Minha lembrança desta
Copa
Pedro
J. Bondaczuk
A Copa do Mundo vai
chegando ao fim, e de forma melancólica para o país anfitrião, que nutria
expectativas grandiosas e que, pelo menos na esfera esportiva, protagoniza a
maior decepção que alguma comunidade esportiva já sofreu. Aqueles 7 a 1 – que
poderiam ser 10, 12 ou sabe-se lá quantos mais – aplicados pela Alemanha na
então potencial candidata ao título, ficarão entalados para sempre na garganta
dos que amam futebol. E até dos que não amam a modalidade, não entendem nada
dela, não a acompanham, mas se orgulham dos feitos dos brasileiros em qualquer
campo de atividades, quando estes acontecem, claro.
A competição, iniciada
em um clima de esperança e até de euforia para quem ama esse esporte das
multidões e se orgulha dos feitos de uma seleção pentacampeã mundial (a única
na história a protagonizar esse feito), termina da forma mais cruel que se
possa imaginar. Nenhum roteirista, por mais masoquista que seja, conseguiria,
talentoso que fosse, engendrar roteiro mais humilhante do que este final de
Copa do Mundo. O título ficará em mãos dos que mais nos humilharam. Um, no caso
a Alemanha, em campo, com a acachapante goleada que nos infligiu, embora
deva-se destacar que seus jogadores não tripudiaram sobre os nossos. Ao
contrário (não sei se foram sinceros ou não, creio que não), não esconderam
certo constrangimento por esfregar em nossos narizes nossa incompetência
futebolística, pelo menos naquele jogo de triste memória para nós.
Do outro lado, estará
nosso maior rival no futebol, cuja torcida não se fez de rogada e nos
escrachou, zombou de nós, nos desrespeitou mesmo estando em nossa casa. Vibrou
em delírio com nosso fracasso, fez anedotas de todos os tipos ridicularizando
nosso futebol, se deliciando com nosso vexame, embora sua seleção não fosse
protagonista, PI seja, algoz do fiasco. Claro que me refiro à Argentina.
Perguntaram-me para quem vou torcer. Ora, ora, ora. Meu espírito esportivo não
chega a tanto. Nesse aspecto, estou em desvantagem em relação a milhares, quiçá
milhões de pessoas. A menos que seja vencido pela curiosidade e mude minha
decisão na última hora, pretendo sequer assistir, na televisão, a transmissão
desse jogo. Provavelmente, vou, apenas, saber o resultado mais tarde. E
qualquer que ele seja, dificilmente conseguirei conter ou dissimular o
condenável (mas neste caso compreensível) sentimento de inveja do campeão.
Para mim, esta Copa
ficará marcada, para sempre, com o signo do fiasco. Agora, pouco me importa se
foi (como muitos garantem), uma das melhores e mais equilibradas, no aspecto
técnico, comparada com as 19 anteriores. Toda a emoção, que no meio do caminho
senti, com exibições primorosas de algumas seleções (e não, infelizmente, da
nossa) se diluiu face o travo amargo da decepção. Quando eu pensar, no futuro,
nesse mundial, virá, de imediato à memória, à minha revelia, a inexplicável
goleada de 7 a 1 que a Alemanha nos aplicou. Lembrarei que a defesa
considerada, até então, a “melhor do mundo”, foi a mais vazada entre as 32
participantes. Que o nosso saldo foi zero, ou seja, onze gols marcados e onze
sofridos. Será que outra Seleção Brasileira conseguirá quebrar esse pavoroso
“recorde”? Nunca se sabe. Espero que não.
Minha expectativa,
agora, refere-se à disputa do terceiro lugar. Em condições normais, esse jogo,
para mim, não teria o menor interesse. Mas depois da goleada sofrida diante da
Alemanha, estou curiosíssimo para saber qual será a reação. E não me refiro só
à dos atletas, abatidos, humilhados, cientes que ficarão para sempre na
história no pior aspecto, mas, sobretudo, da torcida. Qual será o público no
Estádio Mané Garrincha, em Brasília? Haverá muita gente? Todas as cadeiras
estarão ocupadas? As pessoas estarão tão curiosas quanto eu quanto à reação dos
atletas? Qual será seu comportamento?
Os que forem ao jogo
tentarão levantar o moral de uma equipe abatida, envergonhada e atônita com o
que aconteceu? Ou descarregarão sua própria frustração e vergonha pelo vexame,
vaiando, impiedosamente, os comandados de Felipão, do primeiro ao último
minuto? Mostrarão que o brasileiro é generoso e solidário para com os
humilhados e ofendidos, consolando-os em seu mau momento, ou comprovarão que
são implacáveis para com os que se mostraram incompetentes, mesmo que num único
episódio, mas que vale por milhares?
Espero que a reação
seja a primeira: a da generosidade e compreensão. Até porque, esses rapazes são
os menos culpados pelo que aconteceu. E são, no final das contas, os únicos que
perderam, de fato, alguma coisa. Terão que conviver, por exemplo, pelo restante
de suas carreiras, com essa mancha que nunca se apagará. Muitos, talvez, tenham
até dificuldades quando forem renovar seus respectivos contratos (vá se saber),
pagando um preço muito maior pelo vexame contra a Alemanha do que a lógica
indica que pudesse acontecer. O torcedor só viu contrariada sua vontade de que
a equipe que estava torcendo vencesse e nada mais. Bem, boa parte do que vai
acontecer dependerá do que os atletas farão em campo contra a Holanda.
Se a Seleção vencer,
ou, mesmo se perder, a derrota não for por placar aberrante e estapafúrdio e se
jogar com garra, técnica e aplicação, talvez saia de campo aplaudida, mesmo que
os aplausos sejam discretos e constrangidos. Todavia, se repetir o que fez
contra a Alemanha... O que já é ruim para esse grupo, tende a ficar muito pior,
em termos de prestígio e valorização. Só espero que a torcida entenda que este
é um jogo, ou seja, que é uma forma de lazer e que reaja como se espera que uma
platéia racional e educada o faça quando assiste a um mau espetáculo: sem
violência e sem nenhum tipo de exagero.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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