Saturday, July 26, 2014

O Poder não admite vácuos

Pedro J. Bondaczuk


O espectro do golpismo está rondando o Peru, embora vários líderes políticos tentem negar essa possibilidade. Há dias, circularam versões dando conta de que o presidente, Alan Garcia Perez, estaria na iminência de renunciar ao cargo. Agora, os boatos que dominam Lima falam da possibilidade dos militares assumirem o poder, para evitar que o país descambe para a anarquia generalizada. O jovem mandatário, que assumiu, em 1985, com amplo apoio popular, carregando consigo as esperanças não somente dos peruanos, mas de todos os latino-americanos, de que viesse a se constituir numa nova e vigorosa liderança para a região, fracassou em suas ações nada ortodoxas para debelar uma grave crise econômica ditada, principalmente, pela falta de reservas em divisas fortes. Ou seja, dólares.

O presidente, que ao assumir avisou os bancos credores e as agências multilaterais internacionais que utilizaria somente 10% do saldo da balança comercial peruana para fazer face a um endividamento de US$ 16 bilhões, de repente se viu isolado pelos seus pares no continente. Alan Garcia, certamente, contava com uma grande adesão à sua tese, por parte de venezuelanos, argentinos, colombianos e até mesmo brasileiros e mexicanos. Nada disso aconteceu. Contava, talvez, encabeçar um "cartel dos endividados". Cada devedor usou a sua própria estratégia na solução do problema. Ou seja, a América Latina partiu dividida para negociações com banqueiros extremamente unidos. Não tinha por isso nenhuma chance de sucesso e nem poderia ter.

Em dias recentes, o governo peruano determinou um congelamento de salários e preços, que acabou por desmoralizar de vez as autoridades perante a população. No fim das contas, a "bomba" estourou sobre os trabalhadores. Seus ganhos sim ficaram congelados, mas o custo das mercadorias, quando estas são encontradas, já que o Peru vive uma agudíssima crise de desabastecimento (evidentemente gerada pela especulação), foi à "estratosfera".

Tal situação está levando a população ao desespero e daí à violência, abrindo espaço à guerrilha, que desde 1980 combate o regime. Alan Garcia permitiu um "vácuo no poder", conforme ressaltou o ex-presidente, Fernando Belaunde Terry, o que poderá determinar a sua deposição, a menos que ele reaja e tome pulso novamente da situação e conte com o apoio da sociedade na defesa da ordem institucional. Caso contrário, seus dias no governo estão contados. Afinal, é um axioma primaríssimo em política aquele que diz que "o poder não admite vácuos".

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 22 de setembro de 1988)


 Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk   

No comments: