Wednesday, July 02, 2014

Natureza reage às agressões do homem


Pedro J. Bondaczuk

O furacão "Gilbert", que se abateu, anteontem, com uma velocidade inédita (pelo menos que se tenha registro) sobre a Península de Yucatan, no México, a 324 quilômetros por hora (o normal neste tipo de cataclismo é de 160 quilômetros horários), é mais uma indicação de que algo anda desregulado na natureza. Somente no correr deste ano, tivemos vários recordes de desequilíbrios climáticos para desmentir os que atribuem tamanha potência destruidora da tempestade em questão a mero capricho natural. Os Estados Unidos, por exemplo, tiveram recentemente a maior seca dos últimos 50 anos. A China teve o registro de temperaturas recordistas numa parte do país e enchentes catastróficas em outra. Uma inundação inusitada desabrigou mais de 30 milhões de seres humanos em Bangladesh, nação tão pobre que dificilmente conseguirá se recuperar tão cedo dos prejuízos, se é que algum dia virá a conseguir isso.

E podemos seguir, numa seqüência assustadora, falando de casos e mais casos, onde as chuvas ou a estiagem levaram morte, dor e desolação a grandes contingentes populacionais. Como no caso do Sudão em que, enquanto no Norte, o Rio Nilo Azul (um tributário do legendário curso de água que corta o Egito e em função do qual se formou a primeira civilização historicamente registrada) causou uma enchente nunca vista em Cartum, no Sul, a seca estava levando a fome a três milhões de sudaneses que, se não forem socorridos, vão fatalmente morrer à míngua. Como os catastróficos temporais registrados no Rio de Janeiro no início do ano. E como tantas e tantas outras tragédias, que a imprensa noticiou com fartura.

Enquanto isso, insensatos, que não têm sequer noção do mundo em que vivem, seguem depredando a natureza, devastando florestas, poluindo a atmosfera, emporcalhando os rios com toda a sorte de detritos. Pessoas tão curtas de inteligência que, mesmo vendo diariamente na televisão e lendo nos jornais os efeitos de sua nefasta ação agressora, seguem realizando queimadas inconseqüentes, muitas delas (no Brasil) feitas por fazendeiros que pretendem burlar a lei, devastando matas de propriedades improdutivas (portanto passivas de desapropriação para fins de reforma agrária) apenas para darem a falsa impressão de que estão preparando novas roças. Na verdade, estão é fabricando desertos.

Dez por cento do dióxido de carbono lançado atualmente na atmosfera, em todo o Planeta, são de responsabilidade desses irresponsáveis. Há quem argumente que a natureza, em sua sabedoria, tem mecanismos de auto-regeneração. Pode até ser. Mas para ela o tempo não conta. E o processo regenerador pode durar até milênios, quando o homem, a continuar agindo de uma forma tão despida de inteligência, não estará mais na Terra para ver o mundo limpo e recomposto.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 16 de setembro de 1988)

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