Friday, July 11, 2014

Aumentam casos de tortura


Pedro J. Bondaczuk


O relatório divulgado ontem, em Londres, pela Anistia Internacional, a respeito de direitos humanos, traz dados estarrecedores sobre a estupidez das pessoas no trato com seus semelhantes. Mostra que em 1983, mais do que nunca, se matou, se espancou, se torturou, se amputou, se prendeu ilegalmente em todo o mundo. E tudo isso na maior das impunidades.

Pelo documento da entidade humanitária, chega-se à conclusão de que a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” não passa de mera ficção, simples arremedo de civilidade encenado por todas as nações com assento na ONU.

Os direitos fundamentais dos indivíduos, à vida, liberdade e expressão do pensamento, foram vergonhosamente violados em 117 países, das mais variadas colorações ideológicas, de diversos e pelos mais cínicos motivos.

Se não há respeito nas sociedades nacionais para com seus próprios integrantes, os indivíduos que se auto-atribuem poderes até divinos, humilham, massacram, matam, furtam e privam a liberdade de seus semelhantes, o que esperar de um relacionamento internacional?

Como acreditar que um sujeito que aterroriza, digamos, sua própria mulher e filhos em seu lar, possa ser gentil, piedoso e íntegro no relacionamento com estranhos? É muito difícil, senão impossível, que isso ocorra, não é mesmo? “O lobo perde o pêlo mas não perde o vício”.

O poderoso que é violento em relação a seus irmãos de nacionalidade, será um tarado homicida quando tratar com alguém de outra comunidade, que não a sua.

Com isso, os mesmos erros que conduziram civilizações inteiras à extinção, se repetem, agora em maiores proporções, por afetarem muito mais pessoas. Os mesmos déspotas tirânicos, ávidos por sangue e sofrimento, que do alto do seu sadismo ditavam normas de vida ou morte às multidões, sobrevivem hoje, travestidos de líderes políticos, de salvadores da pátria, de tutores nacionais.

O homem, em dez mil anos de civilização, conheceu avanços notáveis no campo das Ciências Exatas, da Física, da Química, da Biologia e de outras disciplinas, que tornaram mais fácil e confortável a vida. Entretanto, no tocante à convivência com os semelhantes, ainda está a mil anos-luz de atraso em relação aos tempos que vivemos.

O ser humano, em geral, ainda tem dificuldades para entender que é efêmero e transitório e que deste mundo nada leva ao morrer, mas apenas deixa: atos, obras, pensamentos, realizações e permanentes ideais, que sobrevivem à própria efemeridade do homem.

Alguns legam à posteridade tantas e tão preciosas contribuições, que findam por se tornar alvos de permanente respeito e reverência. Outros, entretanto, quando baixam à tumba, terminam por receber um sinal da cruz apressado e supersticioso à simples menção de seus nomes, exorcizados “ad perpetuum” por tudo o quanto de mal representaram como paradigmas do lado ruim existente no animal “homo sapiens”.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 24 de outubro de 1984).


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