Dia do Escritor
Pedro
J. Bondaczuk
A data de 25 de julho
de cada ano marca o “Dia do Escritor Brasileiro”. Você sabia disso, precioso
leitor? Eu não! Não, pelo menos, até 2013, quando li um post a propósito no
Facebook. Perdoem minha ignorância a respeito, que, a rigor, não é somente
minha, mas de uma infinidade de pessoas. A data existe há mais de meio século!
Todavia... só tão recentemente tomei conhecimento dela. E olhem que sou ávido
pesquisador de tudo o que se refira a essa atividade tão essencial à
civilização, que é a Literatura. Imaginem quem não lhe dá a importância que
deveria dar!
Esse desconhecimento,
porém, é sintomático. Revela o principal problema que nós, que vivemos de
texto, enfrentamos o tempo todo: a falta de divulgação. Escrever um livro,
embora exija de quem se propõe a fazê-lo uma série de pressupostos (sobretudo o
de ter o que dizer e ter competência para fazê-lo com clareza e correção), não
é nosso desafio maior. Nem convencer alguma editora a publicá-lo, embora se
trate de tarefa estafante e irritante. Depois de publicada nossa obra, é que
começa nosso verdadeiro drama. Para que as pessoas possam comprá-la, claro,
precisam saber que ela existe, que versa sobre tal e tal assunto e que está à
venda na livraria “x”, “y” ou “z”. Ou seja, é indispensável a divulgação. E é
aí que a coisa pega.
Uma infinidade de
livros deixa de ser vendida pelo simples fato de seus destinatários, seus
leitores potenciais, sequer saberem que existem. Por causa disso, homens de
letras brilhantes, que têm tudo para se impor no cenário literário nacional e
até internacional, vêem suas tão sonhadas carreiras interrompidas no
nascedouro, natimortas por causa desse simples, todavia essencial detalhe:
falta de divulgação. Ou estou exagerando? Quem já tentou essa empreitada ou
ainda está tentando sabe que sequer estou revelando qualquer novidade. Estou,
isso sim, sendo redundante e repetitivo. Há, claro, os que, de uma forma ou de
outra, superam essa barreira e se consagram. Mas muitos e muitos talentos são
mortos no nascedouro por não saberem, ou não poderem divulgar seus livros.
O “Dia do Escritor
Brasileiro” foi criado em 25 de julho de 1960, há, portanto, mais de meio
século. Entre seus criadores está um ícone da Literatura mundial, que foi (e
sempre será) o bom baiano Jorge Amado. Seu parceiro na empreitada foi João
Peregrino Junior. Ambos eram, na oportunidade, respectivamente, vice-presidente
e presidente da União Brasileira de Escritores. Você sabia disso, esclarecido
leitor? Eu não! Não pelo menos a até um ano. Por que? Porque ou não foi
divulgado ou, se o foi, foi pouquíssimo e em veículos de divulgação de pouca ou
nenhuma penetração junto ao público. A data foi instituída para marcar o
“Primeiro Festival do Escritor Brasileiro”. Não sei se foram promovidos outros
ou se o evento foi único. Suponho que nunca mais foi repetido (embora não possa
jurar).
Para marcar a data,
nada é mais apropriado do que dar voz a quem exerceu, ou ainda exerce a
atividade. Pincei, a esmo, em várias fontes, citações de alguns escritores
sobre o ato de escrever, sobretudo, livros. Um deles é o francês François
Chateaubriand, um dos precursores do Romantismo na França, que escreveu, no
livro “O gênio do cristianismo”: “O escritor original não é aquele que não
imita ninguém, mas sim aquele que ninguém pode imitar”. E não está certo?
Certíssimo, ora bolas!
François Delacroix, por
seu turno, aborda o objetivo maior de qualquer homem de letras. Escreveu: “O
maior triunfo do escritor é fazer pensar os que podem pensar”. Pelo menos é o
que procuro quando redijo qualquer texto literário. Se conseguir induzir uma
única pessoa que seja à reflexão, já me considerarei realizado e, sobretudo,
vitorioso. Nem sempre conseguimos isso, por uma série de razões que nos compete
detectar e corrigir, quando for o caso. Muitas vezes pensamos corretamente, mas
não conseguimos transcrever com exatidão o pensamento. Julien Green tem
explicação para isso: “O pensamento voa e as palavras vão a pé: eis o drama do
escritor”. E não é?
A esse propósito, o
alemão Thomas Mann escreveu, em seu célebre romance “A morte em Veneza”: “A
felicidade do escritor é o pensamento que consegue transformar-se completamente
em sentimento e é o sentimento que consegue transformar-se completamente em
pensamento”. Raros conseguem promover essa transformação. Mas os que
conseguem... caem no nosso gosto e provavelmente tornam-se nossos “gurus”. O
mesmo Thomas Mann tem outra citação que sempre que trazida à baila, gera
polêmica. O motivo é que, quem discorda dela, não compreende sua sutileza. O
romancista alemão escreveu, em determinado trecho do livro “Tristão”: “O
escritor é um homem que mais do que qualquer outro tem dificuldades para
escrever”. E por que ele achava isso? Pelo escritor não dominar as regras do
idioma? Muito pelo contrário! Isso se deve (e é sumamente verdadeiro) pelo
nosso (saudável, se sem exagero) perfeccionismo. Por querermos sempre melhorar,
em busca da perfeição, o que por si só já é sumamente louvável.
Finalmente, menciono o
que o português Vergílio Ferreira escreveu sobre nós (e sobre ele mesmo,
obviamente): “Todo escritor que é original é diferente. Mas nem todo que é
diferente é original. A originalidade vem de dentro para fora. A diferença é ao
contrário. A diferença, vê-se, a originalidade, sente-se. Assim, uma é fácil e
a outra é difícil”. Que essa data nos sirva, sobretudo, para reflexão, no
sentido de melhorarmos nossas idéias, nosso estilo e nossa maneira de
expressão. E que encontremos formas de chegarmos, com nossos livros, até nosso
imprescindível parceiro, aquele sem o qual não haveria Literatura, por ela se
tornar inútil: você, preciosíssimo e indispensável leitor.
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