Futebol tem lógica?
Pedro
J. Bondaczuk
O futebol tem lógica?
Essa é a pergunta que mais tenho ouvido nesta época de Copa do Mundo, que já
apresentou várias surpresas, mas mostrou a prevalência de alguns favoritos de
sempre. Bem, nem todos tiveram o sucesso que deles se esperava. Os que tendem a
responder afirmativamente á pergunta, ou seja, que o futebol tem lógica, citam,
para corroborar sua convicção, o fato das oito seleções classificadas para as
quartas de final deste Mundial, sem nenhuma exceção, serem exatamente as que
terminaram na primeira colocação de seus respectivos grupos na fase de
classificação: Brasil, Holanda, Colômbia, Costa Rica, França, Alemanha,
Argentina e Bélgica.
Quer dizer, então, que
o futebol tem, mesmo, lógica? Espera lá, nem tanta! E nem sempre! Querem um
exemplo? Cito o óbvio. Quem, antes do início desta Copa, em sã consciência,
conseguiu prever a desclassificação precoce da Espanha, seleção que ainda é a
campeã mundial até que se apure sua sucessora? Alguém pode até ter acertado,
mas na base do puro palpite. Todavia, os que se dizem entendidos na matéria, ou
que assim se acham, foram unânimes em apontar os espanhóis como favoritíssimos
ao título. Sua eliminação precoce foi lógica? Se atentarmos para seu desempenho
em campo, sim. A tal da Fúria, ou “La Roja” como prefere ser chamada agora,
teve performances pífias, sobretudo no segundo tempo do jogo contra a Holanda e
na partida seguinte, contra o Chile.
Contudo, se
considerarmos seu potencial técnico, o talento de seus jogadores (que não pode
ser ignorado e nem negado) sua desclassificação foi sumamente ilógica. E o que
dizer da Costa Rica? Quem apostou em sua passagem de fase, em alguma das várias
casas de apostas mundo afora, sobretudo da Europa (e refiro-me aqui à sua ida
às oitavas de final), certamente embolsou uma pequena fortuna. E esta se
multiplicou, ainda mais, com a classificação costarriquenha para as quartas de
final. Há alguma lógica nisso? Bem, a exemplo da eliminação da Espanha, se for
considerado o desempenho em campo, sim. A seleção da Costa Rica fez por merecer
o que conseguiu. Porém, se forem levados em conta seu potencial técnico, seu
histórico e seu retrospecto, muito aquém dos seus três concorrentes no chamado
Grupo da Morte, todos eles com títulos mundiais, ou seja, Itália, Uruguai e
Inglaterra, não se pode dizer, sem forçar a barra, que tenha prevalecido a
lógica. Não prevaleceu.
Querem outro exemplo,
mas que não seja o de Copa do Mundo? Cito o caso do Fluminense. O tricolor
carioca foi o campeão brasileiro de 2012, com todos os méritos. Na competição
seguinte, a do ano passado, qual era a expectativa geral? Era a de que, no
mínimo, brigasse, até a última rodada, pelo bicampeonato. Isso, se houvesse
lógica inflexível no futebol. Mas o que, de fato, aconteceu? O mesmo time que
brilhou em 2012, foi rebaixado, no campo, para a Série B. O rebaixamento só não
se consumou por causa da polêmica e incompreensível bobagem dos dirigentes da
Portuguesa, que se utilizaram, sem a mínima necessidade ou vantagem, de um
jogador suspenso pela justiça desportiva (Heverton) em seu último jogo, contra
o Grêmio, no Canindé.
Considerando, apenas, o
desempenho em campo, o vexame do Fluminense foi lógico. Mas levando em conta
seu potencial técnico (e realidade financeira em relação à maioria dos seus
concorrentes), o que ocorreu com o clube das Laranjeiras foi para lá de
ilógico. Querem um último exemplo, entre os muitos que podem ser citados?
Quando o Campeonato Paulista de 2014 começou, quais eram os times apontados
como favoritos, principalmente após a metade dessa competição? Eram, pela ordem,
Santos e Palmeiras e, um tanto remotamente, o São Paulo. O todo poderoso
Corinthians estava mal e ninguém apostava nele. Mas, igualmente, nem de longe o
Ituano era mencionado entre os favoritos. Os prognósticos eram que, se o clube
interiorano escapasse do rebaixamento, já estaria no lucro. E o que aconteceu?
Nem é preciso repetir.
De novo, se for
considerado exclusivamente o desempenho em campó, houve lógica na conquista do
Ituano. Contudo, se a consideração for por qualquer outro parâmetro de avaliação
(como potencial técnico, poderio financeiro, força da torcida etc.etc.etc.), o
resultado final foi rigorosamente ilógico. O brasileiro até cunhou um termo
para caracterizar esses casos surpreendentes: “zebra”. Qual (ou quais) a
conclusão (ou conclusões) que se pode (ou que se podem) extrair do exposto? A
principal é que a lógica, e isso se houver, pelo menos no futebol, é relativa.
Não é, pois, nem remotamente, parecida com um teorema de matemática ou com
alguma lei da física, em que o resultado é sempre o mesmo, desde que ocorram
determinadas condições. Nesse apaixonante (e não raro, decepcionante) esporte
das multidões, sua ocorrência é relativíssima.
Caso se confrontem dois
times estratosfericamente distintos em qualidade, por exemplo, digamos o Cruzeiro,
que está voando no Brasileirão de 2014, e o Arranca Toco Futebol Clube, é
provável que em cem jogos, o esquadrão estrelado de Belo Horizonte vença
noventa e nove. Todavia, lá um belo dia, sabe-se lá por que, o cavalo pangaré
tem desempenho de puro sangue e... vence. Onde a lógica? Lógico seria o
Cruzeiro ganhar “sempre”. Posso até estar sofismando, mas creio que demonstrei
que o futebol não tem lógica. Não, pelo menos, a absoluta, que nos permita
prognosticar resultados sem a mais remota possibilidade de erro.
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