Thursday, July 10, 2014

Corrida qualitativa


Pedro J. Bondaczuk


As superpotências, no que diz respeito à corrida armamentista nuclear, desnorteiam a opinião pública a cada instante, com atitudes aparentemente contraditórias. Enquanto os meios de comunicação vêm dando, desde o encerramento da segunda reunião de cúpula entre o líder soviético, Mikhail Gorbachev, e o presidente norte-americano, Ronald Reagan (realizada em 10 e 11 de outubro de 1986 em Reykjavik) crescente destaque às negociações para um acordo visando desmantelar um determinado tipo de foguetes, os técnicos e cientistas de ambos os países trabalham a todo o vapor no desenvolvimento de novas (e mais mortíferas) armas de destruição em massa.

Os Estados Unidos concentram esforços no desenvolvimento dos “Peacekeepers” e “MX”, enquanto Moscou acaba de confirmar o lançamento do seu sistema móvel de mísseis e pesquisam sabe se lá o que mais em termos de novos armamentos.

Os novos balísticos soviéticos, destaque-se, vêm desnivelar os pratos da balança do surrealista equilíbrio do medo. Eles podem ser disparados de vagões ferroviários e têm a vantagem, portanto, da mobilidade. Fosse o território da URSS menor e não contasse com uma malha de estradas-de-ferro tão grande, e a arma não passaria de mais uma entre as tantas que a superpotência marxista tem em seus arsenais.

Ocorre que se trata do maior país do mundo em termos de extensão territorial, com mais de 20 milhões de quilômetros quadrados de área (quase três vezes o tamanho dos Estados Unidos). Além disso, conta com 150 mil quilômetros de ferrovias. Portanto, com esse sistema, os soviéticos garantiram, pelo menos, a capacidade de resposta a qualquer eventual primeiro ataque nuclear norte-americano.

Teoricamente, isso poderia ser um fator positivo, por desestimular qualquer louca aventura militar dos EUA. Mas de fato não é. O desenvolvimento do míssil SSX-24-S tende, apenas, a exigir crescentes investimentos na indústria da morte norte-americana, em especial no MX, que também é um sistema móvel.

Não tenha dúvida, o leitor, de que tudo voltará, em pouco tempo, a ficar, de novo, empatado. Com uma agravante: esses sistemas móveis não são detectáveis por satélites-espiões. Será impossível, portanto, prever de que lado virá a destruição do Planeta, se do soviético ou do norte-americano. E, certamente, embora ninguém tenha levantado em público a questão, o projeto “Guerra nas Estrelas”, do governo do presidente Ronald Reagan, já por si só fantasioso, deve ficar, agora, definitivamente neutralizado, antes mesmo do início da sua implementação.


O propalado desarmamento nuclear, portanto, é meramente quantitativo. Limita-se a armas obsoletas, superadas por outras muito mais modernas. A corrida entre as superpotências torna-se ainda mais perigosa, por passar a se ater, exclusivamente, ao terreno da qualidade.     

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 12 de agosto de 1987)


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