Corrida
qualitativa
Pedro J. Bondaczuk
As superpotências, no que diz respeito à corrida
armamentista nuclear, desnorteiam a opinião pública a cada instante, com
atitudes aparentemente contraditórias. Enquanto os meios de comunicação vêm
dando, desde o encerramento da segunda reunião de cúpula entre o líder
soviético, Mikhail Gorbachev, e o presidente norte-americano, Ronald Reagan
(realizada em 10 e 11 de outubro de 1986 em Reykjavik) crescente destaque às
negociações para um acordo visando desmantelar um determinado tipo de foguetes,
os técnicos e cientistas de ambos os países trabalham a todo o vapor no
desenvolvimento de novas (e mais mortíferas) armas de destruição em massa.
Os Estados Unidos concentram esforços no
desenvolvimento dos “Peacekeepers” e “MX”, enquanto Moscou acaba de confirmar o
lançamento do seu sistema móvel de mísseis e pesquisam sabe se lá o que mais em
termos de novos armamentos.
Os novos balísticos soviéticos, destaque-se, vêm
desnivelar os pratos da balança do surrealista equilíbrio do medo. Eles podem
ser disparados de vagões ferroviários e têm a vantagem, portanto, da
mobilidade. Fosse o território da URSS menor e não contasse com uma malha de
estradas-de-ferro tão grande, e a arma não passaria de mais uma entre as tantas
que a superpotência marxista tem em seus arsenais.
Ocorre que se trata do maior país do mundo em termos
de extensão territorial, com mais de 20 milhões de quilômetros quadrados de
área (quase três vezes o tamanho dos Estados Unidos). Além disso, conta com 150
mil quilômetros de ferrovias. Portanto, com esse sistema, os soviéticos
garantiram, pelo menos, a capacidade de resposta a qualquer eventual primeiro
ataque nuclear norte-americano.
Teoricamente, isso poderia ser um fator positivo,
por desestimular qualquer louca aventura militar dos EUA. Mas de fato não é. O
desenvolvimento do míssil SSX-24-S tende, apenas, a exigir crescentes
investimentos na indústria da morte norte-americana, em especial no MX, que
também é um sistema móvel.
Não tenha dúvida, o leitor, de que tudo voltará, em
pouco tempo, a ficar, de novo, empatado. Com uma agravante: esses sistemas
móveis não são detectáveis por satélites-espiões. Será impossível, portanto,
prever de que lado virá a destruição do Planeta, se do soviético ou do
norte-americano. E, certamente, embora ninguém tenha levantado em público a
questão, o projeto “Guerra nas Estrelas”, do governo do presidente Ronald
Reagan, já por si só fantasioso, deve ficar, agora, definitivamente
neutralizado, antes mesmo do início da sua implementação.
O propalado desarmamento nuclear, portanto, é
meramente quantitativo. Limita-se a armas obsoletas, superadas por outras muito
mais modernas. A corrida entre as superpotências torna-se ainda mais perigosa,
por passar a se ater, exclusivamente, ao terreno da qualidade.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 12 de agosto de 1987)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment