Sempre a mesma coisa
Pedro
J. Bondaczuk
As
grandes cidades brasileiras, salvo raras e honrosas exceções, entre
os inúmeros problemas que enfrentam no dia a dia, mas que
invariavelmente acabam “empurrados com a barriga”, de uma
administração para a outra, indefinidamente, vivem às voltas, a
cada temporada de chuva, com a tragédia das enchentes. Estão nesse
caso São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte,
Recife, e vai por aí afora. E as cheias, de ano para ano, tendem a
ser cada vez mais catastróficas e traumatizantes, enquanto as
promessas se renovam e as coisas continuam como sempre foram.
São,
pois, “catástrofes anunciadas”, que poderiam e deveriam ser
prevenidas, mas não são. Todos esperam que aconteçam, e sabem até
qual é o período propício para sua ocorrência, mas evitar, que é
bom, ninguém evita. As autoridades municipais conhecem, inclusive,
os pontos críticos, e até “tentam” (ou dizem tentar) fazer
alguma coisa para evitar prejuízos e não raro mortes, mas esbarram,
invariavelmente, sempre no mesmo obstáculo: falta de verbas para
obras importantes, como alargamento e desassoreamento de rios,
retificação de córregos, construção de piscinões e limpeza de
riachos, entre outras.
A
população, convém destacar, pouco colabora para evitar essas
ocorrências. Não evita, por exemplo, de jogar lixo nos locais
críticos, e mesmo nas ruas das cidades, já que este, levado pelas
enxurradas, invariavelmente provoca o entupimento de bocas de lobo e
favorece as inundações.
Campinas,
nesse contexto, não se constitui em exceção. Pelo contrário, faz
parte da “regra” geral. E entre seus bairros mais afetados, está
o Jardim Novo Taquaral, conforme mostrou oportuna reportagem da Folha
do Taquaral, em sua última edição. Algumas medidas simples
de prevenção, se adotadas, podem, senão evitar, pelo menos reduzir
as proporções das enchentes. Que tal adotá-las?
Entre
as recomendações da Defesa Civil, por exemplo, estão providências
elementares, como manter livres as vielas, sem que se construa o que
quer que seja nelas e sem que sirvam de depósitos de lixo, como
ocorre em muitos casos, possibilitando adequado escoamento da água.
Além disso, não devem ser feitas escavações e aterros de qualquer
natureza, sem prévia consulta a um técnico. E nem é prudente a
destruição da vegetação às margens de rios, córregos ou
riachos. Nada disso, porém, é feito. E as consequências, todos
sabem quais vão ser.
Tudo
indica, a julgar pelo que aconteceu com as chuvas do último fim de
semana, que o pesadelo das enchentes vai, mais uma vez, se repetir
nesta temporada de chuvas. E que a população que mora nas áreas
propensas a inundações pode se preparar, de novo, para mais
prejuízos, como os do ano passado, os do retrasado, os do anterior,
e os de uma década atrás. E tomara que os danos, se acontecerem de
fato (e tudo indica que acontecerão), sejam apenas patrimoniais, não
redundando em perdas de vidas, o que, infelizmente, convenhamos, não
pode ser descartado.
Se
a Prefeitura está sem verbas para tocar obras emergenciais, por que
não convoca os campineiros para um mutirão destinado a prevenir os
efeitos das chuvas? Por que não lançou campanha pelos órgãos de
comunicação no sentido de conscientizar os moradores das áreas de
risco da necessidade de manterem os leitos dos córregos e ribeirões
desimpedidos de lixo, mato e entulho e as bocas de lobo limpas?
O
Poder Público desperdiça tanto dinheiro em anúncios institucionais
desnecessários (e muitas vezes até mesmo ilegais). Por que não usa
a verba de publicidade de que dispõe para prevenir tragédias,
mediante a mobilização dos cidadãos? É uma pergunta que fica,
incomodamente, no ar.
(Editorial
da Folha do Taquaral de 15 de fevereiro de 2003).
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