Natureza reage às agressões do homem
Pedro J. Bondaczuk
O furacão "Gilbert", que se abateu,
anteontem, com uma velocidade inédita (pelo menos que se tenha registro) sobre
a Península de Yucatan, no México, a 324 quilômetros por hora (o normal neste
tipo de cataclismo é de 160 quilômetros horários), é mais uma indicação de que
algo anda desregulado na natureza. Somente no correr deste ano, tivemos vários
recordes de desequilíbrios climáticos para desmentir os que atribuem tamanha
potência destruidora da tempestade em questão a mero capricho natural. Os
Estados Unidos, por exemplo, tiveram recentemente a maior seca dos últimos 50
anos. A China teve o registro de temperaturas recordistas numa parte do país e
enchentes catastróficas em outra. Uma inundação inusitada desabrigou mais de 30
milhões de seres humanos em Bangladesh, nação tão pobre que dificilmente
conseguirá se recuperar tão cedo dos prejuízos, se é que algum dia virá a
conseguir isso.
E podemos seguir, numa seqüência assustadora,
falando de casos e mais casos, onde as chuvas ou a estiagem levaram morte, dor
e desolação a grandes contingentes populacionais. Como no caso do Sudão em que,
enquanto no Norte, o Rio Nilo Azul (um tributário do legendário curso de água
que corta o Egito e em função do qual se formou a primeira civilização
historicamente registrada) causou uma enchente nunca vista em Cartum, no Sul, a
seca estava levando a fome a três milhões de sudaneses que, se não forem
socorridos, vão fatalmente morrer à míngua. Como os catastróficos temporais
registrados no Rio de Janeiro no início do ano. E como tantas e tantas outras
tragédias, que a imprensa noticiou com fartura.
Enquanto isso, insensatos, que não têm sequer noção
do mundo em que vivem, seguem depredando a natureza, devastando florestas,
poluindo a atmosfera, emporcalhando os rios com toda a sorte de detritos.
Pessoas tão curtas de inteligência que, mesmo vendo diariamente na televisão e
lendo nos jornais os efeitos de sua nefasta ação agressora, seguem realizando
queimadas inconseqüentes, muitas delas (no Brasil) feitas por fazendeiros que
pretendem burlar a lei, devastando matas de propriedades improdutivas (portanto
passivas de desapropriação para fins de reforma agrária) apenas para darem a
falsa impressão de que estão preparando novas roças. Na verdade, estão é
fabricando desertos.
Dez por cento do dióxido de carbono lançado
atualmente na atmosfera, em todo o Planeta, são de responsabilidade desses
irresponsáveis. Há quem argumente que a natureza, em sua sabedoria, tem
mecanismos de auto-regeneração. Pode até ser. Mas para ela o tempo não conta. E
o processo regenerador pode durar até milênios, quando o homem, a continuar
agindo de uma forma tão despida de inteligência, não estará mais na Terra para
ver o mundo limpo e recomposto.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 16 de setembro de 1988)
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