Saturday, July 19, 2014

Problemas que inibem produção em alta escala


Pedro J. Bondaczuk


A indústria de informática no Brasil, a despeito de dificuldades – algumas gerais, inerentes a vários outros setores (como a incerteza gerada pelo Plano Verão), e outras setoriais –, está avançando. É verdade que ainda falta muito para o computador, em especial o micro, ser um produto popularizado, ao alcance de qualquer cidadão médio.

Uma das dificuldades para isso é o seu preço. Nós mesmos, analisando isto, recentemente, atribuímos o fato à ausência de uma produção em escala. Todavia, um informe da Associação Brasileira da Indústria de Computadores e Periféricos, divulgado recentemente, mostra que a questão não é tão simples quanto se possa supor a princípio.

A Abicom revelou que está procedendo a um levantamento sobre custos, tendo já chegado a algumas conclusões. Uma delas é que os impostos chegam a representar quase 50% do seu faturamento. Ou seja, o governo acaba sendo o principal “sócio” das empresas.

Em 1988, por exemplo, de US$ 2,4 bilhões faturados, mais de US$ 1 bilhão foram destinados aos tributos. Assim não dá mesmo para tornar os produtos acessíveis a todos. Por outro lado, dois terços do custo da indústria de informática são provenientes da área eletrônica. Esta, aliás, sob o pretexto da promoção do desenvolvimento regional, está concentrada, em boa parte, na Zona Franca de Manaus.

Com isso, seus produtos acabam saindo caro, dado o fator transportes. Os componentes eletrônicos para computadores, por exemplo, chegam a custar de duas a oito vezes mais do que aquilo que é cobrado no mercado internacional.

Produzir em escala, nessas circunstâncias, chega a ser não somente uma grande dificuldade, mas até uma impossibilidade. Detectado o problema (pelo menos parte dele) é indispensável que se procurem soluções. Caso contrário, os produtos de informática “made in Brazil” jamais serão competitivos no Exterior, e nem internamente, assim que a lei de reserva de mercado for revogada (e um dia, fatalmente, ela será).

(Artigo meu, publicado sob pseudônimo na página 11, Editoria de Informática do Correio Popular, em 7 de abril de 1989).


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