Milhões de técnicos de
futebol
Pedro
J. Bondaczuk
“O Brasil tem 200
milhões de técnicos de futebol”. Perdi a conta das vezes que já ouvi essa
afirmação. Bem, no que diz respeito à cifra, há imenso exagero. Embora a
modalidade seja a de preferência nacional, nem todos os brasileiros a apreciam
e lhe dão alguma importância. Ademais, nesses 200 milhões temos que descontar
os bebês e as pessoas que vivem nos grotões mais distantes deste
país-continente, sem eletricidade e, portanto, sem rádio e televisão. E sem
acesso a nenhuma informação, muito menos sobre futebol. Bem, reduzamos, pois,
essa cifra à metade. Digamos que o Brasil tenha cem milhões de “técnicos”, ou
de indivíduos que se julgam como tal. Esse pessoal todo acha que entende de
táticas e não perde a oportunidade de criticar os comandantes de seus clubes e,
mais ainda, da Seleção Brasileira.
Outro reparo que faço é
que acho inadequada a designação de “técnico de futebol”. Prefiro chamar essa
figura o que ela de fato é: “treinador”. Por que? Porque a modalidade não é
nenhuma ciência, e muito menos exata. Não envolve nenhuma técnica, ou seja,
eventual conhecimento científico específico, especializado, como ocorre em
tantas e tantas profissões. O que esses
sujeitos fazem é treinar suas equipes e às vezes nem isso. Não são técnicos,
portanto, mas treinadores. Do que mais o brasileiro gosta é de palpitar na
escalação de times e, principalmente, de seleções. Entre estes, destacam-se os
que têm à sua disposição microfones de rádio e de televisão e colunas em
jornais e revistas. Ou seja, os cronistas esportivos. O cidadão comum, salvo
exceções, embarca na opinião deles, quando se trata de escalar, concordando ou
discordando.
Não me lembro de
nenhuma Seleção Brasileira em torno da qual houvesse consenso sobre os onze que
deveriam ser titulares. Nem os supertimes de 1970 e de 1982 escaparam do que se
convencionou chamar na gíria futebolística de “cornetagem”. Na equipe atual,
que peca, sobretudo, pela inexperiência em Copas, isso não poderia faltar. E não
falta. Desde o primeiro jogo, há um coro, quase uníssono, pedindo, e até
exigindo, a substituição desse ou daquele jogador. O mais “repudiado” tem sido,
sem dúvida, o ala direita Daniel Alves, astro do Barcelona, onde conquistou
importantes títulos e é parceiro constante de Messi, a quem serviu, muitas e
muitas vezes, propiciando-lhe gols decisivos e sensacionais. Mas na Seleção
Brasileira... conta com rejeição quase consensual.
Outro jogador muito
contestado, após o último amistoso, contra a Sérvia, é o quase menino Oscar. As
críticas contra ele arrefeceram um pouco, após sua brilhante performance contra
a Croácia, mas voltaram a ganhar força depois do jogo com o Chile. Os palpites
na escalação não pararam (e não param) por aí. Um deles envolve Paulinho, não
faz muito tido e havido como um dos melhores volantes do mundo, mas que,
repentinamente, passou a não “prestar”. Isso sem falar na titularidade de Júlio
César, intensamente contestada desde a convocação e pelo menos até o jogo
contra a Seleção Chilena, quando impediu a precoce desclassificação brasileira.
Será que esse pessoal
todo entende mais do potencial desse grupo, e do que se passa longe das vistas
da imprensa e, portanto, do público, do que quem o convocou e o treina? Sabe o
que se passa, por exemplo, nos treinos? Conhece o que ocorre na concentração?
Tem noção do porque Luís Felipe Scolari convocou cada um dos 23 jogadores da
atual seleção, de como pensa utilizar cada um deles? A resposta para todas
essas questões, óbvio, é não! Caso fossem mais competentes do que o atual
treinador, essa tarefa seria confiada a eles, não é verdade? Opinar é uma coisa
e “exigir” que a opinião prevaleça é outra muito diferente.
Até concordo que o
cerne do seu trabalho é criticar o que seja criticável. Isso, todavia, exige
responsabilidade e bom senso, o que me parece que muitos não têm, ou não se
utilizam deles. Ademais, quem critica tem que admitir que suas opiniões também
sejam criticadas. Esses cronistas não são donos da verdade que, ademais, é
conceito muito subjetivo. Que cada macaco fique no seu galho e não procurte
extrapolar sua função. A escalação cabe ao treinador que, caso o resultado não
seja o que esperava, arcará sozinho com as conseqüências. Aos críticos cabe
concordar ou não, mas nunca tentar impor. Ou seja, não fazer nenhum “lobie”
para a entrada de Fulano ou Sicrano, com a conseqüente saída deste ou daquele.
Será que já não basta a
pressão que esta Seleção jovem e relativamente inexperiente vem sofrendo, pelo
simples fato desta Copa ser disputada no Brasil e pela cobrança generalizada de
que a ganhe, para apagar o fracasso de 1950? Esse pessoal não entende que
tumultuar o ambiente, com cobranças que não lhes compete fazer, só tende a
complicar ainda mais uma situação já por si só tão complicada? Não percebe que,
ao agitar o ambiente, está dando munição aos adversários? Ponham na cabeça,
“treinadores potenciais” (que pelo menos assim se julgam) que futebol não é
ciência, e muito menos exata, mas um jogo. E que nem sempre o melhor vence.
Encontrem um jeito de ajudar e se não encontrarem, o melhor que podem fazer é
não atrapalhar. Criticar atos alheios, seja em que atividade for, é fácil e
cômodo. Fazer melhor é que são elas, viram, duzentos milhões de técnicos de
futebol (ou, para ser mais exato, cerca de cem milhões)?
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