Revendo a gravação do
jogo
Pedro
J. Bondaczuk
Revi o jogo da Seleção
Brasileira contra o Chile, que tive o capricho de gravar, para entender a razão
dos comandados de Felipão terem enfrentado tantas dificuldades para sua
classificação para a fase seguinte da competição. Aliás, assisti a essa
gravação não apenas uma vez, mas várias, na verdade três, já que durante os
mais de 120 minutos, com o coração ameaçando sair pela boca, não foi possível
atentar para nenhum detalhe técnico, muito menos tático. Como todo torcedor
(aliás, nem todo, já que muitos, pelo menos da boca para fora, torcem pela
eliminação do nosso selecionado), na transmissão ao vivo, procurava enviar
eflúvios positivos (como se isso fosse possível) aos nossos jogadores, para que
achassem um mísero golzinho que fosse e evitassem a prorrogação e, sobretudo, a
decisão por pênaltis.
Não me saía,
teimosamente, da memória, aquela desclassificação brasileira diante do Paraguai,
na última Copa América, disputada na Argentina. O leitor certamente se lembra
do que aconteceu naquela ocasião. Nossos jogadores cobraram, de forma ridícula
e irritante, todos os pênaltis (ou quase todos, já não tenho certeza),
determinando nossa saída precoce daquela competição. Não queria, portanto,
passar por idêntico drama, ainda mais em uma Copa do Mundo e tendo o Brasil
como anfitrião. Quis o acaso, todavia, que tivéssemos que passar por esse
martírio outra vez. E o resultado foi só um pouquinho diferente. Mas a
diferença foi suficiente para evitar um vexame muito, muitíssimo maior do que o
“Maracanazzo” de 1950.
Dois, dos cinco
pênaltis, foram desperdiçados, respectivamente por William e por Hulk. Só que,
ao contrário da Copa América, brilhou a estrela do goleiro Júlio César, com
duas defesas providenciais. E, principalmente, fomos favorecidos pelo fator
sorte, com a bola que o zagueiro chileno Jara chutou contra a trave. Ufa! Essa
dramática decisão será lembrada por muitos anos, quer o Brasil conquiste a Copa
(principalmente), quer fique pelo caminho. Aliás, aconteceu algo parecido (mas
muito mais importante) em 1994, nos Estados Unidos, com aquela cobrança de
pênalti para as nuvens do italiano Roberto Baggio, justo o maior craque da
Itália, o que na oportunidade valeu à Seleção Brasileira o tetracampeonato
mundial.
Mas, como ia dizendo,
revi a gravação do jogo contra o Chile, e mais de uma vez (na verdade três) e
sabem o que concluí? Que o Brasil não jogou tão mal como me pareceu ao vivo.
“Mas como?!, dirá o leitor, achando que estou fora do eixo ou que, no mínimo,
estou me deixando levar pela paixão de torcedor. Porém, é fácil de conferir.
Assista a gravação. Ah, você não gravou? Azar seu! Aliás, acho que nenhum dos
tantos cronistas esportivos, que deitaram falação à beça nas várias mesas
redondas de que participaram, igualmente não reviu a partida. Alguns não viram
sequer a edição dos melhores lances. Se vissem, não diriam tantos disparates
como disseram. Se acham que estou exagerando, é fácil de comprovar ou de
desmentir: revejam o jogo, assim como eu fiz.
Com toda a certeza,
alguém me lembrará da bola no travessão, chutada pelo atacante Pinilla, no
penúltimo minuto da prorrogação, para provar que estou errado ou até maluco..
Se aquele chute fosse convertido em gol, babau Copa para nós. Mas aí entramos
em um terreno totalmente subjetivo: o das hipóteses o do que não aconteceu. É
como dizer, e com razão, que “se eu não fosse pobre, seria rico”. Ora, ora,
ora. Há, todavia, no meu caso, essa incômoda condição. A mesma que houve no
Mineirão, posto que em outro contexto. Sejamos objetivos. Além dessa bola na
trave, e da única defesa complicada de Júlio César, num chute do excelente
volante chileno Aranguiz, qual outra oportunidade real o adversário teve?
Nenhuma! Revejam a gravação! E quantas foram as oportunidades do Brasil? Só de
Neymar, que ao vivo me pareceu ter jogado mal, foram três, numa das quais o
goleiro Bravo teve que trabalhar bastante.
Não estou afirmando que
a Seleção Brasileira fez a partida dos sonhos. Óbvio que não fez. Tanto que o
gol chileno, a exemplo do que já havia ocorrido na estréia, contra a Croácia,
foi um “presentão” da nossa defesa. Não tivemos meio de campo e vários dos
nossos principais atletas deixaram, muito a desejar. Mas daí dizer que o Chile
jogou melhor, que colocou nossa seleção na roda e tantos outros disparates
ditos por aí, é não ter assistido o jogo com a devida atenção (o que no caso, é
até compreensível) ou não ter frieza e espírito crítico suficientes para ser
comentarista de rádio ou de TV (no caso, os que o são).
Ouso dizer que, se
aquela bola do Pinilla entrasse, seria a desclassificação brasileira mais
injusta da história, embora sempre tenha em mente que futebol nada tem a ver
com justiça. O Brasil jogou mal? Para os padrões de um pentacampeão mundial,
sim. Foi, todavia, pior do que o adversário? Objetivamente, não, não e não.
Antes de me contestarem, assistam, com isenção, a gravação do jogo. Agora, que
a coisa passou, não há razão para que o coração ameace sair pela boca. Só
espero que os jogadores saibam extrair lições dos erros que cometeram (que
foram muitos, admito) e que não os repitam contra a Colômbia. Mas que não
joguem no lixo tudo o que de bom fizeram. E que não judiem tanto da gente. Que reconquistem,
sobretudo, nossa confiança com a única forma em que isso é possível: com uma
atuação de gala, digna de pentacampeões.
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