Os verdadeiros
defensores das liberdades individuais
Pedro J.
Bondaczuk
O jornalista britânico, David Blundy, tornou-se, ontem, em
San Salvador, mais uma vítima (das tantas que se registram pelo mundo afora) da
violência que periodicamente ceifa profissionais de imprensa dedicados, que
arriscam suas vidas para trazer a verdade à opinião pública.
Estima-se que, anualmente, uma
média de 200 repórteres encontre a morte no exercício do seu trabalho. Alguns
casos vêm a público pela dramaticidade que envolvem. Mas a grande maioria não é
sequer noticiada. Afinal, o papel do profissional de imprensa é o de reportar a
notícia e não o de ser o seu principal personagem.
Em 1974, todo o mundo pôde
assistir, chocado, o trabalho de um cinegrafista sueco, que registrou, com sua
câmera de vídeo, o momento do próprio assassinato, no centro de Santiago,
durante repressão policial a uma manifestação anti-Pinochet.
Em 1985, esse fato se repetiu com
um australiano, nas ruas de Bangkok, quando soldados do Exército tailandês
sufocaram uma tentativa de golpe de Estado. Mas os jornalistas, principalmente
correspondentes internacionais, estão sempre expostos ao perigo.
Quando conseguem escapar de balas
na Cisjordânia e Faixa de Gaza, apanham de chicote da polícia sul-africana, em
Joahannesburg; sofrem seqüestro em Beirute; saem ilesos ou feridos de atentados
terroristas praticados por narcotraficantes em Medellín; são espancados durante
alguma manifestação em Moscou ou em Praga; vão parar na prisão em Rangum,
capital de Myanmar, a antiga Birmânia e poderíamos desfiar uma interminável
relação de acontecimentos dramáticos em que repórteres acabaram sendo
agredidos, machucados ou ofendidos em sua integridade de uma forma ou de outra,
apenas por estarem cumprindo o seu dever. Ou seja, reportando fielmente os
fatos.
Isto, o trabalho do jornalista,
no entanto, não agrada aos prepotentes. Àqueles que fazem do engodo, da farsa,
da demagogia e da violência os instrumentos para a conquista e a manutenção do
poder. Ilegitimamente obtido, logicamente.
O grau de democracia de qualquer
sociedade mede-se pela liberdade da sua imprensa. Não é por acaso que, quando
ocorrem golpes de Estado, os primeiros locais a serem ocupados pelos asseclas
dos golpistas são as emissoras de rádio e de televisão e as redações de
jornais.
Mesmo nas mais férreas ditaduras,
no entanto, profissionais hábeis, pondo em risco suas próprias vidas, encontram
maneiras de fazer chegar ao seu público a verdade. Acham brechas para expressar
a realidade dos fatos. Conseguem enviar suas mensagens de esperança à
sociedade.
Enquanto houver gente como David
Blundy (e milhares e milhares de outros espalhados pelo mundo) teremos sempre a
garantia de que a tocha da liberdade jamais virá a ser apagada. O que já é,
inegavelmente, uma tranqüilidade...
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 18
de novembro de 1989)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
No comments:
Post a Comment