Informação
é a “vacina”
Pedro J. Bondaczuk
A melhor arma para se combater a propagação da
mortal Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, a conhecida Aids, ainda é a
informação: correta, exata, sem subterfúgios ou preconceitos. É a exposição
franca sobre o que é a doença e quais são as formas de prevenir o contágio.
Campanhas na imprensa precisam ser contínuas e
competentemente postas em prática, pois a pandemia, que afeta, praticamente, o
mundo inteiro, evolui de forma assustadora no Brasil. Atualmente, o nosso país
é o quarto do Planeta em número de registros comprovados da moléstia.
E o diretor da Divisão de Aids do Ministério da
Saúde, Eduardo Cortes, alertou que teremos, até 1995, entre 100 mil e 150 mil
pessoas doentes, condenadas, irremediavelmente, a uma vida de sofrimentos, já
que o mal é incurável, posto que controlável mediante coquetel de medicamentos.
Além de tudo, apesar dos esforços e dos
investimentos feitos em todas as partes, nenhuma vacina ainda foi desenvolvida
para evitar o contágio. O caminho existente, portanto, é somente o da
prevenção. Cortes ressaltou que o Brasil “perdeu a oportunidade de controlar a
doença há cinco anos, quando eram reduzidos os casos”.
Não se investiu o quanto deveria para a
conscientização da população e para que se procedesse ao meticuloso exame do
sangue usado em transfusões. As conseqüências dessa omissão são, evidentemente,
funestas, para não dizer trágicas.
Um dos adversários do controle eficaz da Aids, em
todo o mundo, é o preconceito que cerca esse mal. Os soropositivos têm sido
postos de lado, como se um simples aperto de mão seus ou a simples presença
deles no mesmo recinto sejam suficientes para contagiar alguém. Evidentemente,
não são.
Isto torna-se mais perigoso pelo fato de levar os
doentes a esconderem o mal e aí sim serem um perigo para a comunidade , através
de contatos sexuais, já que a ocorrência da moléstia em mulheres e
heterossexuais vem se dando numa taxa 50% maior até do que entre os grupos de
risco tradicionais.
Cortes prometeu que o Ministério da Saúde vai
promover, agora, uma campanha contínua contra a Aids, e não mais esporádica,
como se verificou nos últimos tempos. Assinalou que ela não irá se restringir à
divulgação de como o vírus é transmitido, mas dará ênfase às conseqüências sociais,
econômicas e políticas da epidemia para o País.
Há quem encare, ainda, a doença com pouco caso.
Muitos sequer querem ouvir falar dela, mesmo não conhecendo nada a seu
respeito, confiantes de que não correm nenhum perigo de contágio quando, em
virtude do seu desconhecimento, são os que têm os riscos maiores. É
indispensável que a Aids não seja nem subestimada e nem superestimada, para não
despertar o pânico, o maior inimigo das soluções inteligentes.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 30 de agosto de 1990)
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