Perspectiva
aterrorizante
Pedro
J. Bondaczuk
Se
o tema referente aos riscos para o Planeta advindos da depredação
do meio ambiente não é explorado como e quanto deveria pelos
escritores mundo afora, o mesmo não se pode dizer sobre o perigo
nuclear. Há uma profusão de ótimos livros a respeito, tanto de
ficção quanto de não-ficção e, portanto, quem não está bem
informado a propósito não pode culpar a falta de informações, mas
a própria ausência de vontade de se informar. Não mencionarei
nenhum, especificamente, porque isso se tornaria até redundante.
Em
16 de julho de 1945, às 5 horas, 29 minutos e 45 segundos da manhã,
uma bola de fogo gigantesca iluminou os céus de Trinity, localidade
desértica do Novo México, erguendo para o espaço um cogumelo de
milhares de metros de altura. Os seres humanos, naquele instante
fatídico, acabavam de abrir autêntica “Caixa de Pandora”,
aquele recipiente que na mitologia antiga guardava, em seu interior,
todos os bens e todos os males da Terra. Só que neste caso, havia,
somente, malefícios. Em 16 de julho de 1945 era testada, com
sucesso, a primeira bomba atômica.
De então a esta parte, muita água rolou por
baixo da ponte. Duas cidades foram destruídas em segundos com o uso
dessas armas, na maior carnificina já registrada na história contra
populações civis. O mundo já esteve “n” vezes na iminência da
destruição total, sendo a mais conhecida a do caso dos mísseis
soviéticos em Cuba. Há quem jure que naquela oportunidade escapamos
da destruição total por míseros dois minutos de reflexão dos
presidentes John Kennedy e Nikita Kruschev. A maioria das pessoas,
todavia, sequer se deu conta disso.
E hoje, as coisas estão melhores? Absolutamente
não! Estão muitíssimo piores e a imprensa silencia a respeito. Por
que? Mistério. A possibilidade de uma bomba atômica cair em mãos
de grupos terroristas, por exemplo, que não faz muito era
considerada remota e até mesmo impossível, hoje em dia é cada vez
mais provável. E a causa disso é muito simples. É a proliferação
de armamentos nucleares, ou da tecnologia apropriada para a sua
fabricação, em países instáveis, localizados no explosivo e
problemático Terceiro Mundo.
Quando
existia a União Soviética, embora as tensões ideológicas fossem
ameaças permanentes à sobrevivência humana, pelo menos era
possível de se saber em que mãos estavam as milhares de ogivas, de
ambos os lados. Com o fim do império comunista, não se tem mais
certeza de nada. Quem herdou o arsenal nuclear da antiga
superpotência euro-asiática? Foi a Rússia? As armas foram
divididas em outras Repúblicas, onde estavam baseadas? Em caso
afirmativo, o responsável (ou responsáveis) por sua guarda merece
(ou merecem) confiança?
A
verdade é que o que restou da URSS virou, hoje em dia, autêntico
“supermercado” de armas nucleares. Quem chegar a uma dessas
Repúblicas com dinheiro vivo na mão, leva. E não pensem que
terroristas que eventualmente adquirirem esses artefatos não os
utilizarão.
Vocês
acham, por exemplo, que pessoas do tipo das que amarram bombas ao
próprio corpo para praticarem atentados terroristas relutariam em
explodir uma arma nuclear? Claro que não! Tipos como os que
sequestram
aviões repletos de passageiros e os lançam contra prédios da
cidade mais populosa do mundo pensariam duas vezes para explodir o
mundo? Não, não e não.
Portanto,
a despeito do silêncio omisso e comprometedor da imprensa a esse
propósito, os riscos de ataques nucleares, mesmo que limitados, hoje
em dia, são muitíssimos maiores do que no período que ficou
conhecido como o de “guerra fria”.
Ademais,
mesmo a energia nuclear utilizada para fins pacíficos, tida e havida
como inesgotável manancial de progresso e de poder para quem a
detém, para a geração de eletricidade, apresenta uma série de
problemas de difícil solução, o que parece estar sendo desprezado,
em vez de resolvido.
O
da destinação dos dejetos não é, entre eles, o de menores
proporções. Os diversos países que utilizam, intensivamente, essa
fonte energética, como os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a França,
a Alemanha, a China e a Rússia, entre outros, não sabem o que fazer
com esse lixo tão peculiar.
A
maioria costuma guardar os resíduos em minas de sal abandonadas. Há
quem os coloque em cavernas, que são, posteriormente, hermeticamente
lacradas para impedir a radiação. Alguns, ainda, colocam o
plutônio, o cobalto, o amerício e sabe-se mais o quê, resultante
das diversas reações nucleares, em tambores de chumbo, vedados com
grossas camadas de concreto, que são jogados no fundo dos oceanos.
A
grande dificuldade apresentada por esses dejetos, todavia, é o
período de sua atividade e, portanto, periculosidade. Alguns têm
sobrevida ativa de 500 anos, ou seja, meio milênio. E à medida que
os reatores atômicos para a geração de eletricidade aumentam no
mundo (na França, a energia gerada por usinas desse tipo já
representa 63% do total), mais lixo é produzido. E maior fica sendo
o problema do que fazer com ele.
A
eliminação, pura e simples, como se faz com outros produtos
inúteis, é impossível. Ademais, o número de minas de sal
abandonadas, ou de cavernas subterrâneas inacessíveis, não é tão
grande a ponto de poder comportar uma acumulação indefinida dos
resíduos.
Eis,
portanto, a verdadeira “Caixa de Pandora”, aberta pelos homens na
primeira metade do século passado, que tem causado mais problemas do
que vantagens para a humanidade (além daqueles fartamente
conhecidos, representados pelas armas nucleares).
É
necessário, pois, que se dê atenção aos escritores, que se
debruçam com afinco e assiduidade sobre este tema que, por mais que
seja explorado, sempre apresenta novos ângulos a explorar, já que a
imprensa faz de conta que o perigo sequer existe, quanto mais que é
iminente, como de fato é.
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