Primeiro
passo para a paz
Pedro J. Bondaczuk
O antagonismo entre as facções em luta no Líbano
está sendo muito difícil de ser contido. Afinal, são dez anos de hostilidades,
que não se apagam da noite para o dia, como se meramente não tivessem existido.
Mas o gabinete formado pelo experiente político
Rashid Karami, anunciado ontem, após exaustivas reuniões com o presidente Amin
Gemayel, mesmo em meio a duros combates junto à linha que divide em dois
setores (como se fossem duas comunidades urbanas distintas) o leste e o oeste
de Beirute, dá uma certa esperança. Principalmente porque, além de contar com
representantes de praticamente todos os grupos em luta, é composto por
políticos experientes, muitos dos quais ex-primeiros-ministros, capacitados,
portanto, a conduzirem o barco libanês nesse momento decisivo da sua história.
Há, é claro, questões críticas, em que a
discordância é a principal característica. Não se pode negar, também, que o
governo de coalizão corre o risco de se esfacelar, mesmo antes de tomar em suas
mãos as rédeas da nação. Principalmente porque, muitos políticos escolhidos
ainda não foram sequer consultados, não dando, portanto, o seu sim.
Mas apenas o fato de terem os seus nomes lembrados
para a composição do gabinete já é um sintoma alentador. Representa o início do
desarmamento de espíritos, que pode (e deve) evoluir para o passo seguinte de
qualquer negociação, ou seja, a predisposição para a mútua colaboração.
Todos os homens de boa vontade no mundo (e,
acreditem, embora em pequeno número, eles ainda existem), cruzam os dedos, na
expectativa de que os libaneses, finalmente, tenham encontrado o caminho da
concórdia. E que, ao invés de disparos de metralhadoras, de mísseis e de
obuses, os líderes desse país sofrido, semidestruído e, atualmente, com poucas
perspectivas futuras, troquem apenas idéias, que possam conduzir essa
comunidade nacional à paz.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do
Correio Popular, em 1º de maio de 1984)
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