O Poder não admite vácuos
Pedro J. Bondaczuk
O
espectro do golpismo está rondando o Peru, embora vários líderes políticos
tentem negar essa possibilidade. Há dias, circularam versões dando conta de que
o presidente, Alan Garcia Perez, estaria na iminência de renunciar ao cargo.
Agora, os boatos que dominam Lima falam da possibilidade dos militares
assumirem o poder, para evitar que o país descambe para a anarquia
generalizada. O jovem mandatário, que assumiu, em 1985, com amplo apoio
popular, carregando consigo as esperanças não somente dos peruanos, mas de
todos os latino-americanos, de que viesse a se constituir numa nova e vigorosa
liderança para a região, fracassou em suas ações nada ortodoxas para debelar
uma grave crise econômica ditada, principalmente, pela falta de reservas em
divisas fortes. Ou seja, dólares.
O
presidente, que ao assumir avisou os bancos credores e as agências
multilaterais internacionais que utilizaria somente 10% do saldo da balança
comercial peruana para fazer face a um endividamento de US$ 16 bilhões, de
repente se viu isolado pelos seus pares no continente. Alan Garcia, certamente,
contava com uma grande adesão à sua tese, por parte de venezuelanos,
argentinos, colombianos e até mesmo brasileiros e mexicanos. Nada disso
aconteceu. Contava, talvez, encabeçar um "cartel dos endividados".
Cada devedor usou a sua própria estratégia na solução do problema. Ou seja, a
América Latina partiu dividida para negociações com banqueiros extremamente
unidos. Não tinha por isso nenhuma chance de sucesso e nem poderia ter.
Em
dias recentes, o governo peruano determinou um congelamento de salários e
preços, que acabou por desmoralizar de vez as autoridades perante a população.
No fim das contas, a "bomba" estourou sobre os trabalhadores. Seus
ganhos sim ficaram congelados, mas o custo das mercadorias, quando estas são
encontradas, já que o Peru vive uma agudíssima crise de desabastecimento
(evidentemente gerada pela especulação), foi à "estratosfera".
Tal
situação está levando a população ao desespero e daí à violência, abrindo
espaço à guerrilha, que desde 1980 combate o regime. Alan Garcia permitiu um
"vácuo no poder", conforme ressaltou o ex-presidente, Fernando
Belaunde Terry, o que poderá determinar a sua deposição, a menos que ele reaja
e tome pulso novamente da situação e conte com o apoio da sociedade na defesa
da ordem institucional. Caso contrário, seus dias no governo estão contados.
Afinal, é um axioma primaríssimo em política aquele que diz que "o poder
não admite vácuos".
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 22 de setembro de
1988)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment