Tentando explicar o
inexplicável
Pedro
J. Bondaczuk
O literal
“atropelamento” da Seleção Alemã, sobre a Brasileira, no primeiro jogo das
semifinais da Copa do Mundo de 2014, no estádio do Mineirão, deixou o mundo do
futebol, mesmo dos nossos adversários mais ferrenhos, que torcem pelo fracasso
dos únicos pentacampeões mundiais, surpreso, perplexo e aturdido. Como todo
mundo, também fiquei (afinal, não sou de ferro). Como explicar o que aconteceu?
Há explicações? Talvez haja. Não me refiro ao bla-bla-blá oportunístico e
covarde dos medíocres, dos frustrados, dos profetas de catástrofes ávidos por
poderem arrotar, do alto de sua arrogância: “eu não disse?! Eu avisei” e coisas
do gênero.
É fácil sair atirando
para todos os lados, em circunstâncias como esta, atacando tudo e todos,
exigindo mudanças radicais até mesmo do que ostensivamente deu certo. Afinal,
destruir é a coisa mais fácil do mundo. Não envolve nenhuma ciência ou
complexidade. Construir é que são elas. Confesso que num primeiro momento,
sobretudo após o quinto dos sete gols alemães, me senti tentado a entrar nessa
onda. Até cheguei a dizer alguns palavrões bem cabeludos (Pudera!), felizmente
não testemunhados por ninguém. Assisti ao jogo sozinho, o que é ainda mais
complicado do que acompanhar partidas do tipo na companhia de poucos ou de
muitos torcedores. Já no sexto e sétimo gols não tive ânimo nem de xingar.
Estava anestesiado.
Diga-se de passagem que
o vexame – disparado o maior da centenária e vitoriosa história da Seleção
Brasileira – poderia ter sido maior, muito maior. O adversário, por uma razão
ou outra – ou para se poupar visando a final ou em respeito ao futebol
brasileiro, sabe-se lá – nitidamente “tirou o pé” do acelerador. Limitou-se a
tocar a bola, esperando o tempo passar. Se forçasse e mantivesse o mesmo ímpeto
que teve ao fazer quatro gols em míseros três minutos (nunca vi coisa sequer
parecida nem em jogos de várzea), provavelmente teríamos novo recorde de
goleadas, superando aqueles 10 a 1 sofridos por El Salvador em 1982, diante da
Hungria, na Copa do Mundo da Espanha.
Como explicar o que
aconteceu? Há alguma explicação? Da minha parte, não encontro nenhuma. Poderia
embarcar na canoa dos profetas de catástrofes, dos carniceiros de reputação, e
sair disparando a torto e a direito contra tudo e contra todos. Até me senti
tentado a fazê-lo. A razão não me permitiu. Afinal, estes não explicaram,
racional ou irracionalmente, coisa alguma. Limitaram-se a repetir os mesmos e
odiosos chavões que utilizaram em tantos outros fracassos brasileiros (que nem
foram poucos), nenhum deles, todavia, tão contundente quanto este (na esfera
esportiva), disparado o maior da centenária história da Seleção Brasileira.
Confesso que após o
jogo, senti-me tentado a não escrever mais nada sobre futebol. Ou, pelo menos,
passar anos sem fazê-lo. Relutei muito em alinhavar estas reflexões. Afinal, há
tempos deixei de ser cronista esportivo. O meu lado jornalístico (e tenho
orgulho de ser jornalista), está em recesso há muito, desde que me desliguei do
último jornal a que servi. Há pelo menos cinco anos que me considero
exclusivamente escritor (se bom ou ruim, não me cabe julgar, pela
impossibilidade de um autojulgamento isento). É nessa condição que decidi
encarar o desafio de tentar explicar o inexplicável, o que (talvez) faça nos
próximos dias, ou meses ou anos, sei lá. Não com colocações raivosas e
passionais, que servem, apenas (se
tanto), como válvulas de escape para desabafos, mas que não explicam coisíssima
alguma. O desafio está em racionalizar o irracional. O jornalista tem a
obrigação de se ater, exclusivamente, ao factual. Seu compromisso é tratar de
fatos, e exatamente como aconteceram, sem tirar e nem pôr. Já o escritor goza
de maior (diria total) flexibilidade. Compete-lhe “perenizar” fatos, extraindo
deles as lições que possam conter. Todos, por trivial que pareçam, contêm.
Como explicar, por
exemplo, que a mesma Alemanha, que enfrentou terríveis dificuldades para se
classificar para as oitavas de final contra a Argélia teve tamanha facilidade
para “atropelar” a Seleção Brasileira, em uma semifinal de Copa do Mundo e
disputada no Brasil? O futebol argelino é melhor do que o nosso? Ora, ora, ora.
Creio que nem os profetas de catástrofes se atrevem a chegar a tal conclusão
(embora nunca se saiba). Como explicar que a fria e eficiente equipe germânica,
que empatou a duras penas com Gana e por pouco tropeçou nos Estados Unidos,
enfiou sete gols (e poderia ter feito muitos mais) na equipe pentacampeã e que
até esse jogo era apontada como séria candidata ao hexa, até pelos oportunistas
do “não avisei”? Não valem “explicações” na base de clichês derrotistas, que
não explicam coisíssima alguma.
Antes que me apontem o
dedo acusador, vou logo avisando que não sou daqueles que consideram a Seleção
como “pátria de chuteiras”. Não é! É, somente, um grupo que representa “uma”
das tantas modalidades esportivas que se praticam no País, no caso, o futebol.
Quem perdeu, portanto, de forma tão vexatória e inexplicável, não foi o País,
como os dotados de um único neurônio interpretam. Foi um determinado grupo que
representa esse esporte em uma competição internacional, e só isso. Eu, você,
Fulano, Sicrano e Beltrano não perdemos coisíssima alguma. Só não vimos a
vitória de uma equipe que gostaríamos que ganhasse. Nada mais do que isso. Como
também não ganharíamos rigorosamente nada se os comandados de Felipão goleassem
os alemães e conquistassem o hexa. Ou será que se isso ocorresse nossas contas
bancárias seriam “engordadas” já nem digo com milhões, mas com mísero um real?
Óbvio que não!
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