Irã, mais uma vez,
sob suspeita geral
Pedro J. Bondaczuk
As suspeitas sobre o Irã, de que o país teria algo a
ver com o seqüestro do Boeing 747 da Kuwait Airways, ocorrido no dia 5 passado,
estão se avolumando, à medida em que o tempo passa e o caso continua sem
nenhuma solução.
É verdade que os acusadores são um tanto parciais em
suas acusações. Afinal, todos os que levantaram essa hipótese (sem a
apresentação de qualquer indício confirmando a possibilidade), são adversários
da República Islâmica. O primeiro a falar disso foi Yasser Arafat, o líder da
Organização para a Libertação da Palestina, na terça-feira.
Outro que abordou a questão, e bateu na mesma tecla,
foi o chefe da guerrilha antiiraniana, anteontem. Este chegou, inclusive, a
responsabilizar o presidente do Parlamento persa, Akbar Hashemi Rafsanjani,
como sendo o planejador do ato de pirataria aérea.
Quando da ocorrência do seqüestro nós afirmamos,
neste mesmo espaço, que o Irã tinha, com ele, uma oportunidade e um risco. A
primeira era a de limpar o seu nome, já que o país é freqüentemente apontado
como um Estado patrocinador do terror. O segundo se prendia ao fato de, caso
Teerã não resolvesse o impasse enquanto o avião estivesse estacionado no
aeroporto de Mashhad, em seu território, tais suspeitas iriam se avolumar.
Afinal, a República Islâmica, justa ou injustamente, já tem essa fama perante a
opinião pública internacional. E é o que está acontecendo.
Prender-se somente à não-solução do seqüestro, no
entanto, para acusar o regime dos aiatolás, é uma atitude injusta e
preconceituosa. O governo de Chipre também não conseguiu acabar com ele e nem
por isso as autoridades cipriotas estão sob suspeição de cumplicidade com os
terroristas.
O mesmo vem acontecendo com a Argélia, país que já
possui tradição mediadora, já que foi aquele que ajudou a resolver o caso mais
longo e intrincado do tipo. Ou seja, o da tomada da embaixada norte-americana
em Teerã e da manutenção de 52 reféns por exaustivos, tensos e angustiantes 444
dias. As autoridades argelinas, por mais que tentem, vêm esbarrando na
intransigência dos fanáticos que ocupam a aeronave.
Agora, a única forma dos iranianos ficarem livres
das acusações que se sucedem é os seqüestradores serem presos e relatarem os
detalhes da sua louca operação. Mesmo assim, é capaz de aparecer alguém pondo
em dúvida o que os terroristas (que estão zangados com a imprensa por ela estar
usando tal designação para eles) disserem. O que fazer? Certas famas, além de
incômodas, são difíceis, senão impossíveis de serem exterminadas. Bem diz um
político mineiro: "A reputação é como a virgindade. Uma vez perdida...”
(Artigo publicado na
página 11, Internacional, do Correio Popular, em 16 de abril de 1988).
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