Ninguém convence o eleitor
indeciso
Pedro J. Bondaczuk
A
atual campanha presidencial norte-americana está tão parelha, que nem mesmo o
debate entre os dois candidatos pela televisão conseguiu desempatar as coisas,
o que normalmente tem ocorrido nesse país desde a década de 60. O republicano
George Bush e o democrata Michael Dukakis, certamente muito bem orientados por
seus respectivas "stafs", saíram-se a contento diante das câmeras. Em
momento algum deixaram de sorrir, mesmo quando as farpas lançadas por um sobre
o outro eram das mais virulentas. E estas, por sinal, não faltaram. O debate
inteiro foi caracterizado por mútuas acusações. Bush, convenhamos, ficou mais
tempo na defensiva. Como na questão de apoio ao general panamenho Manoel Antonio
Noriega. Ou do elogio que deu ao ex-ditador filipino, Ferdinand Marcos, o
chamando de "defensor da democracia", antes que o povo das Filipinas
o escorraçasse, num amplo movimento popular.
É
claro que não poderiam faltar acusações acerca do escândalo
"Irã-contras", como não faltaram. Dukakis, por seu turno, também não
deixou de receber as suas "estocadas". O vice-presidente insinuou,
por exemplo, que ele não era lá muito patriota, por ter abolido o juramento à
bandeira nas escolas de Massachusetts. Além disso, o candidato democrata foi
classificado como muito "liberal", o que nos Estados Unidos equivale
a dizer que ele é "comunista". Bush chegou a afirmar que o seu
opositor possuía carteirinha de uma entidade que teria um caráter "um
tanto de esquerda".
Ainda
assim, apesar de nenhum dos dois ter perdido as estribeiras e mostrado uma
imagem agressiva ao telespectador, nós sentimos uma ligeira preponderância de
Dukakis no debate. Algo bastante sutil. Uma certa convicção maior, uma frieza
mais acentuada, um domínio melhor de cena. A princípio julgamos ter sido apenas
impressão. Todavia, logo a seguir uma pesquisa de opinião da rede de televisão
ABC confirmou nossa avaliação. Os consultados acharam que o governador de
Massachusetts foi o ganhador desse primeiro confronto.
Pelo
menos 44% dos que foram ouvidos pensam assim. Dentro de duas semanas, teremos
um segundo debate, agora com os adversários já se conhecendo um pouco melhor e
sendo orientados para explorar os pontos fracos alheios. O que se percebe à
distância é que o prestígio do presidente Ronald Reagan está pesando na balança
a favor de George Bush. Mas embora simpatizemos mais com suas posições,
principalmente no que diz respeito à questão do aborto, sentimos que Dukakis
tem condições de surpreender. Apesar de ter viajado por todos os Estados
Unidos, até aqui ele não era lá uma grande celebridade nacional. Daqui para a
frente, porém, a menos que o grande carisma do atual mandatário venha a
desequilibrar a balança em favor do seu vice, em 8 de novembro próximo, nenhum
resultado que sair das urnas poderá ser considerado surpreendente.
(Artigo
publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 27 de setembro de
1988)
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