déspotas tirânicos, ávidos por sangue e sofrimento, que do alto do seu
sadismo ditavam normas de vida ou morte às multidões, sobrevivem hoje,
travestidos de líderes políticos, de salvadores da pátria, de tutores
nacionais.
O
homem, em dez mil anos de civilização, conheceu avanços notáveis no campo das
Ciências Exatas, da Física, da Química, da Biologia e de outras disciplinas,
que tornaram mais fácil e confortável a vida. Entretanto, no tocante à
convivência com os semelhantes, ainda está a mil anos-luz de atraso em relação
aos tempos que vivemos.
O
ser humano, em geral, ainda tem dificuldades para entender que é efêmero e
transitório e que deste mundo nada leva ao morrer, mas apenas deixa: atos,
obras, pensamentos, realizações e permanentes ideais, que sobrevivem à própria
efemeridade do homem.
Alguns
legam à posteridade tantas e tão preciosas contribuições, que findam por se
tornar alvos de permanente respeito e reverência. Outros, entretanto, quando
baixam à tumba, terminam por receber um sinal da cruz apressado e supersticioso
à simples menção de seus nomes, exorcizados “ad perpetuum” por tudo o quanto de
mal representaram como paradigmas do lado ruim existente no animal “homo
sapiens”.
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 24 de outubro de
1984).
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