Tuesday, July 08, 2014

Principais estrelas da Copa

Pedro J. Bondaczuk

A Copa de 2014 caracteriza-se pela notável quantidade de gols marcados. No futuro, um pesquisador mais desavisado, ao avaliar o histórico dessa competição, concluirá que seu grande destaque foram os atacantes das 32 seleções participantes. Não estará errado de todo. Afinal, há já vários Mundiais as redes não balançavam tanto. Porém, por mais estranho que isso venha a soar daqui a alguns anos, os que se destacaram, de fato, não foram os artilheiros, mas foram os goleiros. “Mas como?!”, certamente perguntará, atônito, o eventual leitor do futuro, que venha a ler esta minha observação.

Apesar da média inusitada de gols, tivemos, somente, duas goleadas e nem tão contundentes assim, não como algumas outras, ocorridas em Copas do Mundo anteriores. A maior de todas foi a sofrida exatamente por quem não se imaginava que viesse a sofrer. Foi a da seleção que veio ao Brasil para defender o título conquistado na África do Sul. Ou seja, foi a então badalada Espanha. Os espanhóis estrearam na competição levando na sacola acachapantes 5 a 1 da Holanda, num jogo em que até saíram na frente no placar e em que fizeram um Primeiro Tempo muito bom. Coisas do futebol. A segunda maior goleada de 2014 foi a aplicada pela Alemanha sobre Portugal, de Cristiano Ronaldo, por 4 a 0.

Esses placares, todavia, não se aproximaram nem de longe de históricas goleadas ocorridas em outras Copas. Uma delas ocorreu em 1954, na Suíça. A vítima, naquela oportunidade, por estranho que pareça, foi a seleção que na sequência se sagrou campeã naquele ano. Foi a incrível vitória da Hungria, sobre a Alemanha, por 8 a 3. A “máquina” de fazer gols húngara contava com astros sensacionais, como Puskas, Gento e tantos outros. Era favoritíssima ao título. Pois é, era. Na final, cruzou com a mesma Alemanha, que havia goleado na fase classificatória, mas... A Hungria foi derrotada, no jogo que não poderia perder. Em 2014, não aconteceu nada disso. Para que o leitor tenha uma idéia, apenas nesse jogo de 1954 saíram mais gols (onze) do que todos os feitos pelo Brasil (dez) na atual Copa.

Também não tivemos nenhuma goleada nem de longe parecida com o 10 a 1 de 1982, na Espanha. E os autores dessa façanha também foram os húngaros, que nem de longe tinham ainda seleção remotamente parecida com a de 1954. A vítima da vez foi a fraquíssima representação de El Salvador. O leitor mais perspicaz deve estar raciocinando: “Ora, se mesmo sem ocorrerem goleadas exóticas, a média de gols em 2014 é das mais altas da história, como se pode considerar os goleiros, e não os atacantes, os personagens de destaque da competição?”. Pois foram eles. Aliás, se não tivessem as brilhantes performances que tiveram, as redes seriam balançadas muito mais vezes do que já foram.

Dos goleiros das 32 seleções, apenas o da Rússia, Akinfeev, destoou. Outros podem até ter falhado em um gol ou outro (o que é questão de opinião), mas o russo foi o único a sofrer um “frango” clássico, daqueles de ficarem marcados para sempre, no empate da sua seleção com a da Coréia do Sul, por 1 a 1. Em contrapartida, tivemos autênticos “paredões”, que se mostraram intransponíveis e que fizeram defesas assombrosas, dessas tidas e havidas como impossíveis. Não dá, sequer, para dizer qual foi o melhor da Copa. Não, pelo menos, consensualmente. Entre os destaques, podemos citar, por exemplo, o alemão Manuel Neuer. Ou o norte-americano Tim Howard, recordista de defesas decisivas da história das copas. Ou o mexicano Ochoa. Ou o costarriquenho Navas. Ou o nigeriano Enyeama. Ou o argelino Rais M’Boli. E podemos desfiar nome após nome, todos com grande destaque e com atuações memoráveis.

Até goleiros contestados pela imprensa dos respectivos países, como Romero, da Argentina, e Júlio César, do Brasil, tiveram atuações muito além da média, da expectativa depositada neles, garantindo vitórias para suas respectivas seleções. Como o leitor pode ver, não há exagero algum em escolher atletas dessa posição como destaques da Copa, Mesmo o espanhol Iker Casillas, autor de uma lambança incrível que redundou num dos gols da Holanda, na histórica goleada de 5 a 1, se destacou contra o Chile, com defesas fundamentais.

Tivemos, até mesmo, coisas inusitadas, envolvendo goleiros. Uma delas foi a entrada do reserva Krull, na Seleção da Holanda, que substituiu o titular Cilensem, no minuto final da prorrogação, apenas para participar da decisão nas penalidades máximas no jogo contra a surpreendente Costa Rica. Foi fato inédito em todas as copas do mundo. E o goleirão holandês não decepcionou. Defendeu duas penalidades, as que garantiram a classificação da sua seleção para as semifinais e se consagrou. Por tudo isso, como não considerar os chamados “guarda-metas” os personagens do Mundial de 2014, a despeito da excepcional média de gols registrada? Futebol é, mesmo, um esporte estranho! E, também por essas estranhezas, é tão apaixonante.

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