Wednesday, April 18, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Sempre a mesma coisa


Sempre a mesma coisa



Pedro J. Bondaczuk


As grandes cidades brasileiras, salvo raras e honrosas exceções, entre os inúmeros problemas que enfrentam no dia a dia, mas que invariavelmente acabam “empurrados com a barriga”, de uma administração para a outra, indefinidamente, vivem às voltas, a cada temporada de chuva, com a tragédia das enchentes. Estão nesse caso São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, e vai por aí afora. E as cheias, de ano para ano, tendem a ser cada vez mais catastróficas e traumatizantes, enquanto as promessas se renovam e as coisas continuam como sempre foram.

São, pois, “catástrofes anunciadas”, que poderiam e deveriam ser prevenidas, mas não são. Todos esperam que aconteçam, e sabem até qual é o período propício para sua ocorrência, mas evitar, que é bom, ninguém evita. As autoridades municipais conhecem, inclusive, os pontos críticos, e até “tentam” (ou dizem tentar) fazer alguma coisa para evitar prejuízos e não raro mortes, mas esbarram, invariavelmente, sempre no mesmo obstáculo: falta de verbas para obras importantes, como alargamento e desassoreamento de rios, retificação de córregos, construção de piscinões e limpeza de riachos, entre outras.

A população, convém destacar, pouco colabora para evitar essas ocorrências. Não evita, por exemplo, de jogar lixo nos locais críticos, e mesmo nas ruas das cidades, já que este, levado pelas enxurradas, invariavelmente provoca o entupimento de bocas de lobo e favorece as inundações.

Campinas, nesse contexto, não se constitui em exceção. Pelo contrário, faz parte da “regra” geral. E entre seus bairros mais afetados, está o Jardim Novo Taquaral, conforme mostrou oportuna reportagem da Folha do Taquaral, em sua última edição. Algumas medidas simples de prevenção, se adotadas, podem, senão evitar, pelo menos reduzir as proporções das enchentes. Que tal adotá-las?

Entre as recomendações da Defesa Civil, por exemplo, estão providências elementares, como manter livres as vielas, sem que se construa o que quer que seja nelas e sem que sirvam de depósitos de lixo, como ocorre em muitos casos, possibilitando adequado escoamento da água. Além disso, não devem ser feitas escavações e aterros de qualquer natureza, sem prévia consulta a um técnico. E nem é prudente a destruição da vegetação às margens de rios, córregos ou riachos. Nada disso, porém, é feito. E as consequências, todos sabem quais vão ser.

Tudo indica, a julgar pelo que aconteceu com as chuvas do último fim de semana, que o pesadelo das enchentes vai, mais uma vez, se repetir nesta temporada de chuvas. E que a população que mora nas áreas propensas a inundações pode se preparar, de novo, para mais prejuízos, como os do ano passado, os do retrasado, os do anterior, e os de uma década atrás. E tomara que os danos, se acontecerem de fato (e tudo indica que acontecerão), sejam apenas patrimoniais, não redundando em perdas de vidas, o que, infelizmente, convenhamos, não pode ser descartado.

Se a Prefeitura está sem verbas para tocar obras emergenciais, por que não convoca os campineiros para um mutirão destinado a prevenir os efeitos das chuvas? Por que não lançou campanha pelos órgãos de comunicação no sentido de conscientizar os moradores das áreas de risco da necessidade de manterem os leitos dos córregos e ribeirões desimpedidos de lixo, mato e entulho e as bocas de lobo limpas?

O Poder Público desperdiça tanto dinheiro em anúncios institucionais desnecessários (e muitas vezes até mesmo ilegais). Por que não usa a verba de publicidade de que dispõe para prevenir tragédias, mediante a mobilização dos cidadãos? É uma pergunta que fica, incomodamente, no ar.


(Editorial da Folha do Taquaral de 15 de fevereiro de 2003).


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