Principais estrelas da
Copa
Pedro
J. Bondaczuk
A Copa de 2014
caracteriza-se pela notável quantidade de gols marcados. No futuro, um
pesquisador mais desavisado, ao avaliar o histórico dessa competição, concluirá
que seu grande destaque foram os atacantes das 32 seleções participantes. Não
estará errado de todo. Afinal, há já vários Mundiais as redes não balançavam
tanto. Porém, por mais estranho que isso venha a soar daqui a alguns anos, os
que se destacaram, de fato, não foram os artilheiros, mas foram os goleiros.
“Mas como?!”, certamente perguntará, atônito, o eventual leitor do futuro, que
venha a ler esta minha observação.
Apesar da média
inusitada de gols, tivemos, somente, duas goleadas e nem tão contundentes
assim, não como algumas outras, ocorridas em Copas do Mundo anteriores. A maior
de todas foi a sofrida exatamente por quem não se imaginava que viesse a
sofrer. Foi a da seleção que veio ao Brasil para defender o título conquistado
na África do Sul. Ou seja, foi a então badalada Espanha. Os espanhóis estrearam
na competição levando na sacola acachapantes 5 a 1 da Holanda, num jogo em que
até saíram na frente no placar e em que fizeram um Primeiro Tempo muito bom.
Coisas do futebol. A segunda maior goleada de 2014 foi a aplicada pela Alemanha
sobre Portugal, de Cristiano Ronaldo, por 4 a 0.
Esses placares,
todavia, não se aproximaram nem de longe de históricas goleadas ocorridas em
outras Copas. Uma delas ocorreu em 1954, na Suíça. A vítima, naquela
oportunidade, por estranho que pareça, foi a seleção que na sequência se sagrou
campeã naquele ano. Foi a incrível vitória da Hungria, sobre a Alemanha, por 8
a 3. A “máquina” de fazer gols húngara contava com astros sensacionais, como
Puskas, Gento e tantos outros. Era favoritíssima ao título. Pois é, era. Na
final, cruzou com a mesma Alemanha, que havia goleado na fase classificatória,
mas... A Hungria foi derrotada, no jogo que não poderia perder. Em 2014, não
aconteceu nada disso. Para que o leitor tenha uma idéia, apenas nesse jogo de
1954 saíram mais gols (onze) do que todos os feitos pelo Brasil (dez) na atual
Copa.
Também não tivemos
nenhuma goleada nem de longe parecida com o 10 a 1 de 1982, na Espanha. E os
autores dessa façanha também foram os húngaros, que nem de longe tinham ainda
seleção remotamente parecida com a de 1954. A vítima da vez foi a fraquíssima
representação de El Salvador. O leitor mais perspicaz deve estar raciocinando:
“Ora, se mesmo sem ocorrerem goleadas exóticas, a média de gols em 2014 é das
mais altas da história, como se pode considerar os goleiros, e não os atacantes,
os personagens de destaque da competição?”. Pois foram eles. Aliás, se não
tivessem as brilhantes performances que tiveram, as redes seriam balançadas
muito mais vezes do que já foram.
Dos goleiros das 32
seleções, apenas o da Rússia, Akinfeev, destoou. Outros podem até ter falhado
em um gol ou outro (o que é questão de opinião), mas o russo foi o único a
sofrer um “frango” clássico, daqueles de ficarem marcados para sempre, no
empate da sua seleção com a da Coréia do Sul, por 1 a 1. Em contrapartida, tivemos
autênticos “paredões”, que se mostraram intransponíveis e que fizeram defesas
assombrosas, dessas tidas e havidas como impossíveis. Não dá, sequer, para
dizer qual foi o melhor da Copa. Não, pelo menos, consensualmente. Entre os
destaques, podemos citar, por exemplo, o alemão Manuel Neuer. Ou o
norte-americano Tim Howard, recordista de defesas decisivas da história das
copas. Ou o mexicano Ochoa. Ou o costarriquenho Navas. Ou o nigeriano Enyeama.
Ou o argelino Rais M’Boli. E podemos desfiar nome após nome, todos com grande
destaque e com atuações memoráveis.
Até goleiros
contestados pela imprensa dos respectivos países, como Romero, da Argentina, e
Júlio César, do Brasil, tiveram atuações muito além da média, da expectativa
depositada neles, garantindo vitórias para suas respectivas seleções. Como o
leitor pode ver, não há exagero algum em escolher atletas dessa posição como
destaques da Copa, Mesmo o espanhol Iker Casillas, autor de uma lambança
incrível que redundou num dos gols da Holanda, na histórica goleada de 5 a 1,
se destacou contra o Chile, com defesas fundamentais.
Tivemos, até mesmo,
coisas inusitadas, envolvendo goleiros. Uma delas foi a entrada do reserva
Krull, na Seleção da Holanda, que substituiu o titular Cilensem, no minuto
final da prorrogação, apenas para participar da decisão nas penalidades máximas
no jogo contra a surpreendente Costa Rica. Foi fato inédito em todas as copas
do mundo. E o goleirão holandês não decepcionou. Defendeu duas penalidades, as
que garantiram a classificação da sua seleção para as semifinais e se
consagrou. Por tudo isso, como não considerar os chamados “guarda-metas” os
personagens do Mundial de 2014, a despeito da excepcional média de gols
registrada? Futebol é, mesmo, um esporte estranho! E, também por essas
estranhezas, é tão apaixonante.
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