Inimigo subestimado
Pedro J.
Bondaczuk
O problema das drogas, que não é novo, mas que se agravou
bastante, em especial na presente década, raramente mereceu das autoridades
mundiais a atenção que deveria ter merecido. É verdade que as polícias da maioria
dos países mais destacados do mundo pela sua riqueza fizeram o que estava ao
seu alcance e, algumas vezes, até o além dele.
Foram inúmeras as operações que
desmantelaram redes do tipo “Conexão França”, e outras mais. Todavia, o que
faltou foi continuidade desse trabalho. Foi respaldo das autoridades para que
as ervas daninhas extirpadas não voltassem a brotar, e com força crescente. Foi
um esforço conjunto e inteligente, em nível internacional, visando interromper
o diabólico ciclo que se inicia com a produção e termina com inúmeros jovens
transformados em zumbis.
Hoje, a questão das drogas, em
virtude desse desleixo, já deixou de ser um problema meramente policial.
Extrapolou os becos escondidos de favelas e as ruas das grandes cidades para
infiltrar-se, praticamente, em todas as camadas da sociedade, e em todas as
atividades.
De um negócio marginal, próprio
para bandidos, ganhou status, alcançou classes mais abastadas e
intelectualizadas e hoje é, ao lado da Aids, da guilhotina nuclear, da explosão
populacional, da depredação ambiental, da miséria e do terrorismo, um dos
maiores problemas de toda a humanidade.
A polícia até que vem fazendo a
sua parte. Não passa um único dia em que não haja alguma informação dando conta
da apreensão de gramas, quilos ou até mesmo toneladas de cocaína, ou de
maconha, ou de heroína, e da prisão dos respectivos traficantes. Mas sua função
é limitada. Restringe-se quase que somente a isso. A apreender e prender.
Quando os responsáveis por esse
comércio nefasto são levados perante a Justiça – isso quando o são – as penas
que recebem chegam a ser ridículas (quando não são absolvidos), de tão
irrisórias, na maioria dos países. Há exceções, é claro, mas estas são muito
raras. E, quase sempre, quem acaba sendo preso é o peixinho, a conhecida mula,
ou seja, o indivíduo que é pago somente para transportar o produto. O cabeça,
permanece resguardado e anônimo. .
Os barões das drogas, do tipo
Lehder Rivas e outros grandes capitães do Cartel de Medellín, raramente caem
nas mãos das autoridades. Aliás, na Colômbia, a prática de extraditar os
grandes traficantes para os Estados Unidos criou um grande problema nacional.
Ninguém quer ser juiz de
tribunais que precisem tomar uma decisão desse tipo, tamanhas são as ameaças
que pesam sobre os magistrados, por parte das organizações criminosas. É claro
que muito pouco desse exercício coercitivo vem a público. E a polícia fica de
mãos amarradas, sem poder agir, em tais casos.
Como se vê, o problema já
extrapolou, em muito, a mera ação policial. Está exigindo o engajamento de
outras forças, mais poderosas, e que sejam mais eficientes, para atacar as
fontes de produção e de refino da droga. Para a coibição do tráfico. E para
evitar, principalmente, que tantos jovens, brilhantes e promissores, se deixem tapear
pelos agentes do vício, para que não caiam nessa escravidão perpétua.
A quantidade de tóxicos produzida
é de tal ordem, que qualquer estimativa que se faça corre o risco de se tornar
ridícula, tamanha seria a sua subestimação. Pelas apreensões policiais,
efetuadas em duas épocas distintas, dá para o leitor avaliar a dimensão dessa
catástrofe mundial.
Em 1975, foram apreendidas,
apenas de cocaína, três toneladas. Dez anos depois, em 1985, a polícia
conseguiu tirar 56 toneladas da droga de circulação. Ou seja, dezenove vezes
mais. E essa quantidade, em relação ao total produzido, não passou de mera gota
de água num oceano.
Por isso, é para lá de urgente
que todos se conscientizem das dimensões reais do problema. E que a humanidade
combata, sem tréguas e nem vacilações, de maneira incansável, este que já se
tornou o inimigo número um da espécie humana.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 18
de junho de 1987).
No comments:
Post a Comment