Thursday, July 10, 2014

Tentando explicar o inexplicável

Pedro J. Bondaczuk

O literal “atropelamento” da Seleção Alemã, sobre a Brasileira, no primeiro jogo das semifinais da Copa do Mundo de 2014, no estádio do Mineirão, deixou o mundo do futebol, mesmo dos nossos adversários mais ferrenhos, que torcem pelo fracasso dos únicos pentacampeões mundiais, surpreso, perplexo e aturdido. Como todo mundo, também fiquei (afinal, não sou de ferro). Como explicar o que aconteceu? Há explicações? Talvez haja. Não me refiro ao bla-bla-blá oportunístico e covarde dos medíocres, dos frustrados, dos profetas de catástrofes ávidos por poderem arrotar, do alto de sua arrogância: “eu não disse?! Eu avisei” e coisas do gênero.

É fácil sair atirando para todos os lados, em circunstâncias como esta, atacando tudo e todos, exigindo mudanças radicais até mesmo do que ostensivamente deu certo. Afinal, destruir é a coisa mais fácil do mundo. Não envolve nenhuma ciência ou complexidade. Construir é que são elas. Confesso que num primeiro momento, sobretudo após o quinto dos sete gols alemães, me senti tentado a entrar nessa onda. Até cheguei a dizer alguns palavrões bem cabeludos (Pudera!), felizmente não testemunhados por ninguém. Assisti ao jogo sozinho, o que é ainda mais complicado do que acompanhar partidas do tipo na companhia de poucos ou de muitos torcedores. Já no sexto e sétimo gols não tive ânimo nem de xingar. Estava anestesiado.

Diga-se de passagem que o vexame – disparado o maior da centenária e vitoriosa história da Seleção Brasileira – poderia ter sido maior, muito maior. O adversário, por uma razão ou outra – ou para se poupar visando a final ou em respeito ao futebol brasileiro, sabe-se lá – nitidamente “tirou o pé” do acelerador. Limitou-se a tocar a bola, esperando o tempo passar. Se forçasse e mantivesse o mesmo ímpeto que teve ao fazer quatro gols em míseros três minutos (nunca vi coisa sequer parecida nem em jogos de várzea), provavelmente teríamos novo recorde de goleadas, superando aqueles 10 a 1 sofridos por El Salvador em 1982, diante da Hungria, na Copa do Mundo da Espanha.

Como explicar o que aconteceu? Há alguma explicação? Da minha parte, não encontro nenhuma. Poderia embarcar na canoa dos profetas de catástrofes, dos carniceiros de reputação, e sair disparando a torto e a direito contra tudo e contra todos. Até me senti tentado a fazê-lo. A razão não me permitiu. Afinal, estes não explicaram, racional ou irracionalmente, coisa alguma. Limitaram-se a repetir os mesmos e odiosos chavões que utilizaram em tantos outros fracassos brasileiros (que nem foram poucos), nenhum deles, todavia, tão contundente quanto este (na esfera esportiva), disparado o maior da centenária história da Seleção Brasileira.

Confesso que após o jogo, senti-me tentado a não escrever mais nada sobre futebol. Ou, pelo menos, passar anos sem fazê-lo. Relutei muito em alinhavar estas reflexões. Afinal, há tempos deixei de ser cronista esportivo. O meu lado jornalístico (e tenho orgulho de ser jornalista), está em recesso há muito, desde que me desliguei do último jornal a que servi. Há pelo menos cinco anos que me considero exclusivamente escritor (se bom ou ruim, não me cabe julgar, pela impossibilidade de um autojulgamento isento). É nessa condição que decidi encarar o desafio de tentar explicar o inexplicável, o que (talvez) faça nos próximos dias, ou meses ou anos, sei lá. Não com colocações raivosas e passionais, que servem, apenas  (se tanto), como válvulas de escape para desabafos, mas que não explicam coisíssima alguma. O desafio está em racionalizar o irracional. O jornalista tem a obrigação de se ater, exclusivamente, ao factual. Seu compromisso é tratar de fatos, e exatamente como aconteceram, sem tirar e nem pôr. Já o escritor goza de maior (diria total) flexibilidade. Compete-lhe “perenizar” fatos, extraindo deles as lições que possam conter. Todos, por trivial que pareçam, contêm.

Como explicar, por exemplo, que a mesma Alemanha, que enfrentou terríveis dificuldades para se classificar para as oitavas de final contra a Argélia teve tamanha facilidade para “atropelar” a Seleção Brasileira, em uma semifinal de Copa do Mundo e disputada no Brasil? O futebol argelino é melhor do que o nosso? Ora, ora, ora. Creio que nem os profetas de catástrofes se atrevem a chegar a tal conclusão (embora nunca se saiba). Como explicar que a fria e eficiente equipe germânica, que empatou a duras penas com Gana e por pouco tropeçou nos Estados Unidos, enfiou sete gols (e poderia ter feito muitos mais) na equipe pentacampeã e que até esse jogo era apontada como séria candidata ao hexa, até pelos oportunistas do “não avisei”? Não valem “explicações” na base de clichês derrotistas, que não explicam coisíssima alguma.

Antes que me apontem o dedo acusador, vou logo avisando que não sou daqueles que consideram a Seleção como “pátria de chuteiras”. Não é! É, somente, um grupo que representa “uma” das tantas modalidades esportivas que se praticam no País, no caso, o futebol. Quem perdeu, portanto, de forma tão vexatória e inexplicável, não foi o País, como os dotados de um único neurônio interpretam. Foi um determinado grupo que representa esse esporte em uma competição internacional, e só isso. Eu, você, Fulano, Sicrano e Beltrano não perdemos coisíssima alguma. Só não vimos a vitória de uma equipe que gostaríamos que ganhasse. Nada mais do que isso. Como também não ganharíamos rigorosamente nada se os comandados de Felipão goleassem os alemães e conquistassem o hexa. Ou será que se isso ocorresse nossas contas bancárias seriam “engordadas” já nem digo com milhões, mas com mísero um real? Óbvio que não!


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk 

No comments: