Tuesday, July 15, 2014

Ninguém convence o eleitor indeciso


Pedro J. Bondaczuk


A atual campanha presidencial norte-americana está tão parelha, que nem mesmo o debate entre os dois candidatos pela televisão conseguiu desempatar as coisas, o que normalmente tem ocorrido nesse país desde a década de 60. O republicano George Bush e o democrata Michael Dukakis, certamente muito bem orientados por seus respectivas "stafs", saíram-se a contento diante das câmeras. Em momento algum deixaram de sorrir, mesmo quando as farpas lançadas por um sobre o outro eram das mais virulentas. E estas, por sinal, não faltaram. O debate inteiro foi caracterizado por mútuas acusações. Bush, convenhamos, ficou mais tempo na defensiva. Como na questão de apoio ao general panamenho Manoel Antonio Noriega. Ou do elogio que deu ao ex-ditador filipino, Ferdinand Marcos, o chamando de "defensor da democracia", antes que o povo das Filipinas o escorraçasse, num amplo movimento popular.

É claro que não poderiam faltar acusações acerca do escândalo "Irã-contras", como não faltaram. Dukakis, por seu turno, também não deixou de receber as suas "estocadas". O vice-presidente insinuou, por exemplo, que ele não era lá muito patriota, por ter abolido o juramento à bandeira nas escolas de Massachusetts. Além disso, o candidato democrata foi classificado como muito "liberal", o que nos Estados Unidos equivale a dizer que ele é "comunista". Bush chegou a afirmar que o seu opositor possuía carteirinha de uma entidade que teria um caráter "um tanto de esquerda".

Ainda assim, apesar de nenhum dos dois ter perdido as estribeiras e mostrado uma imagem agressiva ao telespectador, nós sentimos uma ligeira preponderância de Dukakis no debate. Algo bastante sutil. Uma certa convicção maior, uma frieza mais acentuada, um domínio melhor de cena. A princípio julgamos ter sido apenas impressão. Todavia, logo a seguir uma pesquisa de opinião da rede de televisão ABC confirmou nossa avaliação. Os consultados acharam que o governador de Massachusetts foi o ganhador desse primeiro confronto.

Pelo menos 44% dos que foram ouvidos pensam assim. Dentro de duas semanas, teremos um segundo debate, agora com os adversários já se conhecendo um pouco melhor e sendo orientados para explorar os pontos fracos alheios. O que se percebe à distância é que o prestígio do presidente Ronald Reagan está pesando na balança a favor de George Bush. Mas embora simpatizemos mais com suas posições, principalmente no que diz respeito à questão do aborto, sentimos que Dukakis tem condições de surpreender. Apesar de ter viajado por todos os Estados Unidos, até aqui ele não era lá uma grande celebridade nacional. Daqui para a frente, porém, a menos que o grande carisma do atual mandatário venha a desequilibrar a balança em favor do seu vice, em 8 de novembro próximo, nenhum resultado que sair das urnas poderá ser considerado surpreendente.

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 27 de setembro de 1988)


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