Monday, July 21, 2014

Primeiro passo para a paz


Pedro J. Bondaczuk


O antagonismo entre as facções em luta no Líbano está sendo muito difícil de ser contido. Afinal, são dez anos de hostilidades, que não se apagam da noite para o dia, como se meramente não tivessem existido.

Mas o gabinete formado pelo experiente político Rashid Karami, anunciado ontem, após exaustivas reuniões com o presidente Amin Gemayel, mesmo em meio a duros combates junto à linha que divide em dois setores (como se fossem duas comunidades urbanas distintas) o leste e o oeste de Beirute, dá uma certa esperança. Principalmente porque, além de contar com representantes de praticamente todos os grupos em luta, é composto por políticos experientes, muitos dos quais ex-primeiros-ministros, capacitados, portanto, a conduzirem o barco libanês nesse momento decisivo da sua história.

Há, é claro, questões críticas, em que a discordância é a principal característica. Não se pode negar, também, que o governo de coalizão corre o risco de se esfacelar, mesmo antes de tomar em suas mãos as rédeas da nação. Principalmente porque, muitos políticos escolhidos ainda não foram sequer consultados, não dando, portanto, o seu sim.

Mas apenas o fato de terem os seus nomes lembrados para a composição do gabinete já é um sintoma alentador. Representa o início do desarmamento de espíritos, que pode (e deve) evoluir para o passo seguinte de qualquer negociação, ou seja, a predisposição para a mútua colaboração.

Todos os homens de boa vontade no mundo (e, acreditem, embora em pequeno número, eles ainda existem), cruzam os dedos, na expectativa de que os libaneses, finalmente, tenham encontrado o caminho da concórdia. E que, ao invés de disparos de metralhadoras, de mísseis e de obuses, os líderes desse país sofrido, semidestruído e, atualmente, com poucas perspectivas futuras, troquem apenas idéias, que possam conduzir essa comunidade nacional à paz.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 1º de maio de 1984)


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