Renovação na berlinda
Pedro
J. Bondaczuk
A renovação de
executores, de “atores” em qualquer atividade que se considere, de sorte a, se
não melhorar a eficiência e qualidade do que se faz, a conservar pelo menos
igual, é tarefa das mais relevantes e difíceis. Ninguém é eterno, óbvio, e por
mais resistente, talentoso e eficaz que determinado profissional seja, chega
sempre o momento de parar. De dar lugar a outro que se espera seja tão bom ou
melhor do que quem se afasta. Isso vale, por exemplo, para mestres de
reconhecida competência, saber e renome quando chega o momento de “passar o
bastão” e dar lugar a um substituto, menos experiente, mas supostamente com
mais energia, vigor e ambições. Ou para médicos sumamente peritos. Ou para
engenheiros e técnicos nas empresas. Ou no mundo político, para líderes em
potencial. Enfim, em todas as atividades que compõem uma sociedade esse tipo de
troca, mais cedo ou mais tarde, fatalmente ocorre. No futebol, também é assim.
Renovar é preciso.
Ouço, a todo o momento, quando o assunto é renovação, que “ninguém é insubstituível”.
Concordo, mas apenas em parte. O problema não está propriamente na
substituição, mas na “qualidade” dela. Quem, por exemplo, substituiu Pelé, com
a mesma eficiência do rei do futebol? O Santos, o único clube brasileiro que o
atleta do século XX defendeu profissionalmente, não ficou sem um camisa 10
quando o supercraque deixou a entidade. Nem a Seleção Brasileira. Todavia, quem
sequer se aproximou de sua genialidade, talento e eficácia? Ora, ora, ora.
Ninguém, com todo o respeito aos seus substitutos! Pode ser (posto que não seja
provável) que algum dia surja quem o iguale e até o supere. Tomara que sim. Mas
até aqui... não apareceu.
Há casos em que a
substituição é vantajosa e melhora o desempenho da escola, do hospital, do
partido político, da empresa, do clube de futebol, da seleção nacional
etc,etc,etc. seja qual for a atividade considerada em que ela ocorre? Claro que
sim! Felizmente! Eu diria, até, que se trate mais de regra do que de exceção.
Depende não só da existência de “atores” mais qualificados, mas também, e
principalmente, deles serem descobertos e incumbidos da tarefa de substituir
alguém, portanto da competência de quem
esteja encarregado de comandar a renovação. Se existirem profissionais
melhores, mas não forem escolhidos, preteridos por outros não tão competentes
ou até mesmo absolutamente incompetentes, o processo de se renovar será um
desastre. O que estará sendo renovado irá piorar muito e, dependendo de que
empreendimento se trate, poderá, até, ir à falência.
A Seleção Brasileira
encarou o desafio da renovação que agora está na berlinda. Decidiu fazê-la, não
somente de forma parcial, como as outras três semifinalistas da Copa do Mundo
de 2014, Alemanha, Argentina e Holanda. Seus dirigentes optaram por um processo
radical. Tanto que o atual grupo, que tem o desafio de conquistar o hexa – e
justo de uma competição disputada em casa – tem somente quatro jogadores com
“alguma” experiência nesse tipo de disputa: Júlio César, Daniel Alves, Thiago
Silva e Fred. Desses, só o goleiro e o ala foram titulares ou em todos, ou em
alguns jogos na África do Sul. O centroavante, que conquistou justo renome de
goleador nos clubes que defendeu, só disputou o Mundial de 2006. Mas foi
reserva. É verdade que no único jogo em que atuou, Fred fez gol. Mas não se
pode afirmar que seja experiente, ou tão experiente assim como alguns afirmam.
E Thiago Silvas, nosso atual capitão, não passou de reserva na seleção
comandada pelo Dunga, não tendo jogado nem reles segundos na Copa de 2010.
Em termos de
experiência, portanto, a renovação se revela, no mínimo, temerária. No que se
refere à qualidade, este grupo ainda está sendo testado. O que vai contar para
os milhões de torcedores brasileiros, atuais e das futuras gerações que ainda
nem nasceram, será o resultado. Se esta Seleção vencer os dois próximos jogos,
e com o “handicap” desfavorável de não contar com seu principal astro (no caso,
Neymar), se ganhar da Alemanha e da Argentina (ou Holanda) e conquistar o hexa,
ninguém dirá que a renovação foi incompetente ou desastrada. Aliás, é provável
que esse aspecto, o da inexperiência do grupo, seja ignorado por todos. Porém,
se perder... esta geração pode (e provavelmente será) ficar marcada na história
com o signo do fracasso. Será injusto? Provavelmente sim. Mas... é o que tende
a acontecer.
Inexperiente ou não (e
vimos que este grupo não tem experiência pelo menos de Copas do Mundo, embora
praticamente todos os que o compõem já tenham disputado competições
importantíssimas, nas quais vários hajam conquistado títulos notáveis pelos
respectivos clubes da elite internacional que defendem), esta Seleção tem rara
oportunidade de se consagrar. Para tanto, porém, todos os jogadores, todos sem
exceção (afinal, futebol é modalidade coletiva) precisam se superar. Têm que
extrair do íntimo todo o potencial que possuem. Não podem e não devem errar
nada, absolutamente nada. Têm que se valer não apenas da técnica, mas da garra,
do entusiasmo, do coração, da vontade de vencer, da coragem de tentar e da
inteligência, no sentido de saber explorar as deficiências dos adversários.
Todos têm. Se conseguirem, não vai ter para ninguém! Caso contrário... serão o
retrato de uma renovação no mínimo afoita e incompetente, pela falta de
resultado.
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