Tuesday, July 01, 2014

Revendo a gravação do jogo

Pedro J. Bondaczuk

Revi o jogo da Seleção Brasileira contra o Chile, que tive o capricho de gravar, para entender a razão dos comandados de Felipão terem enfrentado tantas dificuldades para sua classificação para a fase seguinte da competição. Aliás, assisti a essa gravação não apenas uma vez, mas várias, na verdade três, já que durante os mais de 120 minutos, com o coração ameaçando sair pela boca, não foi possível atentar para nenhum detalhe técnico, muito menos tático. Como todo torcedor (aliás, nem todo, já que muitos, pelo menos da boca para fora, torcem pela eliminação do nosso selecionado), na transmissão ao vivo, procurava enviar eflúvios positivos (como se isso fosse possível) aos nossos jogadores, para que achassem um mísero golzinho que fosse e evitassem a prorrogação e, sobretudo, a decisão por pênaltis.

Não me saía, teimosamente, da memória, aquela desclassificação brasileira diante do Paraguai, na última Copa América, disputada na Argentina. O leitor certamente se lembra do que aconteceu naquela ocasião. Nossos jogadores cobraram, de forma ridícula e irritante, todos os pênaltis (ou quase todos, já não tenho certeza), determinando nossa saída precoce daquela competição. Não queria, portanto, passar por idêntico drama, ainda mais em uma Copa do Mundo e tendo o Brasil como anfitrião. Quis o acaso, todavia, que tivéssemos que passar por esse martírio outra vez. E o resultado foi só um pouquinho diferente. Mas a diferença foi suficiente para evitar um vexame muito, muitíssimo maior do que o “Maracanazzo” de 1950.

Dois, dos cinco pênaltis, foram desperdiçados, respectivamente por William e por Hulk. Só que, ao contrário da Copa América, brilhou a estrela do goleiro Júlio César, com duas defesas providenciais. E, principalmente, fomos favorecidos pelo fator sorte, com a bola que o zagueiro chileno Jara chutou contra a trave. Ufa! Essa dramática decisão será lembrada por muitos anos, quer o Brasil conquiste a Copa (principalmente), quer fique pelo caminho. Aliás, aconteceu algo parecido (mas muito mais importante) em 1994, nos Estados Unidos, com aquela cobrança de pênalti para as nuvens do italiano Roberto Baggio, justo o maior craque da Itália, o que na oportunidade valeu à Seleção Brasileira o tetracampeonato mundial.

Mas, como ia dizendo, revi a gravação do jogo contra o Chile, e mais de uma vez (na verdade três) e sabem o que concluí? Que o Brasil não jogou tão mal como me pareceu ao vivo. “Mas como?!, dirá o leitor, achando que estou fora do eixo ou que, no mínimo, estou me deixando levar pela paixão de torcedor. Porém, é fácil de conferir. Assista a gravação. Ah, você não gravou? Azar seu! Aliás, acho que nenhum dos tantos cronistas esportivos, que deitaram falação à beça nas várias mesas redondas de que participaram, igualmente não reviu a partida. Alguns não viram sequer a edição dos melhores lances. Se vissem, não diriam tantos disparates como disseram. Se acham que estou exagerando, é fácil de comprovar ou de desmentir: revejam o jogo, assim como eu fiz.

Com toda a certeza, alguém me lembrará da bola no travessão, chutada pelo atacante Pinilla, no penúltimo minuto da prorrogação, para provar que estou errado ou até maluco.. Se aquele chute fosse convertido em gol, babau Copa para nós. Mas aí entramos em um terreno totalmente subjetivo: o das hipóteses o do que não aconteceu. É como dizer, e com razão, que “se eu não fosse pobre, seria rico”. Ora, ora, ora. Há, todavia, no meu caso, essa incômoda condição. A mesma que houve no Mineirão, posto que em outro contexto. Sejamos objetivos. Além dessa bola na trave, e da única defesa complicada de Júlio César, num chute do excelente volante chileno Aranguiz, qual outra oportunidade real o adversário teve? Nenhuma! Revejam a gravação! E quantas foram as oportunidades do Brasil? Só de Neymar, que ao vivo me pareceu ter jogado mal, foram três, numa das quais o goleiro Bravo teve que trabalhar bastante.

Não estou afirmando que a Seleção Brasileira fez a partida dos sonhos. Óbvio que não fez. Tanto que o gol chileno, a exemplo do que já havia ocorrido na estréia, contra a Croácia, foi um “presentão” da nossa defesa. Não tivemos meio de campo e vários dos nossos principais atletas deixaram, muito a desejar. Mas daí dizer que o Chile jogou melhor, que colocou nossa seleção na roda e tantos outros disparates ditos por aí, é não ter assistido o jogo com a devida atenção (o que no caso, é até compreensível) ou não ter frieza e espírito crítico suficientes para ser comentarista de rádio ou de TV (no caso, os que o são).

Ouso dizer que, se aquela bola do Pinilla entrasse, seria a desclassificação brasileira mais injusta da história, embora sempre tenha em mente que futebol nada tem a ver com justiça. O Brasil jogou mal? Para os padrões de um pentacampeão mundial, sim. Foi, todavia, pior do que o adversário? Objetivamente, não, não e não. Antes de me contestarem, assistam, com isenção, a gravação do jogo. Agora, que a coisa passou, não há razão para que o coração ameace sair pela boca. Só espero que os jogadores saibam extrair lições dos erros que cometeram (que foram muitos, admito) e que não os repitam contra a Colômbia. Mas que não joguem no lixo tudo o que de bom fizeram. E que não judiem tanto da gente. Que reconquistem, sobretudo, nossa confiança com a única forma em que isso é possível: com uma atuação de gala, digna de pentacampeões.


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