Monday, July 07, 2014

Renovação na berlinda

Pedro J. Bondaczuk

A renovação de executores, de “atores” em qualquer atividade que se considere, de sorte a, se não melhorar a eficiência e qualidade do que se faz, a conservar pelo menos igual, é tarefa das mais relevantes e difíceis. Ninguém é eterno, óbvio, e por mais resistente, talentoso e eficaz que determinado profissional seja, chega sempre o momento de parar. De dar lugar a outro que se espera seja tão bom ou melhor do que quem se afasta. Isso vale, por exemplo, para mestres de reconhecida competência, saber e renome quando chega o momento de “passar o bastão” e dar lugar a um substituto, menos experiente, mas supostamente com mais energia, vigor e ambições. Ou para médicos sumamente peritos. Ou para engenheiros e técnicos nas empresas. Ou no mundo político, para líderes em potencial. Enfim, em todas as atividades que compõem uma sociedade esse tipo de troca, mais cedo ou mais tarde, fatalmente ocorre. No futebol, também é assim.

Renovar é preciso. Ouço, a todo o momento, quando o assunto é renovação, que “ninguém é insubstituível”. Concordo, mas apenas em parte. O problema não está propriamente na substituição, mas na “qualidade” dela. Quem, por exemplo, substituiu Pelé, com a mesma eficiência do rei do futebol? O Santos, o único clube brasileiro que o atleta do século XX defendeu profissionalmente, não ficou sem um camisa 10 quando o supercraque deixou a entidade. Nem a Seleção Brasileira. Todavia, quem sequer se aproximou de sua genialidade, talento e eficácia? Ora, ora, ora. Ninguém, com todo o respeito aos seus substitutos! Pode ser (posto que não seja provável) que algum dia surja quem o iguale e até o supere. Tomara que sim. Mas até aqui... não apareceu.

Há casos em que a substituição é vantajosa e melhora o desempenho da escola, do hospital, do partido político, da empresa, do clube de futebol, da seleção nacional etc,etc,etc. seja qual for a atividade considerada em que ela ocorre? Claro que sim! Felizmente! Eu diria, até, que se trate mais de regra do que de exceção. Depende não só da existência de “atores” mais qualificados, mas também, e principalmente, deles serem descobertos e incumbidos da tarefa de substituir alguém, portanto  da competência de quem esteja encarregado de comandar a renovação. Se existirem profissionais melhores, mas não forem escolhidos, preteridos por outros não tão competentes ou até mesmo absolutamente incompetentes, o processo de se renovar será um desastre. O que estará sendo renovado irá piorar muito e, dependendo de que empreendimento se trate, poderá, até, ir à falência.

A Seleção Brasileira encarou o desafio da renovação que agora está na berlinda. Decidiu fazê-la, não somente de forma parcial, como as outras três semifinalistas da Copa do Mundo de 2014, Alemanha, Argentina e Holanda. Seus dirigentes optaram por um processo radical. Tanto que o atual grupo, que tem o desafio de conquistar o hexa – e justo de uma competição disputada em casa – tem somente quatro jogadores com “alguma” experiência nesse tipo de disputa: Júlio César, Daniel Alves, Thiago Silva e Fred. Desses, só o goleiro e o ala foram titulares ou em todos, ou em alguns jogos na África do Sul. O centroavante, que conquistou justo renome de goleador nos clubes que defendeu, só disputou o Mundial de 2006. Mas foi reserva. É verdade que no único jogo em que atuou, Fred fez gol. Mas não se pode afirmar que seja experiente, ou tão experiente assim como alguns afirmam. E Thiago Silvas, nosso atual capitão, não passou de reserva na seleção comandada pelo Dunga, não tendo jogado nem reles segundos na Copa de 2010.

Em termos de experiência, portanto, a renovação se revela, no mínimo, temerária. No que se refere à qualidade, este grupo ainda está sendo testado. O que vai contar para os milhões de torcedores brasileiros, atuais e das futuras gerações que ainda nem nasceram, será o resultado. Se esta Seleção vencer os dois próximos jogos, e com o “handicap” desfavorável de não contar com seu principal astro (no caso, Neymar), se ganhar da Alemanha e da Argentina (ou Holanda) e conquistar o hexa, ninguém dirá que a renovação foi incompetente ou desastrada. Aliás, é provável que esse aspecto, o da inexperiência do grupo, seja ignorado por todos. Porém, se perder... esta geração pode (e provavelmente será) ficar marcada na história com o signo do fracasso. Será injusto? Provavelmente sim. Mas... é o que tende a acontecer.

Inexperiente ou não (e vimos que este grupo não tem experiência pelo menos de Copas do Mundo, embora praticamente todos os que o compõem já tenham disputado competições importantíssimas, nas quais vários hajam conquistado títulos notáveis pelos respectivos clubes da elite internacional que defendem), esta Seleção tem rara oportunidade de se consagrar. Para tanto, porém, todos os jogadores, todos sem exceção (afinal, futebol é modalidade coletiva) precisam se superar. Têm que extrair do íntimo todo o potencial que possuem. Não podem e não devem errar nada, absolutamente nada. Têm que se valer não apenas da técnica, mas da garra, do entusiasmo, do coração, da vontade de vencer, da coragem de tentar e da inteligência, no sentido de saber explorar as deficiências dos adversários. Todos têm. Se conseguirem, não vai ter para ninguém! Caso contrário... serão o retrato de uma renovação no mínimo afoita e incompetente, pela falta de resultado.


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