Saturday, July 26, 2014

Dia do Escritor

Pedro J. Bondaczuk

A data de 25 de julho de cada ano marca o “Dia do Escritor Brasileiro”. Você sabia disso, precioso leitor? Eu não! Não, pelo menos, até 2013, quando li um post a propósito no Facebook. Perdoem minha ignorância a respeito, que, a rigor, não é somente minha, mas de uma infinidade de pessoas. A data existe há mais de meio século! Todavia... só tão recentemente tomei conhecimento dela. E olhem que sou ávido pesquisador de tudo o que se refira a essa atividade tão essencial à civilização, que é a Literatura. Imaginem quem não lhe dá a importância que deveria dar!

Esse desconhecimento, porém, é sintomático. Revela o principal problema que nós, que vivemos de texto, enfrentamos o tempo todo: a falta de divulgação. Escrever um livro, embora exija de quem se propõe a fazê-lo uma série de pressupostos (sobretudo o de ter o que dizer e ter competência para fazê-lo com clareza e correção), não é nosso desafio maior. Nem convencer alguma editora a publicá-lo, embora se trate de tarefa estafante e irritante. Depois de publicada nossa obra, é que começa nosso verdadeiro drama. Para que as pessoas possam comprá-la, claro, precisam saber que ela existe, que versa sobre tal e tal assunto e que está à venda na livraria “x”, “y” ou “z”. Ou seja, é indispensável a divulgação. E é aí que a coisa pega.

Uma infinidade de livros deixa de ser vendida pelo simples fato de seus destinatários, seus leitores potenciais, sequer saberem que existem. Por causa disso, homens de letras brilhantes, que têm tudo para se impor no cenário literário nacional e até internacional, vêem suas tão sonhadas carreiras interrompidas no nascedouro, natimortas por causa desse simples, todavia essencial detalhe: falta de divulgação. Ou estou exagerando? Quem já tentou essa empreitada ou ainda está tentando sabe que sequer estou revelando qualquer novidade. Estou, isso sim, sendo redundante e repetitivo. Há, claro, os que, de uma forma ou de outra, superam essa barreira e se consagram. Mas muitos e muitos talentos são mortos no nascedouro por não saberem, ou não poderem divulgar seus livros.

O “Dia do Escritor Brasileiro” foi criado em 25 de julho de 1960, há, portanto, mais de meio século. Entre seus criadores está um ícone da Literatura mundial, que foi (e sempre será) o bom baiano Jorge Amado. Seu parceiro na empreitada foi João Peregrino Junior. Ambos eram, na oportunidade, respectivamente, vice-presidente e presidente da União Brasileira de Escritores. Você sabia disso, esclarecido leitor? Eu não! Não pelo menos a até um ano. Por que? Porque ou não foi divulgado ou, se o foi, foi pouquíssimo e em veículos de divulgação de pouca ou nenhuma penetração junto ao público. A data foi instituída para marcar o “Primeiro Festival do Escritor Brasileiro”. Não sei se foram promovidos outros ou se o evento foi único. Suponho que nunca mais foi repetido (embora não possa jurar).

Para marcar a data, nada é mais apropriado do que dar voz a quem exerceu, ou ainda exerce a atividade. Pincei, a esmo, em várias fontes, citações de alguns escritores sobre o ato de escrever, sobretudo, livros. Um deles é o francês François Chateaubriand, um dos precursores do Romantismo na França, que escreveu, no livro “O gênio do cristianismo”: “O escritor original não é aquele que não imita ninguém, mas sim aquele que ninguém pode imitar”. E não está certo? Certíssimo, ora bolas!

François Delacroix, por seu turno, aborda o objetivo maior de qualquer homem de letras. Escreveu: “O maior triunfo do escritor é fazer pensar os que podem pensar”. Pelo menos é o que procuro quando redijo qualquer texto literário. Se conseguir induzir uma única pessoa que seja à reflexão, já me considerarei realizado e, sobretudo, vitorioso. Nem sempre conseguimos isso, por uma série de razões que nos compete detectar e corrigir, quando for o caso. Muitas vezes pensamos corretamente, mas não conseguimos transcrever com exatidão o pensamento. Julien Green tem explicação para isso: “O pensamento voa e as palavras vão a pé: eis o drama do escritor”. E não é?

A esse propósito, o alemão Thomas Mann escreveu, em seu célebre romance “A morte em Veneza”: “A felicidade do escritor é o pensamento que consegue transformar-se completamente em sentimento e é o sentimento que consegue transformar-se completamente em pensamento”. Raros conseguem promover essa transformação. Mas os que conseguem... caem no nosso gosto e provavelmente tornam-se nossos “gurus”. O mesmo Thomas Mann tem outra citação que sempre que trazida à baila, gera polêmica. O motivo é que, quem discorda dela, não compreende sua sutileza. O romancista alemão escreveu, em determinado trecho do livro “Tristão”: “O escritor é um homem que mais do que qualquer outro tem dificuldades para escrever”. E por que ele achava isso? Pelo escritor não dominar as regras do idioma? Muito pelo contrário! Isso se deve (e é sumamente verdadeiro) pelo nosso (saudável, se sem exagero) perfeccionismo. Por querermos sempre melhorar, em busca da perfeição, o que por si só já é sumamente louvável.

Finalmente, menciono o que o português Vergílio Ferreira escreveu sobre nós (e sobre ele mesmo, obviamente): “Todo escritor que é original é diferente. Mas nem todo que é diferente é original. A originalidade vem de dentro para fora. A diferença é ao contrário. A diferença, vê-se, a originalidade, sente-se. Assim, uma é fácil e a outra é difícil”. Que essa data nos sirva, sobretudo, para reflexão, no sentido de melhorarmos nossas idéias, nosso estilo e nossa maneira de expressão. E que encontremos formas de chegarmos, com nossos livros, até nosso imprescindível parceiro, aquele sem o qual não haveria Literatura, por ela se tornar inútil: você, preciosíssimo e indispensável leitor.


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