Sunday, July 20, 2014

Irã, mais uma vez, sob suspeita geral


Pedro J. Bondaczuk


As suspeitas sobre o Irã, de que o país teria algo a ver com o seqüestro do Boeing 747 da Kuwait Airways, ocorrido no dia 5 passado, estão se avolumando, à medida em que o tempo passa e o caso continua sem nenhuma solução.

É verdade que os acusadores são um tanto parciais em suas acusações. Afinal, todos os que levantaram essa hipótese (sem a apresentação de qualquer indício confirmando a possibilidade), são adversários da República Islâmica. O primeiro a falar disso foi Yasser Arafat, o líder da Organização para a Libertação da Palestina, na terça-feira.

Outro que abordou a questão, e bateu na mesma tecla, foi o chefe da guerrilha antiiraniana, anteontem. Este chegou, inclusive, a responsabilizar o presidente do Parlamento persa, Akbar Hashemi Rafsanjani, como sendo o planejador do ato de pirataria aérea.

Quando da ocorrência do seqüestro nós afirmamos, neste mesmo espaço, que o Irã tinha, com ele, uma oportunidade e um risco. A primeira era a de limpar o seu nome, já que o país é freqüentemente apontado como um Estado patrocinador do terror. O segundo se prendia ao fato de, caso Teerã não resolvesse o impasse enquanto o avião estivesse estacionado no aeroporto de Mashhad, em seu território, tais suspeitas iriam se avolumar. Afinal, a República Islâmica, justa ou injustamente, já tem essa fama perante a opinião pública internacional. E é o que está acontecendo.

Prender-se somente à não-solução do seqüestro, no entanto, para acusar o regime dos aiatolás, é uma atitude injusta e preconceituosa. O governo de Chipre também não conseguiu acabar com ele e nem por isso as autoridades cipriotas estão sob suspeição de cumplicidade com os terroristas.

O mesmo vem acontecendo com a Argélia, país que já possui tradição mediadora, já que foi aquele que ajudou a resolver o caso mais longo e intrincado do tipo. Ou seja, o da tomada da embaixada norte-americana em Teerã e da manutenção de 52 reféns por exaustivos, tensos e angustiantes 444 dias. As autoridades argelinas, por mais que tentem, vêm esbarrando na intransigência dos fanáticos que ocupam a aeronave.

Agora, a única forma dos iranianos ficarem livres das acusações que se sucedem é os seqüestradores serem presos e relatarem os detalhes da sua louca operação. Mesmo assim, é capaz de aparecer alguém pondo em dúvida o que os terroristas (que estão zangados com a imprensa por ela estar usando tal designação para eles) disserem. O que fazer? Certas famas, além de incômodas, são difíceis, senão impossíveis de serem exterminadas. Bem diz um político mineiro: "A reputação é como a virgindade. Uma vez perdida...”


(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 16 de abril de 1988).


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