Clima e comportamento
Pedro
J. Bondaczuk
“O
clima influencia, para melhor ou para pior, o comportamento humano?” Essa foi a
questão colocada pelo leitor Josué Xavier, num gentil e extenso e-mail que me
enviou, motivado, principalmente, pelo inusitado calor, acompanhado de falta de
chuvas e por poderosa massa de ar seco que afetam várias áreas do País neste
verão atípico, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste. A resposta, seca (como está
o ar) e direta, é: “Sim”. Afeta e muito. E não apenas a nós, humanos, mas a
todos os seres vivos, animais e vegetais.
Observo
que não sou especialista na matéria, mas mero “curioso” no assunto. Tenho em
mãos, todavia, algumas pesquisas de experts, sobretudo de antropólogos,
psicólogos e cientistas do comportamento (etólogos), que me credenciam a
responder afirmativamente a pergunta do leitor. Ademais, escrevi, tempos atrás,
longo texto a propósito, intitulado “Seres meteorológicos”, relatando não
apenas as conclusões dos doutores na matéria, mas, principalmente, minha
experiência pessoal. Naquela oportunidade, o “gancho” foi o excesso de chuvas.
Agora, é a ausência delas.
É
até questão de lógica essa influência climática no comportamento, levando em
conta que variações de temperatura, pressão e umidade do ar, muito bruscas,
principalmente as mais severas, como as que ocorrem atualmente, interferem no
funcionamento do nosso organismo. No caso do calor, por exemplo, nosso
mecanismo de regulação térmica entra em ação, para impedir que a temperatura
corporal ultrapasse os 36,5 graus centígrados, considerada normal na maioria
das pessoas, com variações de meio a um grau de um indivíduo para outro. O apetite,
no caso, diminui e o dispêndio de energia aumenta, causando aquela sensação
desagradável de “moleza” no corpo em virtude do desequilíbrio. O sono, por sua
vez, fica longe de ser tranqüilo, o que interfere nos reflexos.
Quem
é escritor, por exemplo, sabe, por experiência própria, como é difícil se
concentrar para redigir um texto claro, correto e criativo nos dias de extremos
climáticos, ou seja, tanto de frio excessivo, quanto de calor causticante. No
meu caso – e gosto de citar experiências pessoais, não por me considerar
“melhor” ou “pior” do que os outros, mas por se tratar de algo que posso
relatar com segurança, por ter vivido ou estar vivendo a situação – tenho um
decréscimo sensível na qualidade do que escrevo. E esses extremos só não afetam
a quantidade dos meus textos, porquanto tenho extensa pauta diária a cumprir e
não costumo, a menos que premido por força maior, deixar ninguém na mão. O que
assumo, cumpro, mesmo que a produção não saia rigorosamente como desejava.
Quem
me acompanha assiduamente nos vários espaços da internet em que divulgo meus
escritos, certamente já notou certo decréscimo qualitativo na redação, na
exposição de idéias, que só não é pior, dado o imenso esforço que tenho que
fazer para manter razoavelmente equilibradas a quantidade e a qualidade. A
despeito do ventilador ligado o dia todo, bem sobre minha cabeça, para atenuar
um pouco que seja o calor, a
concentração fica bastante comprometida. Pudera! Uma noite de sono mal dormida
e o metabolismo trabalhando a todo o vapor para impedir que a temperatura
externa afete a interna cobram seu preço. E este não é nada barato.
Psicologicamente,
porém, não sinto grandes diferenças. Talvez isso se deva ao hábito que cultivo
há anos de conservar o bom-humor, sejam quais forem as circunstâncias. Mas não
é o que observo ao meu redor. O que vejo, em casa e nos lugares que freqüento,
são pessoas irritadas, nervosas, exasperadas e impacientes, “à beira de um
ataque de nervos”, tornando-se ásperas, quando não briguentas, por dá cá toma lá.
Não por acaso as estatísticas mundiais comprovam que em épocas de ondas de
calor selvagens, como a atual, a porcentagem de homicídios cresce bastante, não
raro ao dobro de períodos normais.
A
propósito do tema da influência do clima sobre nosso humor e raciocínio (pelo
menos sobre o meu), fiz breve (mas meticulosa) análise sobre meus arquivos de
textos literários e pude constatar que minha produção, em todos os anos, baixa
sensivelmente, tanto em quantidade quanto em qualidade, no verão e, sobretudo,
no inverno. Em contrapartida, cresce exponencialmente na primavera para
“explodir”, em todos os aspectos, no outono. E esta é a estação mais amena,
quase a ideal, pelo menos na região em que moro, ou seja, na desta metrópole
interiorana que é Campinas. Seria apenas coincidência? Não creio!
Neste
verão causticante, com tantas notícias ruins (e todos os anos é a mesma coisa,
variando, apenas, em intensidade e no número de mortos), sou levado a fazer um
esforço mental imenso para redigir um reles texto, como este. E, mesmo
exibindo-o publicamente, neste oceano de informações que é a internet,
desconfio se tratar de considerações pífias, cheias de falhas e contradições,
que não condizem com o prestígio que conquistei. É nesta época que minha
autoconfiança se evapora e resta a angústia de não escrever como gostaria e
como sei fazer. Vários colegas já me confessaram que, nesta época, se sentem
assim também. Muitos, é verdade, negaram que haja essa influência climática em
sua produção. Pudera! Não produzem nada! Se escreveram dez textos em suas vidas
foi muito. Enfim...
Para
encerrar estas considerações, atendendo ao pedido do leitor Josué Xavier, cito,
mais uma vez, um dos meus poetas prediletos, Mauro Sampaio, a exemplo do que
fiz no texto que mencionei no início destas reflexões. Meu saudoso e
insubstituível amigo compôs excelente poema em que destaca de quem seria a
culpa do atual desequilíbrio climático, causador de tragédias e de desconforto
generalizado. Seu título? “O homem”, e diz:
“Quando toda a
terra, de todos os continentes
for uma terra só,
desolada e triste,
nessa tristeza e
desolação única
estará estampada a
certeza
de que por ela
passou o homem!”.
E
já estamos quase chegando lá, infelizmente. Espero ter satisfeito a curiosidade
do gentil leitor, Josué Xavier. Caso não tenha conseguido êxito, peço-lhe que
volte a me escrever. Suas mensagens serão sempre bem vindas. Se o fizer,
prometo ser mais objetivo e trazer à baila algumas pesquisas que tenho em mãos
e que comprovam como o clima afeta o comportamento humano.
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